Sorvete com bexigas: como criar uma estratégia de vendas

menino vende sorvete e inclui bexigas na estratégia de venda

Por Professor Paulo Sérgio

Quando eu era criança, morava com minha avó, dona Zifa. Isso se deve ao fato de minha mãe ter falecido quando eu tinha dez meses de vida. Com uma situação financeira bem precária, aprendi desde cedo o valor do trabalho. Dos cinco aos nove anos aproximadamente, já vendia todo tipo de material reciclável, frutas, verduras. Todavia, o que mais rendia, era a venda de sorvetes, que na minha região se chamava “dolé ou picolé”.

No período contrário da escola, eu saía com o carrinho de sorvetes e o “rifiri” (uma espécie de apito), anunciando por quilômetros a venda. Contudo, mesmo assim, em alguns períodos as vendas eram bem menores. Percebi então, instintivamente, que deveria agregar algo a mais no carrinho de sorvetes. Passei a pendurar no guidão, redes com laranjas e abacates, para diversificar o mix. A estratégia acabou dando certo, entretanto, embora as vendas de frutas tivessem aumentado, as de sorvete caíram.

Instintivamente, mais uma vez, resolvi investir em algo que atraísse as crianças, o que chamamos de público-alvo atualmente. E a nova estratégia foi pendurar bexigas no carrinho de sorvete, além de ter umas balinhas junto. Quem comprasse o mix todo, ou seja, sorvete e frutas, ganhava uma bala e uma bexiga. Se comprasse apenas um ou outro, ganhava só a bala. No fim das contas, as vendas deram um grande salto.

Isso eu conto nos eventos de vendas e motivação que realizo, porque, o que mais vejo, é vendedor, gerente, empresário, reclamando que não conseguem vender seus produtos. Se uma criança consegue criar uma estratégia de vendas, imagine o que um adulto pode fazer, se parar de dar desculpas e reclamar de alguma coisa?

Necessidade

Talvez você se pergunte: “mas como uma criança pode ter essas ideias, essa visão e atitudes?” Simples. Duas coisas foram fundamentais. A primeira, era a necessidade. Eu tinha de conseguir uma graninha extra, pois a situação era brava na época, e com a aposentadoria da vovó, não dava para comprar quase nada supérfluo, como um doce, iogurte, Coca-Cola. Por sorte, a maioria do material escolar a gente ganhava. Contudo, eu também usava parte do dinheiro das vendas, para comprar o que não recebia do governo.

A necessidade é vital para que as pessoas conquistem o que querem. Mas isso só acontece, quando a usamos para dar saltos, e não para nos afundarmos na condição de vítima do mundo, culpando a tudo e a todos pelas dificuldades que passamos.

Observo com tristeza, tantos pais colocando os filhos para pedirem dinheiro no sinal, que tenho vontade de sair do carro e conversar com esses pais. O problema é que quase nunca estão por perto, pois sabem que estão fazendo a coisa errada. Ninguém precisa pedir nada aos outros, a não ser oportunidade para trabalhar ou vender alguma coisa.

Portanto, a necessidade tem de servir para você saltar, e não para se afundar. E não precisa ser uma necessidade extrema. Todo tipo de necessidade tem de nos ajudar a irmos adiante, seja ela maior ou menor.

Metas de vida

E a segunda coisa é a que mais me motiva até hoje: metas de vida. Naquela época, eu andava sempre com Kichute ou Conga, dois modelos de tênis bem simples e baratinhos. E também vestia roupas doadas, ou do bazar do Davi, que era um brechó com roupas baratinhas, que vinham em fardos. Não era raro ter de vestir peças maiores, ou femininas, porque naquele fardo vinha de tudo um pouco.

Porém, meu sonho era comprar um Le-Cheval ou um Bamba, já que já eram tênis de marcas mais parecidos com o que é a Nike e a Adidas hoje em dia. Na realidade, eu nem sabia que existia Nike e Adidas naquele tempo, acho que por isso não sonhava com elas (risos).

As pessoas não batem metas de vendas, se não tiverem metas de vida. É uma perda de tempo patrões contratarem pessoas, treinarem técnicas de vendas, sem antes saberem se elas têm metas de vida, se querem dar uma vida melhor a si mesma e aos outros. E se elas não têm essas metas, a primeira coisa que o empresário, líder, precisa fazer, é ajudar elas a criarem isso, mudando a forma delas verem a vida no sentido material.

Acredite: tem gente que tudo o que sonha é em sentar debaixo de uma árvore, colocar o bonezinho nos olhos para não sofrer com a réstia do sol, e descansar, mesmo que não tenha trabalhado uma hora por dia. E mesmo quem trabalha bastante, nem sempre se dá conta de que está passando a vida sem sonhos. Apenas repete uma rotina de pagar as contas e se alimentar, e nem nota que poderia ter uma qualidade de vida melhor, se ganhassem um pouco mais.

Elas não sonham com uma casa própria, um carro, em ajudar alguém, dar uma bicicleta para o filho ou filha. Com isso, não quero dizer que estejam erradas, afinal, a vida é feita de escolhas. No entanto, se elas entram numa empresa sem metas de vida, como é que vão se doar por completo, para atingirem metas de vendas, que é o que o dono da empresa espera? Se elas não se empenham para criar ou atingir metas pessoais, porque fariam isso com as metas alheias?

Nesse contexto todo, eu aprendi esses dois maravilhosos aprendizados:

A necessidade tem de fazer você saltar em vez de afundar; quem não tem metas de vida, nunca vai bater metas de vendas.

Diplomas, boas experiências, currículo, tudo isso ajuda e geralmente é fundamental para se ter sucesso na vida e nas vendas. Entretanto, nada é mais forte do que saber se alavancar na necessidade, e ter metas de vidas. São essas as pessoas que mais se encontrarão com o sucesso e a felicidade plena.

Pare de reclamar, e vá pendurar algumas bexigas e frutas no seu carrinho de sorvetes. Isso representa sua empresa, seus produtos, suas atitudes em prol da sua carreira e do seu negócio. Não lamente, apenas faça alguma coisa, crie estratégias de vendas, de exposição, dê brindes aos seus clientes. Enfim, o que não resolve nada é reclamar e viver dando desculpas.

Forte abraço, fique com Deus, sucesso e felicidade sempre.

P.s.: Ah, eu comprei um Le-Cheval em 2017, quase 30 anos depois, mas foi por esquecimento mesmo… rs

Prof. Paulo Sérgio, empresário e palestrante. Saiba mais em: www.professorpaulosergio.com.br

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