A importância das diferenças – GV n302

Era uma vez um homem perdido no deserto, prestes a morrer de sede. De repente, ele encontrou uma velha cabana abandonada e, com dificuldade, acomodou-se numa pequena sombra. Passados alguns minutos, viu uma velha bomba d’água, bem enferrujada, a poucos metros de distância. Ele se arrastou até lá, começou a bombear, mas nada aconteceu. Então, o homem notou ao lado uma velha garrafa cheia d’água, com uma mensagem que dizia: “Você primeiro precisa preparar a bomba colocando nela toda a água desta garrafa. Por favor, encha novamente a garrafa antes de partir”.

 

Ele se viu num dilema. Despejar a água na velha bomba ou beber e desprezar a mensagem? Com muita relutância, despejou toda a água da garrafa na bomba. Começou a bombear e de repente um fio de água apareceu, depois um pequeno fluxo e finalmente uma água fresca e cristalina jorrou com abundância. Ele bebeu ansiosamente. Em seguida, voltou a encher a garrafa para o próximo viajante e acrescentou uma pequena nota na mensagem original: “Acredite, funciona!”.

 

Aquele homem no primeiro momento acreditou firmemente que a melhor coisa a fazer seria beber logo aquela água para que não morresse de sede. Mas resistiu bravamente e aceitou fazer algo completamente diferente do que tinha pensado e desejado. Muito provavelmente tomou essa decisão por imaginar que outras pessoas poderiam passar por ali, ou, numa visão mais negativa, que ele mesmo poderia precisar outra vez daquela bomba.

 

Na empresa, muitas vezes precisamos estar dispostos a fazer coisas diferentes das que queremos ou entendemos, em prol da organização. Afinal, se a companhia for bem, todos os funcionários ficarão bem. Aceitar as diferenças, sem dúvida, exige uma dose de altruísmo e uma boa porção de humildade. Mas, ainda que seja por egoísmo, é uma questão de inteligência.  

 

A mídia veiculou certa ocasião uma notícia muito interessante. Informava que jovens criminosos britânicos, após cumprir pena estabelecida pela justiça, voltavam ao convívio social com nomes diferentes. A troca de identidade era providenciada para que não houvesse discriminação por parte da população e para que os jovens não fossem condenados – dessa vez pelo preconceito. Enfim, recebiam uma nova chance de acertar o passo e crescer. Parece justo, pois o ser humano tem um senso de perdão um tanto estreito e dificilmente oferece oportunidade para quem já teve o nome anotado nos registros policiais. Com uma nova identidade, aqueles jovens tinham a possibilidade de voltar ao convívio social, encontrar emprego e ter uma vida digna.

 

Fazendo um paralelo com essa medida adotada pelas autoridades britânicas, os gestores das empresas – no caso, os juízes competentes para absolver ou demitir – deveriam se mostrar mais tolerantes com o desempenho dos subordinados, dando a eles mais chances de acertarem o passo na empresa. Por exemplo: transferir o colaborador para outro setor ou incumbi-lo de tarefas mais apropriadas a suas habilidades. Medidas como essas podem servir de estímulo para renovar a motivação e a confiança do funcionário. O gestor que faz a diferença sabe lidar com as distinções e limitações de seus empregados, ajudando e contribuindo na formação da identidade profissional de cada um.

 

Numa noite, um intelectual e um homem sábio passaram horas conversando. Assim que o Sol começou a mostrar os primeiros raios, o intelectual observou:

­­— Ah, que noite maravilhosa foi essa! Ficamos aqui sentados discutindo coisas importantes. Muito melhor que passar uma noite sozinho com meus livros.

 

E o sábio comentou:

­­— Pois achei a noite horrível. Foi uma perda total de tempo.

­­— Mas por quê? – perguntou o intelectual, surpreso.

­­— Durante todo o tempo, você tentou dizer algo que me agradasse e eu tentei lhe dar respostas que o deixassem contente. Em vez de encararmos nossas diferenças e compreendermos que só assim podemos evoluir, tentamos o tempo todo agradar um ao outro.

 

Essa história nos ensina que diferenças de pensamento são construtivas e devem ser enfrentadas. Se na empresa ficamos apenas concordando com tudo e tentando agradar um ao outro, ela pouco se desenvolverá e estará fadada ao fracasso. Estimule a discussão e a troca de ideias entre seus funcionários. Você perceberá rapidamente melhorias sendo introduzidas e gerando resultados para o seu negócio.

 

No trabalho, é comum o gestor fazer comparações entre funcionários e até mesmo obrigá-los a agir como ele. Isso é um grave erro de gestão. Conta-se que uma vez vários bichos decidiram fundar uma escola. Para isso, reuniram-se e começaram a escolher as disciplinas. O pássaro insistiu que houvesse aulas de voo. O esquilo achou que a subida perpendicular em árvores era fundamental. E o coelho queria de qualquer jeito que a corrida fosse inserida no currículo da escola. E assim foi feito. Incluíram tudo, mas cometeram um grande erro: insistiram que todos os bichos cursassem todos os cursos oferecidos.

 

O coelho foi magnífico na corrida, ninguém corria como ele, mas também queriam ensiná-lo a voar. Colocaram-no em cima de uma árvore, ele saltou lá de cima e não deu outra: quebrou as patas. O coelho não aprendeu a voar e ainda acabou sem poder correr também. O pássaro voava como nenhum outro, mas quando o obrigaram a cavar buracos como uma toupeira quebrou o bico e as asas. Resultado: depois não conseguiu mais voar tão bem nem cavar buracos.

 

De forma figurada, isso mostra o que às vezes acontece nas empresas. Como gestores, não podemos forçar as pessoas para que sejam parecidas conosco ou tenham nossas qualidades. Se agirmos assim, faremos elas sofrerem e, no fim de tudo, ainda poderão não ser o que queríamos que fossem. E ainda pior: poderão nem mais fazer o que antes faziam benfeito. Trabalhar em equipe e valorizar as pessoas é, antes de tudo, respeitar as diferenças.

 

Livro:O que podemos aprender com os gansos

Autor:Alexandre Rangel

Editora:Original

 

Colaboração:Marco Aurélio Marcondes

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