A promissora estratégia do cooperativismo

É cada vez maior o número de empresários do mesmo setor que se unem para usufruir de benefícios nas negociações de compra em grande escala, por meio de Cooperativas de Compras. Será essa uma tendência que veio para ficar?

Diante de um cenário em que é cada vez maior o número de cooperativas de compras atuando em diversos segmentos, o que pensar aquele empresário que não está, – pelo menos não até terminar a leitura desta matéria –, vinculado a nenhum grupo do mesmo setor que visa obter benefícios pelo alto volume de compras e assim, garantir uma margem de ganho melhor e a possibilidade de trabalhar com preços mais competitivos?

A passos largos

De acordo com levantamento realizado pela OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras, o sistema cooperativista no Brasil movimentava ao final dos anos 90, cerca de R$ 30 bilhões na economia, congregando perto de 4 milhões de associados. Já em dezembro de 2010, havia no País 6.652 cooperativas, contemplando aproximadamente 9.016.527 de associados e 298.182 empregados – dados que comprovam que o cooperativismo no País segue em ascensão, ilustra Fernando Mindlin Serson, mestre em Administração, professor de Marketing da FGV-EAESP, e sócio diretor da QUES –Qualidade e Excelência em Serviços, empresa de Consultoria especializada nas Áreas de Qualidade, Planejamento e Implementação de Estratégias de Marketing e de CRM.

Segundo ele, com a facilidade de acesso aos avanços tecnológicos, a possibilidade de interação – mesmo entre consumidores finais e empresas – a tendência é que esse crescimento se intensifique. No entanto, participar ou não de uma dada cooperativa é uma alternativa que deve ser contemplada por uma empresa, após avaliar detalhadamente os prós e contras da decisão. “Se a organização achar por bem não participar, ela pode ser prejudicada na questão de conseguir descontos em razão do volume de compras ou de serviços a serem contratados. Por outro lado, ao ser independente fica mais fácil ter as características e definições tanto de produtos quanto de serviços customizadas conforme as suas demandas. Se o volume de compras não é grande o suficiente e a empresa tem condições de aceitar os produtos e serviços oferecidos conforme o design e as características desses, ao participar da cooperativa essa empresa tem os seus custos reduzidos”, considera o especialista.

Diferencial competitivo das não cooperadas

Entretanto, as empresas que não são associadas a nenhuma cooperativa, embora possam ter menor poder de barganha, podem compensar tal fato desenvolvendo estratégias de relacionamento com os participantes da sua rede de suprimentos, a fim de não ficarem fora do mercado, orienta Serson. “Ao se estruturar e se organizar, podem denotar que a sua preocupação é com outros fatores que ela reputa serem mais relevantes ou importantes que o preço, tais como data de fornecimento, suporte e apoio numa eventual demanda de última hora, por exemplo. Neste caso, ela pode até estar perdendo num primeiro momento, mas, certamente, estará agregando valor a seu produto/serviço na percepção do cliente, logo, melhorando e agregando valor a si mesmo”, enfatiza.

Com a palavra, Carlos Zoppettic, presidente da Associação de Pizzarias Unidas

Não ter com quem trocar ideias sobre o segmento, com quem enfrentassem problemas comuns, debater soluções para tomada de decisões, dividir dúvidas sobre uma perspectiva do que acontecerá, dentre outros anseios, foi o que originou a ideia de criar a Associação de Pizzarias Unidas, relembra, Carlos Zoppettic, presidente da Associação que atua na Grande São Paulo, em Botucatu, Atibaia e Ribeirão Preto.

“Nosso objetivo era a busca de informações e representatividade para criar ferramentas de competitividade. Para tanto, fizemos reuniões por mais de dois anos, embora já tivéssemos algumas ações em conjunto de compras e aquisição de serviços. Ainda assim, a formalização é um passo muito difícil e que gera custos e compromissos mais intensos. Mas, posso afirmar que nosso processo de preparação foi gradual e lento, portanto, maduro e com sustentabilidade, tendo em vista que o mercado atual tende a ficar cada vez mais competitivo, profissionalizado, tecnológico, e mais adaptado às necessidades dos clientes. Pela facilidade do capital de investimento, a tendência é o crescimento das grandes redes, com isso a pequena empresa precisa se aliar e se juntar para compensar esta diferença. Portanto, eu diria que a estratégia primordial é se capacitar, e depois se organizar para saber onde atuar especificamente cada divisão da empresa, seja atendimento, operação de produção, logística e administrativa. Porque, apesar do mercado de refeição fora do lar já existir há muito tempo a economia brasileira não permitia o acesso tão fácil como hoje, ainda mais, acompanhado da concorrência”, aconselha.

Preparação e Planejamento

Por fim, Serson deixa algumas dicas que devem ser analisadas antes da tomada de decisão por aderir a uma Cooperativa de Compras:

– Verificar vantagens e desvantagens de se associar a uma cooperativa;

– Comparar os benefícios resultantes em todos os sentidos face aos ônus e obrigações associadas;

– Refletir como o fato do fornecedor enxerga ter agora não um cliente específico, com o qual ele já está acostumado e sabe lidar, mas uma cooperativa que o seu cliente tradicional já faz parte;

– Ponderar e decidir se vale a pena ser um cooperado;

– Em caso positivo, aderir à cooperativa e participar a título de experiência por um determinado prazo de tempo predefinido;

– Sendo satisfatória a experiência, se decide por continuar na cooperativa.

“No entanto, vale ressaltar que cada caso é um caso e como tal deve ser considerado de forma individual, conforme as suas características e peculiaridades. Não há receita de bolo ou solução geral que sirva para todos os setores em todos os caso e condições”, adverte e finaliza o especialista.

Vantagens e Desvantagens de uma Cooperativa

Vantagens

Desvantagens

Preços pagos mais baixos

Dificuldade de customização da demanda

Não necessidade de estoques altos

Entregas programadas

Poder de barganha na negociação

Preço unitário mais caro

Redução de custos em geral (infraestrutura, RH e operações)

Padronização do suprimento

Maior facilidade de troca / substituição em caso de insumos com defeito

Pode ser necessário trabalhar com estoques de insumos (pedido mínimo do fornecedor)

Fonte: Serson, F.M., 2013.

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