Carlos Alberto JĂșlio – Como ser um grande negociador

Por Carlos Alberto JĂșlio

Especialista lança livro sobre negociação contando os segredos dos grandes negociadores Comunicador carismĂĄtico, Carlos Alberto JĂșlio preside desde 2000 a HSM do Brasil, referĂȘncia mundial na ĂĄrea de formação e atualização de executivos. Anteriormente, ocupou a presidĂȘncia da Polaroid do Brasil. Apaixonado pelo ensino de administração de empresas, acumula os papĂ©is de professor universitĂĄrio e de palestrante hĂĄ mais de duas dĂ©cadas. Possui uma formação primorosa e lançou em 2002 seu primeiro livro: Reinventando – VocĂȘ Editora Campus. Agora, lança A Magia dos Grandes Negociadores – NegĂłcio Editora, uma ferramenta imprescindĂ­vel para quem deseja se tornar um bom vendedor, ou seja, aquele que negocia, conhece o mercado e assessora o cliente. Confira.

VendaMais – O que vem a ser a “Magia dos Negociadores”?

Carlos Alberto JĂșlio – O livro fala em “magia” e nĂŁo em “mĂĄgica”, atĂ© porque se hĂĄ uma coisa que nĂŁo Ă© recomendada Ă© a mĂĄgica ou truque, pois nos levam a relacionamentos de curto prazo. Vale dizer: sĂł freguĂȘs dĂĄ lucro, cliente nĂŁo.

VM – E o que Ă© o freguĂȘs?

CAJ – Aquele que volta e compra sempre. Imagine uma cidade como Rio ou SĂŁo Paulo. Quanto custa muitas vezes o deslocamento de uma equipe de vendas, visitando uma, duas, trĂȘs vezes para fazer a primeira venda? E se ele nĂŁo volta para comprar, principalmente quando se trata de contratos grandes, fatalmente vocĂȘ vai ter prejuĂ­zo. EntĂŁo, a “magia” na verdade Ă© o seguinte: “O que estĂĄ por trĂĄs daqueles negociadores (negociadores num termo mais genĂ©rico, pode ser comprador ou vendedor), que conseguem estabelecer o longo prazo? E nĂŁo ser aquele vendedor do passado, um cara chato, que vinha oferecer a vocĂȘ uma coisa que nĂŁo queria comprar?”. E aĂ­ nĂłs elencamos no livro dez regrinhas de ouro dos grandes negociadores.

VM – O senhor poderia citar pelo menos uma delas?

CAJ – A primeira, por exemplo, Ă© “afie os machados enquanto descansa”. Ela evoca uma pessoa que estĂĄ inserida no mundo do relacionamento, que esta informada, que quando nĂŁo estĂĄ trabalhando, ela estĂĄ de certa forma ligada a tudo que pode parecer acessĂłrio – como o vendedor de mĂłveis, que precisa entender um pouquinho de design, de interiores, de persianas, de cortinas, etc., pois o mĂłvel estĂĄ inserido num contexto maior, que Ă© o ambiente da casa ou do escritĂłrio.

VM – Qual a diferença entre “vender” e negociar”?

CAJ – Veja, por que Ă© que o livro fala de negociadores e nĂŁo de vendedores? Nenhum preconceito, atĂ© porque eu abro o livro dizendo que eu sou um vendedor. Na verdade, a venda Ă© a profissĂŁo, a atividade. E a negociação Ă© a tĂ©cnica. E o livro fala da tĂ©cnica. A negociação Ă© algo que estĂĄ alĂ©m da relação compra venda. NĂłs hoje negociamos no dia a dia com mulher, com marido, com filhos, com irmĂŁos. As negociaçÔes internas das empresas sĂŁo maiores do que as externas. O livro mostra como Ă© que vocĂȘ se posiciona numa negociação para criar um clima agradĂĄvel para o encontro. E o pressuposto bĂĄsico Ă© o seguinte: poder, numa negociação, tem quem possui a capacidade de ser “acreditado”. Quando vocĂȘ deixa eu decidir por vocĂȘ, eu gerei a credibilidade. E veja que isso nĂŁo Ă© manipular a negociação, porque se vocĂȘ manipula, as conseqĂŒĂȘncias sĂŁo nefastas.

VM – Por que o senhor considera que “o vendedor Ă© o segredo do sucesso de qualquer organização”?

CAJ – O vendedor, antigamente, era responsĂĄvel fundamentalmente pelo que a gente pode chamar de fluxo fĂ­sico da venda: eu vou, visito vocĂȘ, levo um catĂĄlogo, uma amostra do produto, tiro o pedido, vocĂȘ me paga e eu entrego o produto. Esse Ă© o vendedor clĂĄssico. SĂł que hoje o vendedor se tornou o maior elo de comunicação entre a empresa e o mercado. Da mesma forma, as equipes de venda de alta performance sĂŁo aquelas que ouvem a empresa e depois dizem: “Olha, estĂŁo pedindo para que se mude isso ou aquilo, etc.”. Veja que interessante: o vendedor, que era o responsĂĄvel pelo fluxo fĂ­sico da venda, hoje Ă© um profissional de comunicação, Ă© ele que comunica, que leva ao mercado o que a empresa deseja falar, e Ă© ele que traz do mercado as informaçÔes que a empresa precisa para desenvolver novos produtos, novos serviços.

VM – EntĂŁo esse “novo vendedor” tambĂ©m Ă© um pesquisador?

CAJ – A função da pesquisa Ă© informar o que o mercado quer. A informação das mĂ­dias Ă© comunicar ao mercado. Claro que Ă©, mas eu estou dizendo que a mĂ­dia primĂĄria Ă© o vendedor. Hoje o vendedor Ă© aquele que alĂ©m de conhecer o seu produto, conhece os concorrentes, o mercado, assessora o cliente, vende a marca dele e acaba se tornando um psicĂłlogo do cliente, um analista do cliente. EntĂŁo, a roda que movia a venda antigamente, agora mudou e se chama “relacionamento”. Eu costumo dizer que mesmo no business to business, no negĂłcio empresa-empresa, CNPJ nĂŁo compra de CNPJ. SĂŁo pessoas que compram de pessoas.

VM – Como Ă© possĂ­vel identificar diferentes perfis de clientes?

CAJ – Esse Ă© um trabalho muito legal, desenvolvido por vĂĄrios estudiosos do comportamento. Quando eu pego o modelo Myers Briggs e tento aplicar, resulto no seguinte: com duas variĂĄveis apenas, ou seja, se Ă© uma pessoa rĂĄpida ou lenta, se Ă© uma pessoa que lida mais com a razĂŁo ou com a emoção, quando vocĂȘ cruza essas duas variĂĄveis, ela dĂĄ a vocĂȘ uma indicação do comportamento predominante do perfil da pessoa. Vamos supor que vocĂȘ, no ambiente de trabalho, seja uma pessoa que age com a razĂŁo e Ă© extremamente rĂĄpida. VocĂȘ Ă© uma pessoa pragmĂĄtica. EntĂŁo, se eu cheguei no seu escritĂłrio e identifiquei que vocĂȘ Ă© uma pessoa pragmĂĄtica, vocĂȘ quer ser atendido rapidamente, nĂŁo quer muito blĂĄ blĂĄ blĂĄ e para eu ser um bom parceiro seu, ou um bom negociador para vocĂȘ, eu preciso ser assertivo e economizar o seu tempo.

VM – E se for rĂĄpido, mas lidar com a emoção?

CAJ – É o que eu chamo de expressivo. VocĂȘ tambĂ©m decide rapidamente, mas como Ă© mais baseado no relacionamento, o que vocĂȘ espera do seu parceiro? Que ele tenha uma abordagem fora dos negĂłcios, com uma visĂŁo mais ampla, que vai elogiar o seu grau de cultura geral, de formação, de paixĂŁo pelo esporte. Vou dar um exemplo: vocĂȘ estĂĄ na recepção do seu cliente. De repente, vĂȘ que ele entra e sai da sala dele, cumprimenta vocĂȘ e pede para aguardar. VocĂȘ fala: “Opa, esse aqui Ă© um cara rĂĄpido”. VocĂȘ pode atĂ© arriscar com a secretaria: “Moça, mas o Sr. Fulano de tal estĂĄ num dia agitado…” e ela vira para vocĂȘ e diz: “Ih, mas Ă© sempre assim. Hoje eh estĂĄ calmo”. EntĂŁo, vocĂȘ jĂĄ sabe, eliminou uma variĂĄvel. Para saber se lida com a razĂŁo, ao entrar na sala dele vocĂȘ vĂȘ uma mesa limpinha, sem nenhum papel pode apostar que Ă© um pragmĂĄtico. Ele quer assertividade. A mesma situação com o “expressivĂŁo”: vocĂȘ entra na sala, vĂȘ foto da famĂ­lia, taco de beisebol, foto dele com o PelĂ©, o que fazer? NĂŁo vĂĄ direto ao negĂłcio. Comece assim: “E aĂ­, Paulo, tudo bem. Puxa, que legal, vocĂȘ gosta de beisebol. Escuta, tem muito jogador de beisebol no Brasil?”. DaĂ­ ele vai lĂĄ, pega o taco de beisebol e começa a contar quando ele começou a jogar, etc. VocĂȘ nĂŁo estĂĄ manipulando, vocĂȘ estĂĄ ganhando confiança. Da mesma maneira, vocĂȘ tem aquele que Ă© lento e lida com a razĂŁo, o analĂ­tico. A proposta dele Ă© mais cheia, porque alĂ©m das respostas, ele quer mais informação, com tabelinhas, comparativos com os outros produtos. Ele adora esse tipo de coisa. E por fim, um que eu nĂŁo falei ainda, Ă© o afĂĄvel, que Ă© aquele “ombro amigo”, que divide tudo com vocĂȘ, que acredita nos seus conselhos, e esse Ă© o que vocĂȘ tem de se vigiar mais para jamais dar uma mancada com ele. Ele fica ofendido. DaĂ­ manda a secretĂĄria atendĂȘ-lo. É mais ou menos por aĂ­.

VM – Como o gerente pode despertar a “magia” dos negociadores em sua equipe de vendas?

CAJ – A primeira coisa Ă© contratar as pessoas certas. Antes vocĂȘ ia pela afinidade da pessoa com o produto. Agora nĂŁo, pois nĂłs estamos falando que a coisa mais importante Ă© a afinidade da pessoa com a pessoa. O segundo elemento Ă© o treinamento. NĂșmero trĂȘs, Ă© como eu retenho uma equipe que jĂĄ estĂĄ treinada e capacitada. Existe o componente salĂĄrio, mas tem uma coisa que eu aprendi com o Jack Welch: “o mais importante lidando com as pessoas Ă© desafiar e recompensar. E num terceiro plano, celebrar”. É vocĂȘ dizer que a pessoa pode fazer e desafiĂĄ-la a fazer.

VM – E qual a melhor forma de recompensĂĄ-la quando a meta Ă© atingida?

CAJ – Quando ela consegue, vocĂȘ vai lĂĄ e recompensa, seja financeiramente, mas tambĂ©m com um abraço. Celebrar as pequenas coisas tambĂ©m Ă© fundamental. A equipe tem de celebrar toda conquista (um novo cliente, nova conta, etc.). Isso faz parte do rito e do ritual do ser humano. Pode ser com champanhe ou na mĂĄquina do cafezinho. NĂŁo dĂĄ para deixar passar em branco. AtĂ© porque quando as coisas nĂŁo dĂŁo certo, vocĂȘ tambĂ©m nĂŁo deixa passar em branco. SĂł tem “autoridade” para punir, quem recompensa.

Para saber mais: A Magia dos Grandes Negociadores, de Carlos Alberto JĂșlio. (NegĂłcio Editora)

Nota da Editora – VocĂȘ pode ler esta entrevista na integra no site: www.vendamais.com.br. Vele conferir!

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