Comunicação ineficaz

Saiba o que um comunicado mal feito pode propiciar a um profissional e não deixe isso acontecer com você Há pouco tempo, uma grande organização emitiu o seguinte comunicado para os funcionários de sua unidade fabril, assinado pelo diretor: a partir desta data, o senhor Fulano assume a gerência do Departamento X. Ele é formado pela Universidade Y, com especialização em diversas áreas, ampla experiência no seu segmento de atuação, tendo passado por companhias de grande porte como Empresa I, Empresa II e Empresa III, e terá a missão de conduzir o departamento a partir de agora, além de dar continuidade a nossos desafios. Ao senhor Fulano, desejamos boas-vindas e sucesso em sua nova função.

Em princípio, tratando-se de comunicação corporativa, seria um comunicado normal e até mesmo recomendável se a direção da empresa tivesse encerrado a mensagem logo após encher a bola do novo executivo em quase dois terços da mensagem.

Entretanto, havia outro parágrafo completamente dispensável sob o ponto de vista da ética, considerando que o ex-colaborador mal havia sido comunicado sobre o fato: o senhor Beltrano deixa a empresa na mesma data. Agradecemos pelos bons serviços prestados durante o tempo que ocupou o cargo e desejamos boa sorte em seus futuros desafios.

Encerrava assim uma relação de duas décadas de trabalho, com um simples comunicado em que o parágrafo anterior enaltecia um desconhecido, em detrimento de outro, considerado um perfil de sucesso pelos colegas da unidade, exceto, naturalmente, pelo diretor que tomou a decisão de substituí-lo.

O empregado demitido merecia uma festa oficial de despedida, custeada pela empresa? Não. Uma saraivada de palmas ou uma chuva de foguetes? Não. Um prêmio de consolação pelo excelente desempenho durante o tempo em que atuou no cargo? Não.

Afinal, para quem o demitiu, ele estava sendo muito bem remunerado para a função. O que o colaborador merecia, então? Duas coisas extremamente simples e que, infelizmente, funcionam muito mais no discurso que na prática, em diversas empresas: respeito e consideração pelo ser humano.

O episódio citado trata de dois perfis distintos e muito comuns no mundo corporativo: um, o elo mais fraco da corrente, forte na defesa de suas convicções em razão da sua experiência profissional, do seu bom relacionamento com o mercado e dos excelentes resultados obtidos, e outro, o dono do poder, ansioso pela necessidade de mostrar quem é que manda antes que qualquer manifestação semelhante pudesse tomar maiores proporções.

Afinal, quem está certo? Possivelmente, nunca conheceremos as verdadeiras razões deles. Provavelmente, os dois estavam certos, cada um na sua perspectiva de avaliação.

Ocorre que, salvo raríssimas exceções, é mais fácil eliminar a resistência que negociar ou se adaptar a ela, principalmente quando representa ameaça, por experiência e desempenho, ao cargo do seu superior.

A questão central não é a demissão em si, algo que acontece naturalmente em todas as organizações do planeta, mas sim a forma como ocorre, em virtude da falta de tato ou ausência de sensibilidade de alguns líderes que enfrentam desafios como esse.

Um comunicado dessa natureza reflete certo desprezo pela dignidade humana e a dificuldade dos líderes em lidar com pessoas questionadoras ou resistentes. Geralmente, profissionais assim são considerados difíceis, independentemente do seu desempenho, que não conta num momento como esse.

Em pleno século 21, as empresas continuam estimulando e fazendo vista grossa para a liderança baseada no autoritarismo, nesse caso, com aval da área de Recursos Humanos que foi obrigada a atuar como DP, em vez de RH, e ainda assinou o comunicado para o seu próprio bem.

Embora os seres humanos tenham evoluído, boa parte ainda se julga no direito de tripudiar sobre a infelicidade alheia. Não existe nada mais insensato que ignorar a condição humana de alguém em posição inferior.

Como diria Kant, o grande filósofo alemão, ?quanto mais evoluídos se tornam os homens, mais atores eles se tornam?.

Um simples abraço e um sorriso hipócrita nunca esconderão a falsidade do seu oponente, portanto, se um dia lhe ocorrer algo semelhante, reze por ele e lembre-se da famosa afirmação de Jack Welch, ex-presidente da GE: ?Até um pé no traseiro te empurra para frente?.

Perca o emprego, mas não sua dignidade. Existem diversas empresas onde sua inteligência é imprescindível e seu registro não será apenas um número de série na rotina do Departamento de RH. Pense nisso e seja feliz!

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