De quantos tombos é feito o sucesso?

Por Luiz Carlos Tejon

Até que ponto você consegue se superar?

Aprenda a superar as dificuldades para conseguir o sucesso e espelhe-se em quem já levou muita “porrada” antes de atingir o ápice na carreira

O que parece pior para você: ouvir vários “nãos” em testes para ser jogador de futebol, sofrer um acidente e perder os movimentos da mão direita, perder a visão jogando futebol e ter de deixar de realizar um grande sonho ou, no auge da carreira como atleta, sofrer uma falta que faz romper o ligamento do joelho e ficar afastado dos gramados por quase um ano?

Grandes “porradas”, não é mesmo? A princípio, qualquer um desses acontecimentos, e vários outros golpes que a vida nos dá, podem parecer motivos para desistirmos de uma caminhada, para nos afastarmos do mundo e deixar de lado nossos sonhos e a possibilidade de uma vida feliz. Mas não foi isso que aconteceu com os personagens que originaram essas perguntas.

Eles deram a volta por cima

O garoto que não foi aceito em vários testes de futebol (nove vezes, mais precisamente) chama-se Marcos Evangelista de Morais. Depois de todas essas tentativas, ele resolveu continuar persistindo e tentar de novo. Na décima peneira, como são chamados os testes, ele foi aprovado, iniciando uma carreira de sucesso que teve seu auge em 2002, quando foi capitão da seleção brasileira de futebol que conquistou a taça de Campeão Mundial. Isso mesmo, o atleta que foi recusado em diversas peneiras de clubes de futebol é o Cafu.

O pianista João Carlos Martins foi quem perdeu os movimentos da mão direita. Ele, que precisava tanto daquele membro para executar as obras de Bach, seu maior ídolo, viu sua carreira quase ter um fim antecipado, pois era impossível imaginar um pianista sem a mão direita. No entanto, ele resolveu lutar para poder voltar a fazer o que amava e, depois de vários tratamentos, conseguiu recuperar parte dos movimentos.

Mas a vida reservou outra porrada para João Carlos. Com o decorrer dos anos, ele desenvolveu uma doença chamada Lesão por Esforço Repetitivo (LER), que causa o estresse dos nervos. Novamente, ele teve de parar de tocar e, dessa vez, achava que era para sempre. Quando já tinha desistido e iniciado uma nova carreira, percebeu que sua felicidade dependia do piano, por isso resolveu desenvolver um estilo próprio de tocar, utilizando apenas uma mão. Assim, conseguiu dar continuidade à brilhante carreira e, hoje, é um exemplo de superação, determinação e amor ao que faz.

O personagem da terceira pergunta que fizemos no início desta matéria é o italiano Andréa Bocceli. Quando era criança, ele tinha um sonho comum a muitos meninos: ser jogador de futebol. Apesar de saber que era portador de glaucoma congênito e que estava perdendo a visão progressivamente, Andréa decidiu insistir nesse sonho. Mas foi um acidente praticando o esporte que tanto amava que o fez ter certeza de que era preciso encontrar outro caminho. Aos 12 anos, depois de bater a cabeça jogando futebol, ele ficou completamente cego e, ao começar a pensar em um novo futuro, descobriu seu talento para a música. Hoje, ele é um tenor mundialmente reconhecido e admirado.

E o último personagem que levou uma grande porrada da vida e conseguiu superá-la é Ronaldo Luís Nazário de Lima, o Ronaldo Fenômeno. Durante sua carreira, três lesões o afastaram dos gramados por bastante tempo, mas ele não se deixou abater por isso e sempre conseguiu se recuperar e voltar a jogar o futebol que encantou a todos.

Todas essas histórias não foram contadas à toa. Elas carregam ingredientes fundamentais para quem quer alcançar o sucesso. Esses personagens se mostraram resilientes, motivados, com poder de superação, amor pela profissão e, acima de tudo, pela vida. Entretanto, pode ser que você pense que as vitórias desses profissionais aconteceram simplesmente porque eles são famosos e que, na vida real, as coisas não são tão simples assim. Mas é só conferir os dois próximos relatos, de pessoas não tão famosas assim, para ter certeza de que é possível, mesmo sendo “de carne e osso”, superar as porradas que a vida nos dá e alcançar o sucesso na carreira escolhida.

Exemplos da vida real

Aos quatro anos, José Luiz Megida Tejon, que hoje é publicitário, jornalista, especialista em marketing e liderança e mestre em educação, artes e história da cultura, teve seu rosto todo queimado em um acidente na cozinha de casa. Por isso, durante 14 anos, ele viveu de hospital em hospital fazendo cirurgias para tentar reconstruir a face, mas não foi nada fácil. Por vergonha de sua aparência, ele evitava aparecer em público e passava boa parte do tempo sozinho.

Na superação dessa crise pessoal, duas coisas foram muito importantes para Tejon: o carinho dos pais adotivos e as aulas de violão – e foi com a música que ele começou a dar a volta por cima. Ganhou prêmios por suas composições e passou a valorizar mais seu próprio talento. Depois disso, decidiu cursar duas faculdades: publicidade e jornalismo. A partir daí, sua carreira decolou, e o rosto marcado pelas cicatrizes deixou de ser um freio para seu sucesso.

Hoje, ele acredita que somos o resultado dos desafios que enfrentamos. “Todas as dificuldades ensinam. Elas mostram que é possível tirar o maior bem do maior mal. As dificuldades formam nosso caráter e ensinam que elas são normais, fazem parte da vida e estão presentes em tudo o que fazemos. Com o tempo, passamos a vê-las com normalidade”, declara.

 

Cabeça erguida – Os exemplos de quem soube tirar lições das adversidades não são poucos. Anderson Cavalcante também é um deles. Ele conta que nasceu em uma família pobre de dinheiro, mas muito rica de princípios. Para ajudar os pais com as despesas de casa, aos nove anos, Anderson já vendia geladinho (uma espécie de suco que é vendido dentro de um saquinho plástico) nas ruas de São Paulo. Na adolescência, passou a trabalhar numa feira e começou a guardar seu próprio dinheiro.

Aos 16 anos, virou office boy, conseguindo ter melhores condições de vida. Em pouco tempo, tornou-se gerente geral da empresa em que trabalhava e, a partir daí, sua carreira começou a decolar, mesmo enfrentando diversas dificuldades. “Aos 19 anos, com um espírito empreendedor aflorado, porém com poucos recursos, abri um comércio que faliu rapidamente”, conta. Mas ele não desistiu de lutar por seus sonhos. Com 21 anos, Anderson concluiu o curso de marketing e já começou a fazer a primeira especialização. Em pouco tempo, tornou-se executivo de uma empresa que vivia uma crise. Lá, teve a oportunidade de aprender sobre a essência humana e se desenvolver como profissional. “Aos 22 anos, me tornei empresário e comecei a andar com minhas próprias pernas”, conta.

Apesar de não ter enfrentado as mesmas dificuldades que Tejon, Cafu, Andréa, Ronaldo e João Carlos, Anderson batalhou para conseguir realizar seu sonho, ser um profissional excelente no que faz e ainda dar a sua família aquilo que tinha faltado anteriormente. Hoje, ele faz palestras motivacionais, tem cinco livros publicados e se dedica a mostrar pelo Brasil afora que é possível vencer as dificuldades e alcançar o sucesso. “Sou apaixonado pela alma humana, e busco contribuir com a minha verdade para que todos possam viver tudo aquilo que é essencial na vida”, completa. E, por todas as dificuldades financeiras que passou, Anderson dá muito valor ao que conquistou. Talvez, se tudo tivesse sido mais fácil, ele não estaria onde está.

O exemplo que vem do esporte

A melhor maneira de você entender que pode sobreviver às porradas que a vida lhe dá é conhecendo exemplos de quem já passou por momentos difíceis e hoje é vitorioso no que faz. E, no esporte, como você já deve ter percebido, é possível encontrar muitos modelos.

Há 30 anos, Evandro Mota desenvolve palestras de mobilização de grupo e treinamentos na área empresarial, educacional e esportiva. Já esteve em duas Copas do Mundo (1994 e 1998) com a seleção brasileira de futebol, trabalhou com equipes medalhistas olímpicas e times campeões brasileiros da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes. Atualmente, desenvolve esse trabalho no Internacional. Em todo esse período, ele presenciou histórias que foram marcadas por momentos difíceis e por superação, persistência e luta por objetivos. “Todo mundo só enxerga o grande campeão que foi o jogador de basquete Michael Jordan, mas nem sempre ele foi vitorioso. Michael conta que perdeu mais de 9 mil cestas durante sua carreira, saiu derrotado em quase 300 jogos e que seus colegas de time confiaram nele 26 vezes para marcar o ponto da vitória, e ele o perdeu. No entanto, para Michael, foram essas falhas que o fizeram um profissional bem-sucedido, pois ele soube aproveitar esses erros para se tornar um atleta melhor”, afirma.

Para Evandro, perseverança, determinação, equilíbrio, convicção nos seus princípios e crença na sua capacidade é o que você precisa para superar as dificuldades. “Se houver a possibilidade de envolver mais pessoas nesse projeto, melhor ainda, pois o alto desempenho, hoje em dia, está associado ao trabalho em equipe, em que percepções diferentes e conhecimentos e habilidades de outras pessoas se somam para vencer as adversidades”, aponta. Portanto, aí vai mais uma dica: não se isole quando a vida lhe der uma porrada. Procure o apoio de quem está próximo de você e seja como os grandes atletas que conseguem se tornar ainda melhores depois de uma “derrota”.

Aprenda com as porradas

Agora que você já entendeu que os momentos difíceis acontecem com qualquer profissional e que não é preciso ser famoso para superá-los, está na hora de aprender a dar porrada nessas porradas e a não desistir de seus objetivos.

E a primeira lição para que você consiga fazer isso vem de Roberto Shinyashiki, psiquiatra, escritor e conferencista. Para ele, os campeões nunca se importam muito em perder nem com o que perdem. “O campeão fica bravo com a derrota, com a dificuldade, mas levanta a cabeça para pensar no próximo desafio”, opina. Mas, antes de esquecer as dificuldades que enfrentou, aprenda com elas. “É possível aprender muita coisa com os momentos difíceis, principalmente a respeito de nós mesmos, sobre como somos capazes de superar as dificuldades. Nós não costumamos reconhecer nosso próprio potencial, mas, nos momentos difíceis, em que precisamos nos superar, começamos a entender o quanto somos superiores a qualquer dificuldade que possa aparecer. Enfrentar crises pessoais faz com que as pessoas desenvolvam seu autoconhecimento e entendam seu real potencial”, explica Gilberto Wiesel, pós-graduado em marketing e especialista em motivação.

Afinal, sucesso é levar porrada?

Mas será que, para alcançar o sucesso, é preciso sofrer, passar por momentos de muita dificuldade? Roberto Vieira Ribeiro, palestrante e consultor especialista em motivação, acredita que não é bem assim. Para ele, o objetivo de qualquer pessoa ao fazer algo é acertar, pois são os acertos que conduzem às vitórias. “Mas é verdade que os indivíduos mais bem-sucedidos são aqueles que costumam ter um número maior de derrotas em seu currículo, devido ao fato de eles serem os que mais se arriscam”, afirma.

Gilclér Regina, especialista em motivação, acrescenta o que acredita ser o problema nas dificuldades: “As adversidades são grandes universidades, e nunca são o real problema das pessoas. As atitudes que temos diante dessas dificuldades é que são os problemas. Não se conhece um campeão pelo tamanho do tombo, e sim por sua capacidade de levantar-se”.

Portanto, apesar de as porradas não serem absolutamente necessárias para o sucesso, pois existem pessoas que conseguem chegar lá sem muitas dificuldades, aprender a lidar com elas é fundamental se você quer ser um campeão. Então, não se deixe abater pelas adversidades inevitáveis da vida e vença.

Box

As dicas dos especialistas

Se você passa por um momento difícil e ainda não sabe como começar a reagir, confira as dicas preparadas pelos entrevistados desta matéria:

  • Antes de tudo, não se entregue – Aproveite o momento de dificuldade para se conhecer, saber quais são os erros que costuma cometer e pensar em maneiras de evitá-los no futuro.
  • Saiba que uma hora tudo melhora – Por isso, mantenha o otimismo e olhe sempre para frente, buscando o sucesso para o futuro.
  • Trabalhe – Não permita que um momento ruim faça com que você deixe de produzir. Aproveite esse período para produzir e fazer mais, além de desenvolver-se como profissional.
  • Encare as adversidades e derrotas momentâneas como oportunidades para o crescimento – A maneira como você enxerga a situação faz toda a diferença! Tire lições de cada porrada.
  • Mantenha o equilíbrio – Sem ele, sua percepção, intuição e energia ficam debilitadas, e isso reduz seu desempenho.
  • Pratique a humildade do aprendiz – Busque ajuda. Expor a sua ignorância o fará “bobo” por cinco minutos. Não expô-la, irá fazê-lo “bobo” para sempre. Você decide!
  • Espelhe-se sempre em exemplos inspiradores – Em todas as áreas, encontramos exemplos que nos dão dicas para acelerar nosso crescimento. Releia as histórias dos personagens desta matéria e coloque na sua cabeça que, assim como eles, você também vai superar suas dificuldades.

Para saber mais:

Livro: A grande virada: 50 regras de ouro para dar a volta por cima

Autor: José Luiz Tejon

Editora: Gente

Preço: R$ 29,90

Visite o site: www.tejon.com.br

Livro: Sempre em frente

Autor: Roberto Shinyashiki

Editora: Gente

Preço: R$ 21,90

Visite o site: www.shinyashiki.uol.com.br

Livro: Assim é que se faz: desenvolvimento pessoal e profissional

Autor: Roberto Vieira Ribeiro

Editora: Qualitymark

Preço: R$ 30,00

Visite o site: www.motivacaoeresultados.com.br

 

Livro: O que realmente importa?

Autor: Anderson Cavalcante

Editora: Gente

Preço: R$ 24,90

Visite o site: www.andersoncavalcante.com.br

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