Depois da tempestade ? Um guia para os desesperados

No filme Twister, estrelado pela atriz Helen Hunt e lançado nos Estados Unidos em 1996, o estado de Oklahoma é atingido por uma série de tornados das mais diversas intensidades. Há anos as tempestades não aconteciam na região, mas os ventos vindos do oeste prenunciavam a chegada de grandes tufões. Em meio ao risco, um grupo de cientistas desenvolve um equipamento capaz de prever, com antecedência, quando o furacão iria chegar e com qual intensidade. Depois de perigosas tentativas de lançar o dispositivo, os especialistas atingem o objetivo e passam a alertar os moradores sobre a chegada de novos tornados.

Qualquer semelhança entre a crise econômica mundial e o filme com uma tempestade de furacões não é coincidência. A cada semana, novos acontecimentos surgem ? como tornados ? e mudam totalmente o cenário da crise. Pacotes de ajuda econômica, diminuição das taxas de juro por todo o mundo e um esforço conjunto dos países para encarar o olho do ciclone. Se, no cinema, um equipamento foi capaz de prever a intensidade e a chegada de um tornado, na vida real essa é a missão dos analistas e estudiosos de economia. Diferentemente do filme, todos conseguiam prenunciar a chegada de uma crise, mas poucos arriscavam falar sobre a intensidade e os efeitos devastadores que ela poderia causar.

Em meio ao olho do furacão, a InvestMais ouviu os especialistas para saber: a tempestade já passou? O que sobrou do investidor depois de tanta turbulência no mercado financeiro e como agir daqui em diante? O resultado é um guia para quem já entrou ou está prestes a entrar em desespero. Confira o que esperar dos próximos movimentos da economia e como preservar seu dinheiro da crise.

CÉSAR TIBÚRCIO
Doutor em contabilidade pela USP. Professor titular da Universidade de Brasília ? UnB. Autor de livros na área de administração e contabilidade. Criador do blog
finançascomportamentais.blogspot.com

1. Quanto tempo vai levar a recuperação do mercado?
Toda reconstrução leva tempo, seja numa cidade destruída por um tornado ou na economia mundial. Mais que a demora para normalizar a situação, a crise trouxe indefinições. Para César Tibúrcio, o mercado vai demorar a recuperar o nível de crescimento dos últimos anos. ?Esqueça aplicações na bolsa hoje com retorno no mês seguinte. Estamos falando agora, mais que nunca, em investimento de longo prazo?, comenta.

2. Quem vai se recuperar primeiro?
De acordo com o especialista, as empresas que atuam com produtos de primeira necessidade, por exemplo, devem sair melhor que as que dependem de encomendas do mercado externo. As que costumam ser flexíveis também podem antecipar bastante a recuperação. ?Já empresas que dependem de commodities devem sofrer mais nos próximos anos, pois a recessão mundial reduzirá o preço desses produtos?, afirma César. Ele acredita que ainda não é possível prever como a crise afetará as empresas e alerta que o investidor precisa observar a probabilidade de sobrevivência da companhia à crise atual e tomar cuidado com aquelas mais sujeitas aos efeitos negativos. A dica é dar prioridade às mais conservadoras, que não especulam no mercado e seguem uma linha definida nas estratégias de crescimento e recuperação de negócios.

3. Entrei agora na bolsa, o que devo fazer?
O mais importante é escolher a empresa com calma e tomar uma decisão consciente. ?Procure verificar as ações que estão baratas no mercado. Apesar das críticas e dos problemas, índices como o P/L podem ser úteis nesse momento como um primeiro sinal?, comenta Tibúrcio. Ele alerta ainda para o fato de que as normas contábeis estão mudando, logo, é preciso tomar cuidado ao analisar os resultados financeiros da companhia.

4. Sou investidor, perdi dinheiro e não sei o que fazer.
César lembra a teoria da ?insistência irracional?, que é quando o investidor se apega ao investimento já realizado e insiste no erro. De acordo com o especialista, em tempos de crise, este comportamento pode levar o investidor a ter ainda mais prejuízo. ?Se hoje você fizer uma análise de sua carteira e ver que determinada ação não tem condições de retorno no médio prazo, encerre a posição e invista em outra ação?, comenta. Para ele, é mais vantajoso reconhecer o erro da compra mal feita agora para evitar perdas no futuro.


?Esqueça aplicações na bolsa hoje com retorno no mês seguinte. Estamos falando agora, mais do que nunca, em investimento de longo prazo? César Tibúrcio


MÁRCIA TOLOTTI
Psicanalista, psicóloga e MBA em marketing. Autora do livro As armadilhas do consumo, da Coleção Expo Money.

5. O que sobrou do investidor depois de tanta turbulência?
Ao falar sobre as consequências da crise, a psicanalista Márcia Tolotti divide os investidores em dois tipos: o bom aluno e o ?suposto investidor?. Para ela, quem fez a lição de casa corretamente não viu suas finanças ruírem. ?Esse investidor não se deixou levar pelos aspectos psicológicos e afetivos, controlou a ganância e realizou lucro?, comenta. De acordo com a especialista, quem não se apegou aos papéis e conseguiu sair de uma posição assim que o mercado deu sinais de queda não sofreu tanto. Já o outro perfil, que ela chama de ?suposto investidor?, é um mero jogador. Ao invés de ir ao cassino, foi à bolsa. ?Quando a motivação é a adrenalina do jogo, o investidor usa o mercado de ações como uma mesa de bilhar. Para esse sujeito, o estrago foi imenso?, afirma. Assim, de um lado sobrou um investidor mais saudável e maduro. De outro, um jogador que não mediu o risco e pagou o preço de agir inconsequentemente.

6. Devo me apegar ao que os especialistas dizem?
Para Márcia, transformar perdas em ganho é uma das maiores provas de crescimento que o investidor pode dar a si mesmo. Por isso, ouvir os especialistas é a melhor alternativa. Ela explica: ?A palavra apegar vem do latim ?appicare? e significa unir, juntar. Logo, agregar a opinião de um especialista ao estudo e acompanhamento do próprio investidor é uma alternativa fundamental?. Mas ela deixa claro que depender integralmente dos conselhos de alguém é extremamente nocivo, e chega a ser uma postura infantil. ?Acreditar que outra pessoa possa mostrar o caminho correto é ter uma postura infantilizada?. Por outro lado, seguir os passos dos mais experientes demonstra sabedoria.

7. Que rumo posso seguir daqui em diante?
A especialista cita a tradução do termo ?investir?, como: ?Entrar na posse, atirar-se com ímpeto?. Para ela, o segredo daqui em diante é apossar-se e atirar-se com ímpeto em um método que projeta o investidor das perdas. Esse procedimento, por sua vez, precisa ser construído levando-se em conta as motivações psicológicas e afetivas. ?Quando a motivação financeira está óbvia, as psicoafetivas são desconhecidas e ficam inconscientes. Por isso as interferências na economia podem provocar resultados dolorosos para o investidor?, finaliza.


?Quando a motivação é a adrenalina do jogo, o investidor usa o mercado de ações como uma mesa de bilhar. Para esse sujeito, o estrago é imenso? Márcia Tolotti


O que os investidores pensam?

A InvestMais também ouviu os leitores para saber qual estratégia de investimentos seguir daqui em diante. Agora que a tempestade parece ter acalmado, como eles direcionarão as aplicações e como reagirão às expectativas de melhora no mercado?

As respostas foram escolhidas pela equipe editorial da InvestMais. Os leitores Marco Bettega, Laurita Utrabo e Fernando Casarin tiveram os comentários escolhidos e ganharam o audiolivro A nova proposta de Warren Buffet. Confira as respostas e veja o que você pode aprender com eles:

?Como aplicador desde 2001, não me desfiz de meus papéis. Manterei minha carteira de ações em stand by, pois a volatilidade ainda é alta e não é possível ter certeza do valor real da maioria dos papéis. Prefiro proteger minhas economias, aguardando uma menor variação para voltar a comprar ações.?
Marco Bettega

?Conservarei minha carteira focada em papéis blue chips, utilizando meus dividendos para comprar mais dos mesmos papéis e melhorando os preços médios de compra nos momentos de volatilidade da bolsa. Também vou ficar atenta às oportunidades do mercado de small caps.?
Laurita Utrabo

?Comprarei mais, terei paciência e aguardarei o retorno, que deverá ser muito bom. O mercado sofreu uma grande desvalorização em decorrência da crise mundial e deixou muitos papéis com preços mais que interessantes. Agora, os requisitos básicos e primordiais são paciência e disciplina.?
Fernando Casarin

O que você pode aprender com a crise:

» Esqueça o retorno a curto prazo e mire os investimentos para o futuro.
» Empresas que fornecem produtos de primeira necessidade devem sair melhor da crise.
» Observe a probabilidade de sobrevivência à crise da companhia que você investe ou pensa em investir.
» Prefira as mais conservadoras, que não especulam e seguem uma estratégia definida.
» Fique atento ao índice P/L. Em tempos de crise, ele pode ser um bom indicativo.
» Evite insistir no erro. Se uma ação não tem condições de retorno no médio prazo, encerre a posição e vá em busca de outro papel.
» Reconheça o erro da compra mal feita e evite perdas no futuro.
» Siga os passos dos investidores mais experientes, mas não deixe ninguém decidir seus investimentos.
» Crie um método para preservar seu dinheiro. Use as ferramentas de análise técnica e equilibre seu lado emocional para identificar o quanto você é resistente ao risco.
» Diversifique seus investimentos. Invista na bolsa só o que ?pode? perder, ou o que não fará falta até ela se recuperar.
» Lembre dos setores seguros: energia elétrica, bancos e telecomunicações aparecem como os ?queridinhos? da bolsa em momentos de crise. O setor de alimentos também é citado como boa opção para investir.
» Seja um ?bom aluno? na bolsa. Estude o mercado e evite entrar no jogo para não se transformar em um ?suposto investidor?.
» Adicione à sua expectativa uma pequena dose de insegurança. Ela ajuda a tomar decisões mais racionais e conscientes na hora de investir.

Márcia Tolotti finaliza fazendo uma análise sobre a importância da insegurança em momentos de crise, pois é ela quem previne o investidor de tomar decisões irracionais. ?O grande desafio em momentos como este é manter o equilíbrio entre a incerteza, a expectativa, o medo e o desânimo. Uma pequena dose de dúvida aplaca qualquer angústia. Márcia comenta ainda a importância de confiar na experiência para ter sucesso no mercado financeiro: ?Ouvir um investidor mais tarimbado e com sucesso no mercado de capitais é um modo de lidar com seu dinheiro, mas não é a única forma. Estudar os gráficos, analisar os fundamentos, diversificar investimentos e confiar na própria intuição são balizas muito importantes para os investidores?, finaliza.

Colaboração: Paulo Motta

Quer assinar a revista InvestMais e começar a gerenciar seus investimentos com mais segurança e tranqüilidade? Clique aqui e assine agora mesmo.

Conteúdos Relacionados

Pin It on Pinterest

Rolar para cima