É crise mesmo, ou é seu dedo que está quebrado?

Num filme iraniano que vi há algum tempo atrás, um jovem desiludido quer se suicidar, já que a vida não tem sentido mesmo. É crise mesmo, ou é seu dedo que está quebrado?

Por Raúl Candeloro

Num filme iraniano que vi há algum tempo atrás, um jovem desiludido quer se suicidar, já que a vida não tem sentido mesmo. Um senhor mais sábio tenta lhe convencer do contrário, contando-lhe uma história:

Um dia um turco chegou para o médico (os iranianos brincam com os turcos assim como os brasileiros com os portugueses) e disse: ?Doutor, estou com um problema gravíssimo. Eu aperto minha testa com o dedo e dói. Eu aperto o braço com o dedo e dói. Aperto minha perna com o dedo e dói. Doutor, estou morrendo!?. O médico examina o paciente e diagnostica: ?Olha, fisicamente o senhor está perfeito. Não tem problema algum. O problema é que seu dedo está quebrado!?.

Se você ler os jornais de sempre e ficar assistindo o noticiário da TV todos os dias, verá o mundo através de uma ótica totalmente distorcida e desequilibrada. Jornalistas que se formaram em Jornalismo, nunca foram empresários, não entendem nada de Economia ou Administração, nunca tiveram que vender nada para viver, não têm funcionários, etc., dão-nos uma visão deturpada do mundo ? excessivamente pessimista e beirando a histeria, já que isso ajuda a vender mais exemplares e aumentar a audiência ? e o pior é que as pessoas médias parecem realmente gostar de uma desgraça.

Se os dólares saem do Brasil, é capa de jornal. Agora, se entram, vão lá para a vigésima quinta página. Aumentou o desemprego? Chamada na capa. Aumentou a renda média do brasileiro? Notinha de rodapé. E por aí vai. O Brasil está em crise desde que eu me conheço como gente. Quando não é a inflação é a bolsa, um país no Oriente, no Mercosul, o dólar, o petróleo, o bug do milênio, a eletricidade… sempre tem alguma desculpa para piorar tudo, para sermos pessimistas e reclamarmos de alguém ou alguma coisa.

Agora gostaria de fazer-lhe uma pergunta: você está em melhor ou pior situação que os seus pais estavam quando tinham a sua idade? Aposto que 99% das pessoas vai responder que está melhor ? é o resultado que tenho sempre que pergunto nas palestras.

Então que crise é essa, que a gente vai avançando – admito que aos trancos e barrancos ? mas vai? Tem mais: quem foi que falou que ia ser fácil? Por que é que você acha que existem mais de 200 países no mundo, mas na reunião de cúpula dos mais desenvolvidos só tem 7 ou 8? Por que você acha que míseros R$ 1800 por mês de salário já colocam um profissional entre a elite econômica brasileira?

É porque não é para qualquer um. Como em toda vitória, é preciso disciplina e sacrifício ? às vezes, por décadas, mesmo que pareça que o túnel não tem saída, ou que a derrota é iminente. ?No esta muerto quien pelea?, se diz em espanhol. Mas a maioria das pessoas desiste muito cedo, e depois reclama das pessoas que têm sucesso: ?que sortudo/sortuda…?.

Está na hora de pararmos de falar tanto em crise. Parece exagerado, mas pense bem: nunca, em toda a história brasileira, foi tão necessário que fôssemos os melhores profissionais que podemos ser. Mas com persistência, não como a seleção de futebol, que mescla momentos de genialidade com marasmo e desmotivação patéticos. Precisamos de genialidade com disciplina. Washington Irvine escreveu certa vez: ?Grandes mentes têm propósitos, o resto têm esperanças?. Levamos 500 anos para criar estes problemas ? não é em 10 que vamos resolvê-los.

Lembre-se que ? infelizmente com elevadíssima freqüência -, a segurança de um presente medíocre é uma armadilha mais confortável do que a aventura de ter (e ser) mais no futuro. Entretanto, nosso objetivo não deve ser ignorar os problemas da vida. Deve ser colocar-nos em melhor posição física, mental e emocional, onde possamos não apenas criar as soluções necessárias para nossos problemas, mas também ter condições de agir para resolvê-los.

Então, será que é crise mesmo, ou é falta de criatividade? Será que não é o dedo de algumas pessoas que está quebrado?

Frase: ?Na vida, ou encontramos um caminho, ou abrimos um? ? Aníbal

Raúl Candeloro é palestrante e editor da revista VendaMais, além de autor dos livros VendaMais, Correndo Pro Abraço e Criatividade em Vendas, e responsável pelo site VendaMais. Esse artigo fará parte do novo livro Olho do Tigre. Site: www.raulcandeloro.com.br

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