Equilibre suas finanças

Cuide bem de seu dinheiro e evite que sua carreira se desmorone

Como seria bom se conseguíssemos nos desligar dos problemas pessoais quando estivéssemos desenvolvendo nosso trabalho. Mas, na prática, isso não é fácil, principalmente quando falamos em dificuldades relacionadas à falta de dinheiro. Quem consegue trabalhar tranquilamente sabendo que está no limite do cheque especial, com dívidas e empréstimos? É bastante complicado, tanto que diversos estudos mostram que a produtividade no trabalho costuma diminuir quando as pessoas passam por problemas financeiros. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), em 2008, mostrou que há uma relação entre estresse financeiro e alguns indicadores de produtividade e planejamento financeiro dos funcionários. O fato é que, quando essas dificuldades afetam nossa produtividade, temos um problema maior: colocamos em risco nosso emprego – o que pode prejudicar ainda mais as finanças e o bem-estar de uma pessoa, gerando uma bola de neve na vida de qualquer um.

Prova disso é que muitas empresas já perceberam esse impacto e estão investindo em ações para ajudar seus funcionários a lidarem melhor com as finanças. Se sua companhia já tem alguma iniciativa nesse sentido, aproveite-a e, caso não tenha, sugira algo parecido. Mas, independentemente da ação de sua empresa, você precisa ser o primeiro a agir. Por isso, preparamos uma matéria a fim de ajudar as pessoas que estejam vivendo essa dificuldade e também para aqueles que ainda não passaram por essa situação, mas desejam saber o que fazer para evitar ainda mais as chances de ela acontecer!

Os primeiros passos

De acordo com Paulo Sain, um dos criadores do Minhas Economias, um site gratuito para aprendizado com educação e ferramentas para o controle financeiro, os impactos negativos no desempenho profissional causados por problemas financeiros podem ser relacionados em dois grupos: diretos e indiretos. “Dentre os diretos, as pessoas tendem a gastar parte de seu tempo no trabalho para resolver suas dificuldades financeiras, desviando o foco de suas atividades profissionais e, dentre os indiretos, podemos citar aqueles causados por problemas de saúde ou vício.

Alguns estudos mostram que as dificuldades financeiras acabam acarretando em piora na saúde do profissional e, em alguns casos, geram também dependência química, principalmente aquelas relacionadas a bebidas alcoólicas e antidepressivos. Outro impacto indireto é o aumento da irritabilidade, que prejudica o ambiente de trabalho. Geralmente, os problemas também resultam em brigas familiares, fazendo com que o indivíduo inicie o dia com os ânimos à flor da pele”, afirma.

Em outras palavras, independentemente de qual situação você esteja mais próximo, é importante procurar medidas para diminuir o impacto da falta de dinheiro em sua saúde, produtividade e bem-estar. Até porque como será que a companhia está vendo o que está acontecendo, qual será a reação dela em relação aos impactos diretos e indiretos sofridos por seus funcionários em função dos problemas financeiros?

Na opinião de Décio Kimura, também do Minhas Economias, o limite desse impacto dependerá do gerente, da cultura organizacional da empresa e da competência profissional do empregado. “Uma companhia séria deverá levar em conta o histórico da pessoa, seus comportamentos e conquistas antes dos problemas financeiros. Se esse histórico for positivo, não vale a pena perder um bom profissional devido a uma dificuldade que, a princípio, pode ser de curto prazo. Nesse caso, é muito mais sensato, tanto do ponto de vista econômico como do social, ajudar a pessoa, oferecendo assistência e aconselhamento para que ela possa superar suas dificuldades. No entanto, caso o histórico seja negativo, a queda de produtividade devido aos problemas financeiros pode ser um catalisador no processo de demissão. O empregado pode vir a ser demitido simplesmente pelo seu baixo desempenho profissional já demonstrado em seu histórico”, adverte.

Sendo assim, o primeiro passo é conversar com seu superior direto. “O colaborador precisa procurar seu chefe e, principalmente, a área de recursos humanos, visto que são mais preparados para orientar e promover ações que possam sanar o problema, mas é necessário que ele tenha atitude, assuma sua situação e, acima de tudo, queira resolver seu problema”, recomenda Reinaldo Domingos, criador da metodologia DiSOP (Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar), autor dos livros Terapia financeira e O menino do dinheiro, educador e terapeuta financeiro. Fazendo isso, a empresa ficará ciente de seu problema e perceberá sua disposição para resolvê-lo, além de sua preocupação para que isso não prejudique seu desempenho no trabalho. Depois dessa conversa franca com seus superiores, procure fazer seu planejamento para revolver a situação. Confira, a seguir, quais são as dicas dos especialistas em finanças sobre o que você deve fazer de acordo com a situação na qual se encontra.

O que fazer

De uma forma geral, podemos dizer que existem basicamente três situações em que as pessoas podem estar quando se fala em questão financeira. Segundo Domingos, essa divisão é bem clara: endividados, cujos rendimentos não são suficientes para pagar as contas mensais e ainda acumularam dívidas ao longo dos anos; equilibrados, pessoa ou família que ganha mil e gasta mil, mas enfrenta risco, pois é fácil ir para o estágio de endividamento; e investidores, aqueles que conseguem pagar as contas e ainda investir seu dinheiro. Para conhecer seu perfil, basta fazer o teste que se encontra disponível no site: www.disop.com.br, na área de simulações, e, em seguida, colocar em prática as ações de acordo com seu perfil.

A partir desses perfis básicos, podemos identificar qual deve ser o comportamento mais adequado. No caso de pessoas que conseguem administrar bem suas finanças e estão em uma situação tranquila, tanto os equilibrados financeiramente quanto os investidores, é importante lembrar que não podem se descuidar. “Toda atenção é pouca, é preciso ficar sempre atento, desenvolver hábitos e costumes que assegurem essa situação. Um bom conselho para continuar a desempenhar bem suas finanças é respeitar seu limite e padrão de vida. Crie, mantenha e amplie sua reserva de capital para garantir a tranquilidade financeira e melhorar o desempenho profissional e pessoal”, aconselha Domingos.

Já as pessoas que estão passando por dificuldades financeiras, mas ainda não estão em uma situação desesperadora, ou seja, perceberam que as receitas estão menores que as despesas, porém ainda não estão “desesperadas”, é importante parar e reorganizar as finanças e evitar que esse ligeiro desequilíbrio afete seu desempenho profissional. “Não dá para deixar para amanhã o que pode ser feito hoje, tenha a atitude de rever por inteiro seus valores, gastos e descobrir para onde está indo seu dinheiro. É bem possível que existam vários ‘ralos’ no que se refere a pequenos gastos – aqueles que não enxergamos, como: café, padaria, gorjetas, etc. É preciso também estabelecer prioridades. Não pense que esse momento passará sozinho, faça sua parte, isto é, não aja como se fosse uma ‘marolinha’, e sim como um eventual e grande problema futuro, encare de frente e elimine-o”, adverte Domingos.

E para aqueles que estão completamente envolvidos com problemas financeiros, como: dívidas, juros altos no cartão de crédito, cheque especial, entre outros, é necessário que busquem ajuda para resolver seus problemas e evitar que o estresse financeiro afete seu desempenho profissional. “Nesse caso, essas pessoas devem procurar os credores para renegociar suas dívidas, quitar as que possuem juros mais altos, fazer um controle financeiro a fim de verificar onde é possível cortar gastos ou vender bens que não sejam absolutamente necessários”, afirma Sain.

Erros a serem evitados

Ao organizar suas finanças, é necessário procurar aprender mais sobre o assunto e, em seguida, fazer um planejamento a fim de administrar corretamente seu dinheiro. Para isso, é importante escolher uma ferramenta, que pode ser desde uma simples planilha no Excel até programas mais elaborados – como as metodologias citadas nesta matéria: a DiSOP e o site Minhas Economias, que é gratuito. Mas também existem diversas outras, basta encontrar a que seja mais adequada à sua realidade e aplicá-la em seu dia a dia.

No entanto, há alguns erros básicos que as pessoas, em geral, cometem no controle de suas finanças, que podem ser evitados desde já. Para Paulo Sain, os indivíduos tendem a ser otimistas em relação ao futuro, acreditando que não só manterão seu emprego como também terão aumento de salário. E, quando isso acontece, a renda maior acarreta em gastos maiores, elevando cada vez mais seu padrão de vida. Assim, as pessoas acabam vivendo no limite de suas receitas e, em alguns casos, até acima. “O problema é que a vida está cheia de imprevistos e algum sempre acaba acontecendo e pegando você de surpresa. A parte mais dolorosa ocorre quando a pessoa precisa diminuir seu padrão de vida, mais difícil ainda é quando a família toda precisa fazer isso, o que acaba gerando conflitos familiares”, constata. Veja o que fazer para evitar essa situação:
 

  • Ao receber um aumento ou alguma renda extra, procure investir a maior parte desse recurso. Use apenas um pequeno montante para celebrar o feito e evite um crescimento expressivo no seu padrão de consumo.
  • Procure guardar uma reserva financeira para imprevistos.
  • Não deixe de fazer seguro para seus bens. Possuí-lo é uma forma de se prevenir contra imprevistos.
  • Se você não tem condições de viver apenas com a renda de seus investimentos, faça um seguro de vida. Não conte com a sorte.

Segundo Gustavo Cerbasi, outro erro comum é o desprezo por pequenos valores. No livro, Dinheiro: os segredos de quem tem, ele explica que você deve considerar, em sua planilha de controle orçamentário, todos os seus gastos, por menores que sejam. Aquele cafezinho depois do almoço, a gorjeta para o guardador de carros e, principalmente, todos os juros e multas que paga em cartão de crédito, cheque especial, empréstimos, contas atrasadas, etc. “Não saber aonde quer chegar também é uma grande falha. Por isso, é preciso planejar seus gastos mensais e anuais, quanto deseja economizar e investir”.

Invista em educação financeira

Independentemente de qual seja sua situação atual, a melhor coisa que qualquer indivíduo pode fazer é aprender a administrar melhor suas finanças – e isso é mais fácil e rápido do que as pessoas imaginam. Estudos do National Endowment for Financial Education (Nefe) mostram que apenas dez horas de educação financeira podem melhorar muito os hábitos de consumo e poupança dos trabalhadores.

Outro ponto que facilita esse aprendizado é a quantidade de informações disponíveis a respeito do assunto. Há um enorme número de livros e revistas especializadas sobre o tema, também é possível encontrar diversas informações de qualidade na internet, além de materiais esclarecedores em bancos, seguradoras, empresas de cartão de crédito e outras companhias que oferecem conteúdo de finanças em seus sites e locais físicos de atendimento.

Agora, quando as pessoas estão passando por uma situação muito difícil e percebem que não estão conseguindo resolver sozinhas, é necessário que busquem ajuda profissional e, embora encontrem muitas informações na internet ou em livros, como todo processo de aprendizado, o resultado será bem melhor se houver orientação e acompanhamento.

Existem consultores financeiros e empresas especializadas para isso, mas cuidado, Kimura traz um aviso importante: “Apesar de tentadores, fuja dos que oferecem soluções muito simples e rápidas, quase milagrosas, ou então respostas prontas e únicas para todas as situações. Essa é uma área em que as respostas deverão ser construídas de acordo com o momento de vida e objetivos de cada um”.

Kimura também reforça que educação financeira não é somente aprender a economizar, cortar gastos, poupar e acumular dinheiro, é muito mais que isso: “É buscar uma melhor qualidade de vida tanto atual quanto futuramente, proporcionando a segurança material necessária para aproveitar os prazeres da vida e, ao mesmo tempo, obter uma garantia para eventuais imprevistos. Enfim, é lidar com o dinheiro de modo consciente, conhecendo as implicações de suas decisões e tendo uma atitude equilibrada”.

6 dicas para a falta de dinheiro não prejudicar sua carreira

  1. Se estiver passando por grandes problemas financeiros, converse com seu gerente, ou RH da empresa onde trabalha, para informá-lo sobre sua situação.
  2. Busque informações a respeito de como fazer sua reorganização financeira e jamais deixe de aprender sobre educação em finanças.
  3. Planeje-se para identificar como reorganizar suas finanças, faça suas próprias planilhas ou procure ajuda especializada.
  4. Evite ao máximo ausentar-se de seu trabalho para resolver problemas financeiros, procure horários alternativos ou compense suas faltas.
  5. Esforce-se para garantir seu bom desempenho profissional durante o período de crise financeira, pois perder seu emprego será ainda mais prejudicial.
  6. Por mais estressado que esteja, evite entrar em conflitos com as pessoas em função de seu descontrole emocional.

Para saber mais:
Reinaldo Domingos – www.disop.com.br
Décio Kimura e Paulo Sain – www.minhaseconomias.com.br

Livro: Dinheiro: os segredos de quem tem
Autor: Gustavo Cerbasi
Editora: Gente

Livro: Descubra sua personalidade financeira
Autor: Jordan E. Goodman
Editora: BestSeller

Livro: Terapia financeira
Autor: Reinaldo Domingos
Editora: Gente

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