Eternit S.A.

Se você pensa em fazer o ?que der na telha? no mercado financeiro, atenção! Qual o material da telha que vai utilizar? Se acha que não faz diferença, está enganado. Veja por quê? A principal atividade da Eternit (ETER3) é fabricar e comercializar produtos de fibrocimento, concreto, cimento e gesso. A empresa está presente no Brasil desde 1940 e é líder no mercado nacional na fabricação de telhas e caixas-d?água de fibrocimento.

Inaugurada em 1992, a sede da Eternit está localizada em São Paulo, no bairro Pinheiros. As fábricas e filiais de vendas estão no Paraná, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia. No grupo, existem ainda a Divisão Wall, responsável pelas placas de drywall, situada em São Paulo, e as controladas Precon Goiás Industrial Ltda. e Sama Minerações Associadas S.A., ambas no estado de Goiás.

Nessas sedes, concentram-se mais de 1,4 mil colaboradores. A Eternit possui vários programas socioambientais que envolvem seus colaboradores e as comunidades próximas às suas unidades. E, por conseqüência, recebeu vários prêmios.

Além de oferecer aos clientes mais que uma linha ampla de produtos, a empresa desenvolveu parcerias com instituições de engenharia como forma de disponibilizar soluções completas a seus clientes. Apresentando projetos inovadores e soluções construtivas diferenciadas, ela oferece apoio seja no momento de definição e especificação do produto ou durante a obra ou pós-obra.

Em 2005, as ações da companhia passaram a ser negociadas no Nível 2 de Governança Corporativa. Em 2006, a empresa migrou para o Novo Mercado, nível mais alto de Governança Corporativa da Bovespa, evidenciando a preocupação com a transparência de sua gestão e números.

Considerando a liderança de mercado, quase sem concorrentes, a empresa viveria no melhor dos mundos. Não fosse um pequeno (ou, digamos, grande) problema: a questão levantada em relação ao uso do fibrocimento ? material que usa amianto como matéria-prima de seus produtos, que pode ser altamente agressivo à saúde, podendo causar problemas respiratórios (Saiba mais sobre esse material e sua utilização no fim desta matéria).

Em junho deste ano, suas ações tiveram uma maxidesvalorização. Na ocasião, a empresa se deparou com a decisão* do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender a liminar que anulava a lei (de 2001) contra o uso do amianto crisotila no estado de São Paulo. Em conseqüência, houve, no dia seguinte, depreciação das ações da empresa, da ordem de 35%, conforme gráfico a seguir, mesmo São Paulo sendo responsável por menos de 20% do consumo dos produtos da Eternit.

*NOTA: é importante ressaltar que a decisão do Plenário do STF se restringiu, exclusivamente, ao julgamento da liminar, não julgando a questão de utilização do amianto crisotila.

Fonte: www.eternit.com.br/ri ? gráficos em 17/09/2008.

Agora, há cinco estados com leis contra o uso do amianto: São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Do material disponível, é possível depreender que os problemas de saúde não advêm do fato de ter uma casa coberta por telhas de fibrocimento ou armazenar água em caixas desse produto. Os principais alvos de discussão são o manuseio da forma bruta do amianto e o que fazer com seus resíduos.

O uso do amianto no mundo faz parte de uma batalha que parece interminável. De um lado, a indústria, que ainda não descobriu uma matéria substituta de igual qualidade, considerando a eficiência como isolante térmico (pode encapar ponta de mísseis), baixo custo e disponibilidade de matéria-prima. Do outro, ambientalistas, ONGs e empresas, com interesse em fabricar esse material substituto, como fibras de plásticos e vegetais, bombardeiam o uso do amianto com estudos e pesquisas alarmantes. Com isso, 38 países já baniram o uso desse mineral.

Os números da ETER3

A Eternit é uma das maiores pagadoras de dividendos da Bovespa, distribuindo cerca de 90% do seu lucro líquido para os investidores. O capital da empresa é totalmente pulverizado. Em 29/08/2008, a companhia tinha aproximadamente 8,7 mil acionistas, sendo 57% PF, 8% PJ, 29% acionistas através de clubes de investimentos, fundos e fundações e 6% residentes no exterior. Nessa data, o free float era de aproximadamente 88%.

Fonte: www.eternit.com.br/ri ? Estrutura acionária, em 17/09/2008 (atualização em 29/08/08).

Segundo Élio A. Martins, presidente e também diretor de RI da Eternit, o maior poder aquisitivo da população e aumento da classe C são fatores que têm contribuído para o crescimento da Eternit, pois 2/3 das vendas são direcionados para as classes C e D. No primeiro semestre de 2008, a companhia registrou crescimento de 25% no volume de vendas de produtos acabados quando comparado com o mesmo período do ano anterior.

Confira estes números do fechamento do segundo semestre de 2008 quando comparados ao mesmo período de 2007:

Receita líquida + 43,4%
Lucro líquido + 208,7%
EBITDA + 105%
Vendas do amianto crisotila* + 9,4%
*mesmo com a proibição em junho 08 no estado de São Paulo

Os resultados apresentados pela empresa no segundo semestre deste ano foram excelentes, mas o valor das ações não acompanhou essa realidade, uma vez que a questão da utilização de amianto em seus produtos e o temor da proibição definitiva de seu uso em todo o País está ?segurando? seu valor em baixa.

Segundo Martins, o mercado da construção civil permanece aquecido e a demanda por produtos de fibrocimento permite que a companhia opere em capacidade máxima. No entanto, ressalta dois aspectos que podem influenciar a trajetória de valorização:

1. o mercado de capitais está muito volátil;
2. a questão jurídica do amianto crisotila no Brasil.

No segmento de fibrocimento, a Eternit é a única empresa com capital aberto, já no da construção civil não. Seu principal concorrente é a Brasilit, que não usa mais o amianto na fabricação de seus produtos. Mas, desde que passou a usar a fibra sintética, sofreu constantes prejuízos, uma vez que esse material é mais caro e dificilmente pode ser repassado ao preço final do produto acabado.

A empresa encerrou o ano de 2007 com market share de 28%, hoje está próximo de 30%, e o diretor faz questão de afirmar que com mais de 68 anos de experiência, um portfólio diversificado de produtos e soluções para a construção civil, cinco fábricas localizadas estrategicamente em quatro estados, cerca de 10 mil pontos-de-venda e sustentada pela força de sua marca, a Eternit está preparada para capitalizar as oportunidades surgidas com o bom momento do setor de construção civil.

E a empresa quer crescer. Em abril de 2008, foi lançada uma nova linha de produção na unidade de Goiânia que aumenta a capacidade da fábrica de 14 mil toneladas mensais para 24 mil. Uma nova linha de produção de mesma dimensão está em projeto para entrar em operação no início de 2009 na unidade de Colombo, Paraná. Esses investimentos deram continuidade ao Programa Estruturado de Expansão e Diversificação anunciado no começo de 2008, que busca elevar o faturamento da companhia para R$1 bilhão até 2011, o que significa dobrar o faturamento atual.

Quando questionados sobre a possibilidade de outros estados também proibirem o uso do amianto, a empresa diz que já tem planos e estuda outras estratégias para usar outro tipo de material na sua linha de produção. Ainda assim, muitas pessoas do mercado financeiro acreditam que a Eternit tem demorado muito para apresentar um ?plano B? e pode seguir os passos de outras empresas que também escolheram o árduo caminho de se agarrarem a um produto em extinção, dificultando qualquer possibilidade de recuperação.

Além disso, se for obrigatória a troca da matéria-prima, o projeto de expansão que antes não afetaria o elevado ritmo de pagamento de dividendos da empresa, poderá comprometer a remuneração do acionista.

O que nos parece é que a Eternit está tratando o problema do amianto de forma paralela às suas estratégias e gestão de negócio. Enquanto o caso do amianto rola (ou desenrola), a empresa continua crescendo, vendendo e a expectativa é de que a demanda na construção civil se mantenha aquecida.

O que conta agora é que, independentemente da capacidade gerencial da Eternit e do seu constante crescimento, os investidores da ETER3 estão na mão de uma legislação que pode mudar a qualquer momento. Fica a dúvida: se o uso do amianto continuar legal nos outros estados, as chances da Eternit se valorizar são muito altas. Caso o uso do amianto seja vetado em todo o País, a empresa certamente enfrentará grandes desafios, tendo de rapidamente usar um substituto da fibra, aumentando seus preços e perdendo a vantagem competitiva que tem hoje. Um risco alto para o investidor.

Apesar dessas expectativas, os dirigentes estão ? obviamente ? otimistas. Eles contam com a capacidade produtiva e a grande força da marca Eternit para ajudá-los a superar todos esses obstáculos.

Consultados, os analistas de mercado, embora listados no site da companhia como especialistas no título ETER3, não se manifestaram até o fechamento desta matéria.

Um pouco mais sobre o amianto

O amianto é uma fibra mineral natural encontrada em abundância no solo e na água de todo o planeta, até mesmo em rios, lagos e na neve. Esse mineral é muito utilizado na construção civil devido ao fato de possuir ótimas características, por exemplo: não queima ou corrói, tem excelente resistência, boa capacidade isolante e é muito durável e flexível.

O uso do amianto é muito antigo ? acredita-se que o homem primitivo já o usava. Mas foi em 1895 que descobriu-se o fibrocimento, uma mistura de cimento, amianto e água. A participação do amianto no fibrocimento é menor que 10% e, nessa mistura, as fibras do amianto ficam tão perfeitamente incrustadas na massa que dificilmente se desprendem.

Anualmente, cerca de dois milhões de toneladas de amianto são consumidas no mundo, usada principalmente na composição do fibrocimento que, por sua vez, é particularmente usado na construção civil.

Existem dois tipos de amianto: crisotila e anfibólio. O amianto anfibólio possui fibras duras, retas e pontiagudas, além de possuir altas concentrações de ferro em sua composição e, quando inaladas, ficam mais de um ano no pulmão. Já o amianto crisotila possui fibras curvas, flexíveis e sedosas, tem altas concentrações de magnésio e suas fibras ficam no máximo dois dias e meio no pulmão.

A Eternit usa apenas o amianto do tipo crisotila, também conhecido como amianto branco ? o Brasil é o terceiro maior produtor mundial ?, sendo que seu uso, fabricação, comércio e transporte são regulamentados no País por Lei Federal. Essa legislação aprova o uso controlado e responsável do amianto crisotila e proíbe o uso do amianto anfibólio, que não é usado pela Eternit.

A companhia ainda faz constantes comunicados ao público sobre essa regulamentação do uso do amianto. Como o assunto sempre gera polêmica, a empresa tem uma grande preocupação com a segurança dos seus trabalhadores, sempre impondo formas seguras e controladas para o trabalho.

É verdade que o uso do outro tipo de amianto, o anfibólio, gerou diversos malefícios à saúde dos trabalhadores há muitos anos, principalmente na Europa e no Japão, onde era largamente utilizado sem conhecimento sobre os danos provocados. No Brasil, até início dos anos 80, o amianto representava riscos, uma vez que não havia controle seguro sobre a atividade de extração. Depois desse período, porém, a Sama ? uma das três maiores indústrias produtoras do mundo (controlada pelo grupo Eternit) que só trabalha com o crisotila ? adotou ações e sistemas que zeraram qualquer possibilidade de riscos à saúde do trabalhador.

Diversas ações já foram movidas contra a empresa alegando o malefício do amianto crisotila, mas a própria Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI) aprova o uso desse tipo de amianto.

A empresa não registrou nenhum caso de disfunção respiratória entre seus colaboradores ? a partir da década de 80, quando o uso do outro tipo de amianto foi proibido. Também não há registro na literatura médica e científica nem na Organização Mundial da Saúde de que a população brasileira tenha contraído qualquer doença em função do uso de telhas e caixas-d´água de fibrocimento. Esse fato está em constante estudo por universidades e diversas instituições nacionais e internacionais.

Élio A. Martins reforça sua ?crença na Justiça brasileira e entende que o Supremo Tribunal Federal irá considerar as evidências técnicas e científicas para julgamento de mérito da questão, não sendo suscetível a pressões de grupos favoráveis ao banimento do amianto crisotila, com base na experiência européia que utilizou o outro tipo de amianto (anfibólio) sem os cuidados necessários?.

Coluna Small Caps

A empresa Eternit S.A. intensificou o crescimento no ano de 2008, impulsionada pelo aquecimento da construção civil no País. A receita líquida consolidada do primeiro semestre de 2008 atingiu R$255,4 milhões, um incremento de 31,8% diante dos R$193,7 milhões contabilizados no mesmo período de 2007. O lucro líquido do primeiro semestre de 2008 atingiu R$38,1 milhões, representando expressivo aumento de 227% quando comparado ao mesmo período do ano passado.

Com a cotação a R$5,93 das suas ações ordinárias, conforme último negócio realizado no pregão de 2 de outubro de 2008, o valor de mercado da empresa equivale a R$427,3 milhões ? a companhia possui 72 milhões de ações (todas ordinárias ? Novo Mercado). Seu Preço/Lucro, considerando o lucro dos últimos 12 meses encerrados em junho de 2008 (último balanço disponível), atinge 6,1. O Preço/Valor Patrimonial da ação é 1,7. A empresa custa o equivalente a 1,1 vezes o faturamento líquido dos últimos 12 meses e tem distribuído quantia próxima ao lucro líquido a título de dividendos, revelando-se excelente pagadora de dividendos.

A companhia possui indicadores da análise fundamentalista muito atrativos, acima da média do mercado. Com a possibilidade de proibição do uso do amianto no País, em virtude de eventual decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito da matéria, ela tem dado sinais de que está se preparando para diversificar suas atividades e investir em seu crescimento. Esses fatores podem afetar a distribuição de dividendos no curto prazo.

A tendência é que os fornecedores do setor de construção civil ganhem até mais que as próprias construtoras, pois a demanda por materiais empregados nas construções está forte, o que elevou os seus preços. Decorrência disso é o aumento das margens de quem fornece os materiais para o segmento e a diminuição de quem constrói. Apesar do excelente cenário atual, o risco existente da proibição do uso de amianto, o que impactaria os resultados da Eternit, sugere a compra de ações da empresa com cautela e uma adequada diversificação da carteira de ações.

Anderson ?Autor do livro Investindo em Small Caps ? Um roteiro completo para se tornar um investidor de sucesso da editora Campus/Elsevier?

Colaboração: Joana Del Guércio e Marília Zanim Candeloro

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