Ética: a regra de ouro

Você já ouviu alguém dizer que aprova a falta de ética? Acredito que não. Pelo contrário, todas as pessoas costumam exigir comportamento ético dos outros. Mas será que elas são éticas?

John C. Maxwell conta, no livro Ética é o melhor negócio, o que revela uma pesquisa realizada nos Estados Unidos entre estudantes universitários: “Entre os entrevistados, 84% acreditam que os Estados Unidos estão passando por uma crise no mundo dos negócios e 77% acham que os mais altos executivos devem ser responsabilizados por esse problema. Contudo, 59% deles assumem já ter colado nas provas. No ambiente de trabalho, 43% admitem ter se envolvido em pelo menos uma situação antiética no período de um ano imediatamente anterior”.

É comum ver uma pessoa que exige comportamento ético da empresa para a qual trabalha e do cliente com o qual negocia sonegar impostos ou pagar propina a um guarda de trânsito.

Para Luís Roberto Mello, consultor do Instituto MVC nas áreas de planejamento estratégico, marketing, vendas e recursos humanos, o cenário brasileiro não é diferente. Ele aceita comportamentos antiéticos com uma certa facilidade em função de o mercado não ter atingido a maturidade competitiva, pela impunidade ou porque a legislação que poderia contribuir para coibir esse comportamento é falha ou insuficiente. “Mas, de um modo geral, e ciente de que essa opinião não está respaldada em um método científico, sim, a maioria dos vendedores é ética e deseja fundamentar sua conduta ao receber orientações claras sobre como se comportar diante de dilemas éticos”, afirma.

Dilemas éticos

Segundo Maxwell, as pessoas fazem escolhas antiéticas por três razões:

  1. Agem de acordo com a sua conveniência Um dilema ético pode ser definido como uma escolha indesejável ou desagradável relacionada com um princípio ou uma prática moral. O que fazer diante dessas situações? Optar pela coisa certa ou pela mais fácil?
  2. Nunca jogam para perder Homens e mulheres de negócios querem vencer e conquistar coisas, alcançando o sucesso. Mas muitos acham que precisam optar entre ser ético e ser vencedor, e ninguém gosta de perder.
  3. Relativizam nossas escolhas Muita gente acredita que adotar uma postura ética pode limitar suas alternativas, oportunidades e a própria capacidade de ser bem-sucedida no mundo dos negócios.

Uma regra que vale ouro

E como ser ético? Fazendo uma reflexão sobre seus valores e princípios e colocando-os em prática em suas decisões e ações. Afinal, não é novidade alguma que agir sem ética pode até trazer lucros imediatos, mas a longo prazo os resultados serão negativos. “Face a uma preocupação cada vez maior de consumidores e da própria sociedade quanto ao comportamento dos fornecedores, não tenho medo de afirmar que a médio e longo prazos as empresas não éticas estão condenadas à extinção”, avisa Luís Roberto.

Armando Correa de Siqueira Neto, psicólogo, diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, professor e mestre em liderança pela Unisa Business School, ressalta que há uma forte competitividade no mercado que, muitas vezes, leva o vendedor a um nível de agressividade necessário, mas não se pode extrapolar e perder de vista a ética. “Há uma linha tênue que separa ser agressivo em vendas e ser desonesto em nome da agressividade”, explica.

Luís Roberto lembra que os vendedores não vendem produtos nem serviços, mas a promessa de solução para problemas e necessidades dos clientes: “A principal mercadoria de um vendedor é a credibilidade que suas promessas inspiram. Caso essa credibilidade se abale, dificilmente uma segunda venda será realizada. Essa é a grande razão para que o vendedor jamais caia na tentação de agir de maneira não ética”.

A chave para todas as dúvidas

Para Maxwell, há uma única referência na qual as pessoas devem orientar as suas decisões éticas: a Regra de Ouro, que, conforme o autor explica em seu livro, significa “tratar os outros do modo como você mesmo gostaria de ser tratado”. A referência moral utilizada por pensadores gregos e judeus, Jesus, entre outros grandes nomes, é uma regra fundamental para a vida.

Maxwell sugere algumas dicas para que as pessoas consigam enfrentar com mais facilidade os desafios éticos:

  1. Assuma a responsabilidade por seus atos Uma pessoa responsável pode confiar em sua capacidade de escolher a coisa certa a fazer, não necessariamente a mais fácil.
  2. Desenvolva a disciplina pessoal Gente bem-sucedida que trabalha bem com os outros e gosta de desafios tanto quanto de oportunidades não vê a disciplina como algo negativo ou restritivo.
  3. Conheça suas fraquezas Uma pessoa prevenida vale por duas. Quem conhece suas fraquezas dificilmente é pego de surpresa nem permite que outras pessoas se aproveitem.
  4. Alinhe suas prioridades e seus valores Quando as pessoas dizem que acreditam em determinada coisa, mas fazem algo bem diferente, é óbvio que lhes falta integridade.
  5. Admita logo seus erros e peça perdão Um detalhe que caracteriza quase todos os grandes colapsos empresariais é a tendência à dissimulação.
  6. Tome cuidado redobrado com as finanças As pessoas geralmente se dão mal quando fazem da acumulação de riqueza uma prioridade maior do que é efetivamente.
  7. Coloque sua família antes de seu trabalho Ter uma família forte e estável cria uma plataforma sólida para muitas outras oportunidades de sucesso durante a carreira profissional e garante um porto seguro no fim da jornada.
  8. Valorize as pessoas É preciso valorizar as outras pessoas a ponto de dar a elas uma parte de você: sua confiança.

Certo x errado

Para Armando, o que vale é a intenção: “Se dar presente ao cliente diz respeito à aproximação entre as partes, consuma-se a boa relação vendedor-comprador. Mas, se o objetivo é corromper, evidencia-se claramente a falta de ética. A intenção deve ser privilegiada, e não o ato em si”.

Para Luís Roberto, deve-se entender como eticamente justificável todos os comportamentos considerados aceitáveis pela sociedade e que não sejam objeto de favorecimento para uma minoria. “Meus conselhos são: vender para resolver um problema do cliente, e não para resolver um problema do vendedor; enfatizar os benefícios da solução ofertada, e não denegrir os produtos concorrentes; utilizar a verdade em relação ao cliente, e não mentir ou omitir informações valiosas; valorizar a privacidade das informações, e não usá-las no sentido de prejudicar o cliente”, afirma.

Muitas vezes, o vendedor entra em contradição entre os seus valores pessoais e o que a empresa que representa manda fazer. Para Armando, nesses casos, o profissional enfrenta uma série de desgostos e o melhor é agir: “A ideia é procurar uma nova colocação, pois mudar questões relacionadas à ética leva um tempo (quando é possível) e pode ser intolerável, considerando tocar em valores, crenças e sentimentos íntimos e fortes que podem ser difíceis de lidar”.

Luís Roberto diz que é preciso lembrar que a decisão de ser ético ou não é tomada por pessoas, e não por organizações: “A experiência mostra que vendedores éticos se recusam a trabalhar em empresas que não o são. Da mesma forma, organizações geridas por pessoas éticas se recusam a empregar vendedores que não o são”.

Exercícios práticos

No livro Pessoas decentes, empresa decente, os autores Robert Turknett e Carolyn Turknett indicam algumas formas para exercitar a prática da ética e da integridade. Veja como fazer:

  • Desenvolva uma declaração de missão pessoal Você precisa saber quais devem ser suas realizações pessoais e ter clareza sobre quais valores quer expressar.
  • Pense antes de prometer Somente prometa o que poderá cumprir, e cumpra.
  • Incorpore a honestidade absoluta Fale a verdade, admita sempre os seus erros, não exagere nem fale dos outros pelas costas.
  • Reveja as suas palavras O que dizemos é poderoso e tem efeito multiplicador. Pense e tenha segurança no que e como diz.
  • Use modelos de integridade Inspire-se em pessoas que você admira e respeita em função de seus valores. Ao tomar decisões difíceis, pense como elas agiriam.

10 mandamentos do vendedor ético

  1. Desenvolver sempre a ética em si primeiramente.
  2. Ser empático com os clientes, lembrando-se de que em algum momento você também será cliente.
  3. Assumir a postura ética mesmo contrariando uma “maioria de espertos” que se apoia em algumas notícias entristecedoras.
  4. Ter em mente que se pode influenciar seu semelhante com sua postura: o que você pretende disseminar?
  5. Lembrar que o que você não quer para si não deve querer para outrem.
  6. Formar uma imagem forte e que inspire confiança tanto na esfera profissional quanto na pessoal (lembre-se da sua família).
  7. Valorizar a justiça como um bem precioso em que é possível se apegar em tempos bons e, sobretudo, nos ruins.
  8. Buscar incessantemente o alinhamento entre você e a organização para a qual trabalha. Quando não for possível, faça o seu caminho adequado. Quem determina é você.
  9. Acreditar nos efeitos favoráveis (e desfavoráveis) presentes nas relações humanas relacionados à ética nos negócios.
  10. Saber que você errará, mas que pode se arrepender e se tornar melhor a cada novo dia. Crescer é uma oportunidade que pode ser desperdiçada ou bem aproveitada, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento da ética na carreira de vendas.

Para saber mais:

Livro: Ética é o melhor negócio
Autor: John C. Maxwell
Editora: Mundo Cristão

Livro: Pessoas decentes, empresa decente
Autores: Robert L. Turknett e Carolyn N. Turknett
Editora: Landscape

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