A acirrada disputa pelo mercado de vestuário e seu investimento Em países desenvolvidos, as empresas de grande porte representam cerca de 35% do mercado de varejo têxtil. No Brasil, devido à informalidade das operações das pequenas instituições, as maiores companhias ? juntas ? chegam próximas a 20%. Para aumentar a participação nesse mercado, a estratégia das grandes redes está em ganhos de escala, investimentos em qualidade dos produtos, posicionamento como vendedoras de moda e maior velocidade de giro de estoque, o que permite se adaptarem rapidamente às novas tendências.

O setor, no entanto, foi surpreendido no fim do ano passado pelo aumento do consumo de bens duráveis. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de as redes de vestuário aumentarem em 10% as vendas de 2007, no mês de dezembro foi registrada queda de 2,2% no volume de vendas em relação ao mês anterior. Esse resultado foi reflexo do baixo interesse do consumidor, que, com facilidade de acesso ao crédito, passou a buscar produtos de maior valor agregado como eletroeletrônicos, veículos e imóveis ? concorrência até pouco tempo inimaginável.

É nesse cenário extremamente competitivo, impactado diretamente pelos reflexos da economia, que se destacam duas companhias de capital aberto: Guararapes Confecções e Lojas Renner.

Perfil ? A Guararapes é a maior confecção do Brasil, além de controladora da rede varejista Lojas Riachuelo, que tem 96 unidades espalhadas por todo o território nacional. Investiu fortemente em suas operações de suporte através da modernização de seu parque fabril, abertura de centros de distribuição e implantação de tecnologia da informação para a gestão operacional e financeira de suas operações. A Riachuelo retomou sua estratégia de maior integração vertical com a Guararapes, a partir das demandas e necessidades identificadas no varejo.

Já a Renner é a segunda maior rede de lojas de departamentos de vestuário no Brasil, com 101 lojas espalhadas por todas as regiões do País. Desenvolve e vende roupas e calçados sob 11 marcas próprias, além de acessórios e cosméticos. Investe na segmentação de negócios, como no caso da recente aquisição da Leader ? por R$670 milhões ?, indicando sua intenção de se manter focada em segmentos emergentes, hoje só parcialmente atendidos pela rede.

Conheça melhor cada uma das companhias no quadro abaixo:

	Guararapes	Renner
Missão	Proporcionar, a cada vez mais pessoas, as condições de se expressar através da moda.	Comercializar produtos de moda com qualidade a preços competitivos e excelência na prestação de serviços, conquistando a liderança, sempre orientado pelo mercado.
Visão	Liderar o mercado nacional de moda, em um cenário predominantemente formal.	Encantar a todos é a nossa realização.
Valores	Ética e respeito, solidez financeira, austeridade administrativa, meritocracia, aperfeiçoamento constante, responsabilidade social, servir ao cliente, governança corporativa e atitude vendedora.	Respeito, honestidade e verdade. Humildade e austeridade. Lealdade, serenidade e franqueza. Sigilo, justiça e igualdade.
Estratégias	» Aumentar a integração entre Riachuelo e Guararapes. » Continuar o plano de crescimento remodelando e inaugurando lojas. » Consolidar o market share nas regiões Norte e Nordeste e aumentá-lo em São Paulo e Rio de Janeiro. » Criação da financeira Midway. » Estreitar relacionamento com o cliente através dos cartões Riachuelo. » Manter foco em inovação e lançamento de tendências e produtos.	» Consolidação do setor de varejo. » Reforço da presença da companhia nos atuais mercados. » Expansão geográfica para novas regiões como Norte e Nordeste. » Ampliação da atuação na área de serviços financeiros. » Exploração de novos modelos e segmentos através de marcas próprias.

Panorama do setor ? De acordo com Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD ? empresa de consultoria e serviços voltados ao varejo, marketing e distribuição ?, o setor de vestuário e calçados se torna cada vez mais maduro, consolidado e formal no Brasil, o que é um grande avanço se comparado com a realidade de alguns anos atrás.

?A consolidação não acontece só no aumento da participação das quatro maiores redes ? C&A, Renner, Riachuelo e Marisa ? que, com pouco menos de 600 lojas até o fim deste ano, alcançarão perto de 20% do mercado total de confecções, complementos e calçados, mas principalmente na gestão de marcas para criar diferenciais competitivos. Nas quatro maiores redes, as marcas próprias representam praticamente 100% das vendas, em uma tendência irreversível que as levou a se tornarem competentes na administração de todo o ciclo de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição, comercialização de produtos e relacionamento com o consumidor final?, explica Gouvêa.

Do ponto de vista do mercado, os últimos anos marcaram uma transformação importante, com o crescimento do potencial da região Nordeste, que no período de 2001 a 2008 viu sua participação crescer de 17% para 21%, com perda marcante na região Sul, de 21% para 16%. Enquanto isso, as demais regiões permaneceram estáveis e o potencial total do setor cresceu 46% no período, enquanto o mercado como um todo avançou 57%.

?Em outras palavras, o segmento como um todo perdeu participação no potencial geral de consumo, como resultado de um redirecionamento da renda para compra em especial de bens duráveis, beneficiados pela oferta de crédito. Ao mesmo tempo, classes mais baixas ? em especial B2, C e D ? aumentaram sua participação no potencial de consumo nacional, como parte de um processo de transferência de renda e emprego formal para esses segmentos?, esclarece Gouvêa.

Onde investir ? Conhecidas as empresas e o setor, é hora de analisarmos como estão Guararapes e Renner no mercado de ações. Acompanhe na tabela a seguir:

	Guararapes (GUAR3)	Renner (LREN3)
Oscilação em 12 meses	-68,45%	-43,33%
Máxima em 12 meses	R$89,64	R$45,21
Mínima em 12 meses	R$26,32	R$19,12
Retorno em Dividendos	0,74%	2,52%
P/L	12,21 anos	14,08 anos
Valor de Mercado	R$1.639 bilhão	R$2.514 bilhões

*Números verificados em 03/10/08

Os analistas contatados pela InvestMais destacaram que esse não é um bom momento para investir no setor de varejo têxtil, que mesmo com as vendas de fim de ano tende a se recuperar lentamente dos reflexos do sobe-e-desce da economia nas últimas semanas. No entanto, se o objetivo é ajudar o investidor a optar por uma das duas, eles dão suas opiniões.

Nicholas Barbarisi, diretor de operações da Hera Investment, enfatiza os pontos positivos das duas companhias. ?Acredito que a forte desvalorização e os múltiplos baratos ? com índice P/L abaixo da média setorial ? são pontos positivos da Guararapes, pois fazem com que o retorno de investimento seja mais rápido. Por outro lado, a Renner tem focado bastante o crescimento na região Nordeste, em que a média salarial e o PIB têm crescido acima da média nacional. E isso certamente irá interferir positivamente nos resultados da companhia?, ressalta.

Já Alexandre Lignos, analista da Intelect Gerenciamento Financeiro (IGF), prefere não recomendar a Guararapes, mas vê com bons olhos as ações da Renner. ?Apesar de ser dona da Riachuelo, as ações da Guararapes não motivam os investidores. Ainda tem como ponto negativo a alta especulação que gira em torno de sua venda para grupos estrangeiros, o que oscila bastante o valor das ações. Enquanto isso, a Renner tem como vantagens a estabilidade, muitos pontos-de-venda e um histórico de boas vendas nos fins de ano. Além de possuir uma excelente governança corporativa e capilaridade cada vez maior, ou seja, está presente em cada vez mais lugares via aquisição de outras lojas ou abertura de novas filiais?, destaca.

Se você ainda está em dúvida sobre onde investir, que tal dar uma olhada nos fundamentos das duas empresas? Veja na tabela a seguir:

	Receita Líquida (R$ mil)			Ebitda (R$ mil)			Lucro Líquido (R$ mil)
	1S08	1S07	%	1S08	1S07	%	1S08	1S07	%
Guararapes	826.458	730.996	13%	-50.690	-14.119	–	36.731	73.389	-50%
Renner	998.543	754.648	32%	213.725	88.256	142%	73.738	57.223	28,9%

Para Nicholas Barbarisi, o investidor menos conservador deve optar pela Guararapes, principalmente por estar subavaliada. ?No entanto, se levarmos em conta a liquidez do papel e posição geral no mercado, a vantagem é da Renner. Mas hoje, para mim, a subavaliação pesa mais que a liquidez?, justifica.

Alexandre Lignos discorda e reforça sua recomendação na Renner. ?Por melhor fundamento, desempenho e estabilidade. Agora, se o investidor for extremamente especulativo ou tiver alguma informação privilegiada, poderá apostar na Guararapes. No entanto, não há como negar o que qualquer análise ? seja gráfica ou fundamentalista ? comprova: a Renner transmite mais confiança e potencial de valorização?, conclui.

Difícil escolher, não? Embora nosso objetivo seja ajudá-lo a direcionar seus investimentos, há confrontos em que os próprios analistas escolhem caminhos opostos, ainda mais numa época em que surpresas e incertezas imperam no mercado de ações. É o caso do dilema entre Guararapes e Renner. Se você gosta de especular e acredita que uma ação subavaliada pode ser um bom investimento, a indicação é Guararapes. Agora, se liquidez e segurança direcionam suas escolhas, Renner é a opção. A decisão é sua. E os resultados também.