Nova lei Zeca Pagodinho

No pós-carnaval de 2004, sai a lei de Gerson e entra a nova lei Zeca Pagodinho: além de levar vantagem em tudo, pode enganar, desde que seja com coerência! Década de 70, cigarros Vila Rica. O talento do meia armador Gerson era requisitado para apoiar as vendas de um novo cigarro. As pesquisas revelavam que um dos aspectos da ” personalidade ” do brasileiro ” de então “, era a de ” sempre querer levar vantagem em tudo “. E lá foi o querido Gerson afirmar para a população : ” … afinal, eu gosto de levar vantagem em tudo, certo ? ” Era criada a Lei de Gerson. Famosíssima e insubstituível até hoje ( ou melhor ontem.. ). Meio fora de moda, com cheiro de jovem guarda, tropicália, calça boca de sino, época em que fumar não era proibido… Passamos mais de três décadas sob a ” áurea ” de que o brasileiro era um ” cara ” que gostava de levar vantagem em tudo….Éramos ” Gersons “.

No pós carnaval de 2004, sai a lei de Gerson e entra a nova lei Zeca Pagodinho: além de levar vantagem em tudo, pode enganar , ou melhor se arrepender, desde que continue sendo para levar vantagem em tudo, coerentemente! O criador da nova lei é o publicitário/legislador Nizan Guanaes.

Pegou o Zeca Pagodinho que havia se comprometido com a Schincariol, dito para Deus e o mundo que agora estava na nova cerveja do seu novo coração, a nova Schin – com contrato assinado e tudo o mais… e trouxe o homem de volta para a velha Brahma. Raul Seixas com a sua metamorfose ambulante dá gargalhadas lá do céu e eu não sei mais se bebo Schin, Skol, Kaiser, Antarctica, Brahma ou a minha velha e querida Malzbier, ou se começo a fazer a minha própria cerveja no meu bar para os amigos! ?

Amor de verão é o jingle pagode canção. Criada pelo próprio publicitário, empolgou Zeca Pagodinho e sua galera. Lembra um pouco aquela outra música hipotética, a ” musa de verão “, lembram-se? .. aquela que foi roubada do Ubaldo, da novela celebridades !!! lembram ???? ( uma música que a gente nunca ouviu, mas que todo mundo sabe qual é ).

Bem, consequências à parte, parece que o novo brasileiro ( NOVOBRAS , ou NOVO BRAZ), pode dar suas escorregadelas à vontade, reforçar mais ainda o nosso moderno malandro ” jeitinho de ser “. Podemos aprontar no verão, como as cigarras de La Fontaine e deixar que as formigas trabalhem para nós, segurando a barra no inverno, através de hábeis e espertos advogados.

Independentemente de considerarmos se os meios justificam ou não os extraordinários espetáculos, na forma de resultados pela disputa das mentes humanas , assistimos nascer uma nova lei : A LEI ZECA PAGODINHO – Vou para onde os ventos me levarem, desde que lá eu ganhe muito mais dinheiro e fique ainda muito mais famoso. Mesmo que para isso eu quebre qualquer contrato, legal ou moral, da palavra dada – com quem quer que seja Tudo é ético quando os meios, não importa quais, estejam a serviço de espetaculares resultados. Faremos isso na forma de assalto surpresa, desde que pareça sempre – engraçado, criativo, uma sacada de mestre.. e que a ” galera ” goste. Além de ser percebido ( coisa de ser percebido era do Gerson ), quero ser de verdade e realmente o NOVO ESPERTO.

Viramos todos Zecas Pagodinhos, os novos brasileiros espertos do século XXI, que o que dizem hoje pode valer, pode não valer, vai depender.. daquilo que eu disse ontem. E, mais do que tudo vai depender não de algo meu, da minha capacidade de reviver a vida ou da auto-crítica que de forma justa me impulsiona à mudança. Vai depender da minha ausência de cérebro e da substituição dos meus próprios neurônios e valores, pelas crenças e motivações alheias de um mago vendedor, de uma marca, do desejo do produto e da busca da aceitação, para ser alguém, algo mais do que um simples mortal.

Viva a Lei Zeca Pagodinho. Agora, além de levarmos vantagem em tudo, podemos enganar. Dizer o oposto do que se disse ontem – ” dependendo do negócio ” !

Éramos ” Gersons “. Viramos ” Zecas Pagodinhos “.. que saudade do Gerson !

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