O motorista de ônibus que virou empresário

Moisés Dias Pena, 55 anos, estava em mais um dia de trabalho quando, dois anos atrás, viu mulher cujos dedos saiam para fora da sandália. Nascia, então, a Kuatro Kantos

Moisés Dias Pena, 55 anos, estava em mais um dia de trabalho quando, dois anos atrás, viu uma mulher cujos dedos saiam para fora da sandália. Nascia, então, a Kuatro Kantos

Durante 18 anos, Moisés foi motorista de ônibus. Até ser mandado embora do emprego. Com o dinheiro da rescisão, comprou o maquinário para a produção de sandálias quadradas, sua grande sacada. Patenteou a ideia e abriu a Kuatro Kantos, marca inovadora cuja inspiração é ser simples e diferente. Hoje, mais de 15 lojas no País oferecem as sandálias da empresa, que produz mais de 800 pares por mês, emprega diretamente cinco pessoas e tem cerca de 15 sacoleiras que vendem seus produtos. Os chinelos que variam de R$ 45 a R$ 120 são adquiridos por todas as classes sociais. Moisés se surpreendeu ao constatar que a favela foi um dos locais com mais vendas de sandálias, que custavam R$ 50, no início do negócio.

A Ideia

“Tudo começou em um sinal de trânsito vermelho, na Av. Ibirapuera, em São Paulo. Durante 18 anos fui motorista de ônibus. Sempre cumpri com minhas obrigações, nunca faltei e sempre fui muito responsável. Mas naquele dia, recebi uma inspiração. E foi Deus que a enviou para mim. Naquele sinal de trânsito percebi uma mulher. Ela estava com uma sandália no pé e os dedos dela ficavam para fora. Foi quando tive a ideia: ‘já pensou se ela estivesse usando uma sandália quadrada? Ela não teria esse problema’”.

Primeiras Impressões

“No começo, eu mesmo produzia as sandálias. Tudo era bem artesanal. O primeiro exemplar eu fiz com borracha de pneu e o mostrei para minha mulher. Ela achou aquilo muito feio e falou: ‘Chinelo quadrado! É esse tribufú que você quer vender?’ Não desanimei e patenteei o produto. Também registrei a marca Kuatro Kantos, assim, com K, para ser diferente. Esse nome surgiu em uma noite, que eu estava sem dormir. O quarto tem quatro cantos, o teto é quadrado. Foi assim que nasceu o nome da empresa.”

Problema

“O começo não foi fácil. Para saber se as pessoas comprariam a sandália conversei com umas sacoleiras que eu conhecia. Dei 20 pares para cada uma delas. No final do dia, todas voltaram de mãos vazias. Tinham vendido tudo e queriam mais sandálias. Mas, como fazer para produzir mais se era eu quem fabricava? Resolvi pedir a conta na empresa de ônibus para qual trabalhava. Aí, mais uma coisa maravilhosa aconteceu. Acho que sou abençoado por Deus. Meu chefe me chamou e me disse que, apesar de eu ser um funcionário exemplar, por ordem superior, ele teria de me mandar embora. Não é uma grande coincidência? Eu acho que foi mais um sinal de Deus. Com o dinheiro da rescisão pude pensar grande. Entrei na Internet e pesquisei empresas que poderiam me fornecer o equipamento que precisava. Entrei em contato com a Compacta Print, companhia que comercializa equipamentos para pequenos empreendedores para a produção de diversos produtos.”

Hoje

“Atualmente, produzo cerca de 800 pares de sandálias por mês. As vendas, que começaram com as sacoleiras, hoje, são realizadas através de 15 lojas distribuídas por todo o Brasil. Continuo com as sacoleiras, são cerca de 15, também. Como motorista, ganhava R$ 1,4 mil por mês. Minha empresa fatura, hoje, entre R$ 35 mil e R$ 40 mil por mês. Comecei a participar de feiras, como a Francal. Teve um empresário dos Estados Unidos que levou 10 exemplares da sandália para lá. Pode ser que, em breve, comecemos a exportar. Minha esposa também abandonou o emprego e trabalha comigo, meu filho é o responsável pela parte tecnológica e minha cunhada pelo marketing e o comercial. A empresa está de mudança, do quintal de minha casa para um terreno maior com espaço para acomodar todo mundo.”

“Sempre que penso em tudo que aconteceu, lembro que sempre tenho de agradecer a Deus. Foi Ele quem me deu a inspiração para imaginar a sandália quadrada, lá naquele sinal de trânsito. Um momento que era para ser ruim, minha demissão, foi na verdade uma grande oportunidade porque o valor da rescisão permitiu que eu comprasse o equipamento necessário. Resolvi fazer negócio com a Compacta, cuja vendedora, a Andrea, muito me ajudou e colabora comigo até hoje. Sou evangélico, sempre tive muita fé e coragem para enfrentar os desafios.”

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