O Rei da Cocada

Como usar a criatividade para se tornar um supervendedor?

Você inventaria 112 novos sabores de um produto? Ele inventou. Você teria a ousadia de enfrentar grandes autoridades do seu estado só para vender o seu produto? Ele teve. Você teria a paciência de conversar sobre a vida com os seus clientes? Ele sempre tem.

            Se você disse não às perguntas acima, veja com esta matéria o que um vendedor de cocada anda fazendo em Teresina para tornar o seu produto algo diferente de todos no mercado. O nome dele é José Carlos da Cocada Conceição.

            O sobrenome “Cocada” ainda não está no seu Registro Geral (RG), mas há cinco anos esse vendedor entrou com um pedido na Defensoria Pública para que incluísse o nome de seu produto, “cocada”, também no RG. “Ah, eu fiz isso mesmo, mas eu pedi porque eu sou apaixonado por vendas. Eu amo vender e acho que isso tem que ficar registrado”, confessa o vendedor.

 

O início

Cocada, como gosta de ser chamado, vende seu produto desde os oito anos de idade. “Meu pai era vendedor de cocada há bastante tempo. Então, sempre que saía para vender, me levava junto”, complementa.

            A primeira venda desse “rei” foi para um dentista. Cocada lembra que chegou na janela do escritório dele e mostrou uma bacia cheia de cocadas, mas o profissional disse que não podia falar com ele naquele momento, que voltasse em outra hora. “Mas eu não desisti não. Eu pedi para ele abrir a janela e disse: ‘Por gentileza, você poderia me dar a oportunidade de oferecer o meu produto? É a minha primeira venda e eu quero fazê-la para o senhor’”, diverte-se ao lembrar.

            Depois dessa tentativa, há alguma dúvida de que Cocada vendeu seu produto para o dentista? Não só vendeu uma cocada como a bacia inteira, com vários sabores. Ele até lembra-se do jeito que o dentista falou depois de tê-la provado. “Hum, que delícia, quais são os outros sabores que tem aí?”, disse. Depois disso, o dentista virou cliente fiel do vendedor e ainda indicou para os seus pacientes e amigos. E a fama começou.

 

Inovação

O pai de Cocada faleceu e ele lembra que a partir daí só aumentou o seu amor por vendas. “Comecei a me distrair com o produto e assim fui melhorando as minhas cocadinhas”, conta. Para essa inovação acontecer, tudo começou quando Cocada viu um vendedor de picolé. “O cara vendia muito e eu ficava prestando atenção no fato de que as pessoas escolhiam vários sabores. Um dia, perguntei a ele se eu podia pegar alguns picolés para experimentar. Ele disse que sim e eu fui provando até ter a grande ideia de fazer o mesmo”, confessa.

            Depois dessa experiência, o vendedor começou a fazer vários sabores de cocada. Além da branca e de coco puro mesmo, ele fez a cocada de cupuaçu, de pequi, carambola, acerola, açaí e por aí vai (a maioria com frutas do nordeste). “Ah, depois que eu descobri isso, quando os clientes chegam, eu já vou falando a numerosa quantidade de sabores de cocadas que eu tenho”, orgulha-se.

            Antes, o vendedor oferecia seu produto andando pela cidade inteira, mas ele pensou que desse jeito não seria possível aumentar as vendas. Então, teve a ideia de andar de bicicleta para vender as cocadas, mas a dele não é tão comum assim: “A minha bicicleta conta um pouco do que faço. Nela, há uma placa contando como as cocadas são feitas, onde fica a minha fábrica, o nome dela (que é Rei da Cocada), meu endereço e telefone. Assim, meus clientes já sabem direitinho como tudo acontece”, relata.

 

Conquistando os clientes

Com todo esse cuidado, o vendedor também revela como faz para conquistar os seus clientes. Para ele, é fundamental ganhar um sorriso já na primeira vez que oferece o produto. Então, para isso acontecer, Cocada brinca com os clientes. “Olá, tudo bem? Com licença, eu estou aqui para vender algumas cocadas especiais. Por exemplo: eu tenho a cocada do seu sorriso, também tenho a cocada do amor, do beijo e mais, eu tenho a cocadinha do desejo de sua esposa que você ainda não conhece”, brinca ao contar o seu encanto.

            Como Cocada mesmo revela, nem sempre é fácil conquistar, mas há muitos clientes que não resistem à “jogadinha” de vendas. “Ah, na mesma hora eles começam a sorrir, e é só isso que eu quero. Sabe por quê? Porque algumas vezes os clientes estão nos bares sozinhos e a única coisa que eles querem é um pouco de atenção. E eu posso dar isso, um pouco de alegria. Se eu vender ou não as cocadas, tudo bem, mas o sorriso deles é muito bom para mim também”, ensina o vendedor.

            É com esse jeito que o Rei da Cocada está conquistando todos em Teresina. Ele conta que um dia o ex-governador do estado do Piauí, Hugo Napoleão, estava fazendo abertura de um projeto novo em Teresina e muitas pessoas estavam presentes. “Quando soube que ele estava aqui, aproveitei, peguei minha bacia de cocadas e fui tentar vender para ele, mas, ao chegar perto, o assessor dele disse que eu não podia fazer aquilo, que não era para eu vender nada ali. Eu entendi, mas esperei um tempo e, quando esse assessor se distraiu, eu aproveitei que ele estava de perna aberta, passei entre elas e apareci perto do governador. E já fui logo gritando: ‘Governador, me dê um minuto de sua atenção’. Ele parou, quer dizer, todo mundo parou e aproveitei para oferecer as cocadas, é claro”, conta.

            Depois dessa ousadia, as pessoas passaram a conhecer ainda mais quem era o Rei da Cocada de Teresina. Hoje, José Carlos da Cocada Conceição vende 70 cocadas por dia e, no fim de semana, aproximadamente 500, cada uma a R$2,00. Ele conta o seu segredo para muitas vendas de seu produto: “Tem que ser sincero com o cliente sempre. Pensar como você vai abordá-lo, o que pode falar para ele e mostrar o seu produto da melhor maneira possível”, finaliza.

 

Perfil

  • Nome: José Carlos da Cocada Conceição.
  • Cargo:Vendedor de cocadas.
  • Há quantos anos trabalha com vendas:“Há mais de 43 anos”.
  • Minha primeira venda foi:“Para um dentista”.
  • Minha venda mais importante foi:“Para o governador do estado”.
  • Minha maior motivação:“Vender, vender, vender, vender”.
  • O que ainda precisa melhorar:“Eu preciso estudar mais, me capacitar mais. Quero fazer cursos, participar de palestras, essas coisas”.
  • O cliente ideal:“Aqueles que compram sempre de mim, mas o melhor mesmo são os ‘clientes’ diabéticos. Eu os chamo de meus clientes potenciais, porque mesmo não comprando são eles que me indicam para o restante, e isso é muito importante para mim”.
  • Objetivo para daqui a cinco anos:“Ser um Silvio Santos da vida ou mesmo um Abílio Diniz”.

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