“Olha ele au00ed…”

De que forma usar a criatividade para vender mais?

O começo da entrevista:
― Alô, por gentileza, poderia falar com Erisvaldo?
― Erisvaldo não, Da Rosca, moça!
― Ah, tudo bem. Então, posso falar com o vendedor de roscas?
― É o próprio!

Em menos de cinco minutos, pude perceber que tudo o que falam sobre o “Da Rosca” é pura verdade. A alegria de vender suas roscas é contagiante, não só pela brincadeira com o produto, mas sim pela forma com que ele encanta seus clientes.

Seu nome verdadeiro é Erisvaldo Correia dos Santos, mas ele prefere ser chamado de Da Rosca. A sua história começou há muito tempo em Crato, interior do Ceará, quando vendia pipoca e algodão-doce. Cansado de lá, resolveu colocar mais desafios em sua vida. Foi para o Rio de Janeiro em 2005, enfrentando as dificuldades comuns que muitos nordestinos encontram.

Após tentar vender consórcio, decidiu vender água de coco e estava indo bem, até o período em que choveu durante quatro dias e a venda dele foi “por água abaixo”. Nesse momento, o desespero surgiu. “Meu Deus, o que vou fazer da minha vida agora? Como é que pode um cara igual a mim, que sabe cozinhar e vender, ficar sem trabalho?”, pensou o vendedor.
 
A ideia brilhante – Foi exatamente na hora do desespero que ele viu uma nova forma de viver no Rio de Janeiro. “Fui ao bairro Catete para ver o que as pessoas estavam vendendo por lá. Só tinha coxinha, quibe e cachorro-quente, não vi nada diferente. Então, surgiu a ideia da rosca – era algo diferente e que ninguém vendia”, comenta.

Da Rosca voltou pensando em como iria fazer as tais roscas. Com os últimos R$20 que haviam restado da venda da água de coco, ele comprou os ingredientes e foi direto para casa, colocou a mão na massa e preparou suas primeiras roscas. Empolgado com a perspectiva, o vendedor voltou ao Catete para a sua primeira experiência, que lembra ter sido um sucesso.

A receita das roscas é básica: fermento, leite, açúcar, margarina, sal e muitas, mas muitas pitadas de bom humor. Há três anos vendendo roscas, ele confessa que já fidelizou muitos clientes, desde crianças até avozinhas.

Humorista– Essa fidelização se deve não só pela exclusiva rosca que é vendida na estação de metrô do Catete, mas sim pela forma com que Da Rosca convida os clientes: “Olha ele aí…”. Esse é o aviso de que ele está chegando para vender suas roscas.

Para quem não ouviu, ele continua a brincadeira: “Quem vai comer da minha rosca? Tô com a rosca pegando fogo. Tô dando a rosca por um real”. Acredite, esse vendedor não economiza nas piadinhas. Tudo com respeito, e conquistando muita gente.

Sempre com um sorriso no rosto, o vendedor afirma que é preciso gostar muito do que vende e sempre ter bom humor para atender o público e conquistar muito mais. Da Rosca conta que devido ao ótimo astral, hoje, ele é conhecido como o vendedor humorista. “E isso faz com que eu levante todos os dias ‘feliz da vida’. Se eu não acreditar no que vendo e deixar os dias difíceis acabar com isso, nunca vou conseguir ter sucesso no que faço”, garante.

Vendendo aproximadamente 500 roscas por dia, Da Rosca revela que, no começo, só os camelôs compravam com ele, mas hoje atende todos os públicos, até mesmo empresários.

Expandir o negócio– Agora o desejo de Da Rosca não está apenas em ganhar mais vendendo só roscas. “O meu maior sonho é fazer uma lanchonete com comida do nordeste. Os clientes podem fazer um lanche ou, até mesmo, almoçar no lugar, tudo com comida nordestina. Ah, e a sobremesa é claro que vai ser uma rosquinha!”, diz.

Mas o vendedor tem os pés no chão na hora de planejar seu futuro. Sem ter chefe cobrando metas, Da Rosca é o próprio medidor de seus passos. Além de querer uma loja fixa para ampliar seu negócio, ele também pensa em outras formas de diversificar suas roscas. “Agora, preciso fazer algumas com sal, outras com leite condensado, outras com doce de goiaba e por aí vai. Preciso pensar até nos clientes que tem diabetes, eles me procuram demais”, conta.

A falta de recurso financeiro atrapalha um pouco a concretização desse sonho, mas com o trabalho diário, muita motivação e persistência, o vendedor pretende chegar ao objetivo. “A pessoa tem de ter coragem para tudo o que ela quer na vida. Você não pode deixar de acreditar no sonho, mesmo quando, por exemplo, ouve um não de cliente. Sempre procuro pensar que, se hoje eu não vendi todas as roscas, amanhã será outro dia e, com certeza, vou compensar”, acredita.

Para finalizar, o vendedor revela que o segredo do bom negócio é saber atender os clientes, oferecendo o melhor produto e, claro, usando o sorriso para conquistá-los. E, depois de todo o discurso, ele ainda brinca: “E aí, ficou a fim da minha rosca?”.

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