Por uma empresa sem dor

Especialista americano ensina como identificar os males emocionais nas empresas e transformar o ambiente de trabalho para melhor.

Estamos em 1997. O telefone toca na sexta-feira à noite, bem na hora em que o casal se preparava para uma caminhada. Do outro lado da linha, um médico informa que ligou para avisar que a biópsia que fizera naquela semana apresentara um câncer maligno, já presente no sistema linfático. Era preciso correr para uma cirurgia para retirada de nódulos. Peter Frost olhou à sua volta e sentiu que a vida acabara de mudar. Tudo igual, a sala, os móveis, a casa, mas ao mesmo tempo tão diferente. “A doença transformou o meu modo de pensar e mostrou-me como o comportamento das pessoas que trabalham em uma empresa pode afetar a saúde.”

A recuperação pós-cirúrgica levou semanas, período em que Frost estudou este câncer que não responde à radiação ou à quimioterapia. Ele descobriu que doenças como a dele podem ser desencadeadas por altos níveis de estresse. Foi então motivado a identificar seus hábitos de trabalho e seu estilo de vida. “Fiquei atento para quaisquer técnicas e tratamentos que pudessem manter meu sistema imunológico saudável”, relata em sua obra “Emoções Tóxicas no Trabalho” (Ed.Futura).

Mas foi num seminário com a Dra. Joan Borysenko, da Escola de Medicina de Harvard, pioneira em algumas idéias-chave sobre a medicina de mente e corpo, que o psicólogo sul-africano Peter Frost cristalizou suas idéias sobre dor emocional nas organizações e os efeitos sobre as pessoas que tentam gerenciá-las. Borysenko ressaltou que fortes emoções negativas, como a raiva, a tristeza, a frustração e o desespero, podem ser particularmente “tóxicos” para o corpo humano e afetar a habilidade que o sistema imunológico tem em protegê-lo.

As fontes de toxinas no ambiente de trabalho

Peter Frost diz que os comportamentos e atitudes de gerentes, muitas vezes são a principal fonte de dor nas organizações hoje em dia, e enumera as formas que elas assumem, classificando-as como os 7 pecados “INS”:

1 – INtenção – o papel da malícia – O propósito da malícia é prejudicar alguém sem nenhum motivo aparente, ou experiências passadas ruins que deixam o chefe permanentemente com a pulga atrás da orelha. Ou ainda também da crença que só se motiva pelo medo.

Reações emocionais dos receptores: medo, raiva, confusão e ressentimento.

2 – INcompetência – gerentes com habilidades pessoais fracas – Muitos gerentes não possuem treinamento para criar relações produtivas com suas equipes. Alguns vacilam muito. Tal indecisão pode deixar o pessoal esgotado e até imobilizado. Ainda há aqueles que sufocam suas equipes, atormento-as ou centralizam tudo em si, de forma a atrasar todo o trabalho na sua ausência.

3 – INfidelidade – o ato de traição – Acontece quando um chefe cria uma expectativa e não a cumpre, rouba a idéia de outro, ou ainda abusam do poder para se valer de questões pessoais. Os efeitos incluem amargura de longa duração, equipe de trabalho desconfiada e medo.

4 – INsensibilidade – pessoas que são emocionalmente pouco inteligentes – Os gerentes devem perceber como os membros de sua equipe estão se sentindo. Eles precisam ser capazes de medir o impacto emocional de suas próprias ações nos outros.

5 – INtromissão – Às vezes os líderes manipulam a forma de dependência de carisma, vendendo a alma para o chefe carismático. Eles acabam seduzidos para o programa do líder, atrelados a uma carga de trabalho insustentável. Quando o líder desiste ou falha, deixa os seguidores esgotados.

6 – Forças INstitucionais – programas corporativos contemporâneos – Varia desde políticas da organização até visões divergentes dentro da empresa, ou ainda falta de visão, que causa confusão e precipitação emocional. Geralmente esta toxicidade é involuntária. Apresenta efeitos negativos no moral de desempenho da equipe.

7 – INevitabilidade – Algumas dores são inevitáveis. Frost afirma que “toda liderança gera dor. Os bons líderes sabem disso, mas ajudam as pessoas a trabalhar com elas”.

Como se livrar dessa dor?

Você não se livra dela. Calma, Frost explica. Todas as empresas enfrentam, uma vez ou outra, essa dor emocional. “O que transforma dor emocional em toxicidade é a resposta dada à ela.” Ele explica que apesar da difusão das toxinas emocionais nas empresas e de seus efeitos negativos nas pessoas e nos lucros, ninguém vai levantar o assunto porque a discussão de emoção e dor em situações de trabalho tende a ser vista como “fraqueza” ou “moleza”. Mas moleza é fingir que isso não acontece e continuar a fazer o de sempre. Existem maneiras de fazer com que sua empresa torne-se mais saudável. Comece por si mesmo:

– Fortaleça suas capacidades físicas – pratique exercícios regularmente para melhorar a sua capacidade mental ou receba uma massagem para liberar as tensões causadas tanto pela demanda física como pela emocional.

– Melhore suas capacidades emocionais – mantenha-se positivo para ajudar a manter a dor e o sofrimento em perspectiva. Procure olhar para as situações como oportunidades de aprendizado e não leve as coisas para o lado pessoal. Sinta-se bem com o que está fazendo.

– Regenere suas capacidades mentais – Esteja mentalmente focado no problema que se tem em mãos e não se distraia com dramas periféricos. O foco ajuda a criar um espaço saudável entre você e as situações tóxicas.

– Construa suas capacidades espirituais – Defina para si mesmo o motivo pelo qual está ajudando as pessoas que sofrem.

Agora vamos ver o que uma empresa pode fazer para acabar com o excesso de toxinas:

1 – Ouvir a dor – o ato de ouvir, por si só, pode cicatrizar a ferida. Ao tirar um tempo consciente para ficar com a pessoa com dor e ouvir a história dela, você ajuda a cura a se iniciar.

2 – Amortecer a dor – São necessárias várias competências para se tornar um bom amortecedor. Entre as habilidades estão: capacidade de remodelar mensagens tóxicas, diplomacia para conseguir os resultados desejados, bom relacionamento e coragem. Quando uma organização tem más notícias para comunicar, um bom amortecedor é fundamental.

3 – Livrar os outros de situações dolorosas – Às vezes a única maneira de ajudar pessoas presas em uma situação tóxica é tirá-las de lá. É necessário um salva-vidas, que identifique locais onde funcionários preciosos possam estar passando aperto.

4 – Transformando a dor – Não basta tentar remover a dor ao seu redor. É preciso ajudar as pessoas a enxergá-la sob uma ótica mais positiva, permitindo que as pessoas superem uma experiência dolorosa. Como fazer isso? Ajustando a dor de maneira construtiva, mudando a visão de experiências dolorosas e com ensinamento empático.

Mais vale um chefe atencioso do que os benefícios da empresa

Um estudo realizado pelo Instituto Gallup descobriu que a maioria das pessoas valoriza mais ter um chefe atencioso do que a quantidade de dinheiro ou de benefícios que ganham. O estudo confirma que o modo como se relacionam com o seu superior imediato determina a produtividade e o tempo de permanência no emprego.

Mas afinal, quais as habilidades específicas que um gerente precisa ter? Frost enumera a seguir:

1 – Perceber dicas emocionais (as próprias e as dos outros) e prever seus efeitos em situações de trabalho.

2 – Manter as pessoas conectadas. Tornar hábito os “momentos humanos” com seus colegas e sua equipe.

3 – Demonstrar empatia com aqueles que estão sofrendo e ouvi-los com atenção.

4 – Agir para aliviar o sofrimento dos outros.

5 – Mobilizar pessoas para lidar com a dor e colocar a vida deles de volta nos trilhos.

6 – Construir um ambiente de equipe, onde agir compassivamente com os outros seja encorajador e recompensador.

Evite que a dor se instale

Certo, você vai ter momentos de dor na empresa, mas pode garantir que eles sejam poucos e espaçados. Siga essas dicas:

– Escolher funcionários com base em atitude e competência

– Desenvolver as pessoas e ajudá-las a brilhar

– Construir locais de trabalho sem preconceitos

– Criar uma atmosfera saudável com espaços para cura.

Percebe-se que a vantagem competitiva vai para as empresas que aproveitam e ampliam a energia intelectual, emocional e o comprometimento de sua força de trabalho. Frost afirma que criar ou ignorar o sofrimento humano diminui significativamente essas vantagens.

Frase: “A obrigação de dedicar-se a fazer o bem e tornar os seus semelhantes felizes seria o mesmo que realizar a sua própria felicidade” – Dostoievski

Para saber mais:

Peter Frost continua explorando as reações das toxinas emocionais na vida das pessoas e de suas organizações. Entre seus objetivos, está a obtenção de mais dados de líderes que estão tentando evitar e lidar com as dores no ambiente de trabalho. Para contatá-lo, basta escrever para [email protected] ou visitar o site www.toxinhandler.com. Acaba de lançar o livro: Emoções Tóxicas no Trabalho, Editora Futura.

Frase:

“Quando não há confiança, as pessoas boas começam a ir embora aos poucos” “Secar as lágrimas das pessoas é tão real quanto fechar um contrato”. “Se todos os líderes aprenderem a ser gerentes de toxinas, haverá uma situação muito feliz nas empresas”

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