Qual é a sua tribo?

Tinha um amigo que dizia: ?Não comi e não gostei?. Eu, por exemplo, sempre achei que detestava sushi porque nunca tinha comido. Pensava: ?Como é que alguém pode gostar de peixe cru?. Até que experimentei ? meio forçado, admito ?, e adorei. Raclete, tacacá, barreado e pizza de escarola com bacon. Aliás, a lista de descobertas não inclui apenas as culinárias. Golfe, mergulhar, trekking, snowboarding, casar, ter filhos… Todas são experiências diferentes e tão iguais ao mesmo tempo: começa com um certo desgosto receoso, passa pela experimentação, surge a surpresa e termina no prazer.

Da mesma forma, o mundo dos investimentos em ações é interessante porque existem ?tribos? diversificadas dentro dele. Quase como nas aulas de ciências, quando estudávamos reino, filo, classe, ordem, gênero, espécie…, quando o assunto é Bolsa de Valores, temos divisões bem claras. Algumas não só não se misturam como também são quase inimigas.

De um lado, os fundamentalistas, que analisam os fundamentos de uma empresa. Esse grupo pode ser geralmente dividido em Growth Investors (procuram organizações em crescimento com potencial de valorização rápido) ou Value Investors (buscam companhias com as ações sendo vendidas, por algum motivo, com desconto no mercado).

Do outro, os analistas gráficos. Eles procuram padrões gráficos, analisando relações entre preço e volume, procurando estabelecer (e, quando possível, antecipar) uma tendência.

Bom, no meio dos dois, em cima do muro, temos os que acreditam que o mercado não pode ser vencido a longo prazo. Logo, é melhor apostar num fundo que acompanhe o índice e pronto. É o que poderíamos chamar de teoria do random walk, baseado em um livro com esse título.

De fora desses grupos, está o pessoal que ?não acredita? em Bolsa, por isso coloca tudo em renda fixa, poupança, moedas estrangeiras, imóveis, ouro… o que for. Cada uma delas é uma subtribo, com suas próprias subdivisões.

Se quiser melhorar sua performance como investidor, entender em qual tribo você está é fundamental. Primeiro, para estabelecer suas áreas de competência e afinidade naturais. Isso ajuda a não ficar macaqueando e pulando de galho em galho, seguindo a última moda só porque determinado amigo ganhou uns trocados fazendo um negócio qualquer numa área que você não entende nada (as ações caíram! Renda fixa! Commodities! Dólar! Imóveis! Agora, volta para a Bolsa!).

Segundo, para entender melhor suas opções de investimento e diversificação. O que se chama de ?alocação de recursos?, ou seja, quanto em porcentagem você coloca do seu dinheiro num determinado ativo, depende, antes de tudo, de saber que esse ativo existe.

Por exemplo: tenho um amigo que investe num Fundo de Direitos Creditórios que paga uma taxa bem acima do CDI. Sempre achei que esses fundos creditórios eram para investidores institucionais (traduzindo: com muita grana) nem cogitava colocar uma parte da minha carteira neles.

O jornal Valor Econômico, que tem um suplemento diário excelente para o pequeno e médio investidor, publicou recentemente uma matéria sobre Fundos de Direitos Creditórios na área imobiliária. Neles, há de tudo: imóveis residenciais, comerciais, industriais, terras agrícolas, shopping centers, hospitais, enfim, através desses fundos, você pode investir numa determinada classe de imóveis, se quiser, sem pagar IPTU, tendo seu capital remunerado mensal ou trimestralmente, com uma lógica muito semelhante a do fundo de renda fixa (se tiver interesse, fale com sua corretora, certamente ela poderá ajudá-lo).

Da mesma maneira, existem hoje dezenas de opções para investir. Teoricamente, estes seriam momentos excelentes para comprar ações ?baratas? (não é à toa que você vê o Warren Buffett abrindo a carteira e comprando Goldman Sachs e GE justamente agora). Ações são uma das mais interessantes e ?nervosas?, mas em períodos de turbulência, às vezes, afugentam quem não tem estômago para lidar com a montanha-russa de altos e baixos diários.

Felizmente, existem opções muito interessantes. Como o importante é investir um pouco todos os meses, pensando no longo prazo, e diversificando para aumentar retorno médio e diminuir risco, recomendo que todo investidor entenda em qual tribo está hoje, onde se sente mais confortável, mas que também olhe em volta. Quem sabe, você não descobre algo novo? O processo de descobrir uma nova forma de investir acabará muito parecido com o das minhas aventuras culinárias: começa com um certo desgosto receoso, passa pela experimentação, surge a surpresa e termina no prazer.

Bons investimentos,

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