Nossa falta de recursos (no casamento) nĆ£o nos fez brigar, mas nos desafiou a trabalhar como uma equipe. Minha mulher e eu comeƧamos nosso namoro com um desentendimento.
Digo que nosso primeiro encontro foi no dia 9 de junho de 1982, em um passeio de bicicleta pelo campo em direĆ§Ć£o ao cemitĆ©rio Sugar Grove Friends. Joan insiste que foi no mĆŖs seguinte, quando jantamos em um restaurante de rodĆzio de carnes na cidade. Na terceira picanha, eu jĆ” estava apaixonado. Na quarta, a pedi em casamento. Na quinta, ela disse que nĆ£o, pois nunca aceitava pedidos de casamento no primeiro encontro.
Eu disse que nĆ£o era a primeira vez que saĆamos, mas a segunda. Ela respondeu que a visita ao cemitĆ©rio nĆ£o valia, porĆ©m eu disse que valia. Vivemos desde entĆ£o com esse desentendimento. Apesar desse inĆcio tumultuado, temos desfrutado de um casamento relativamente cordial. Quando as crianƧas per-guntam como nos conhecemos, digo que a mĆ£e deles passeava em uma tarde, eu a vi da minha janela e saĆ correndo para me apresentar. Sempre houve muitas pessoas caminhando perto da minha casa, mas jamais saĆ correndo para falar com qualquer uma delas. No entanto, quando vi Joan, deixei essa tradiĆ§Ć£o de lado e fui conhecĆŖ-la. No dia seguinte, 9 de junho, quando a vi novamente, convidei-a para andar de bicicleta. Ela aceitou, e esse foi nosso primeiro encontro.
No fim de semana seguinte, levei Joan para jantar no restaurante de rodĆzio de carnes, onde a pedi em casamento e ela recusou. No ano seguinte, repeti a proposta uma vez por semana. Depois de um tempo, ela aceitou. NĆ³s nos casamos na casa de encontros quacre, que Ć© como chamamos nosso local de culto. Na hora de expressarmos os votos – as promessas que os casais se fazem -, eu estava tĆ£o emocionado que mal podia falar. Durante a prece das bĆŖnĆ§Ć£os, ouvia soluƧos atrĆ”s de mim. Era meu pai, igualmente comovido. Somos pessoas sentimentais.
(Mas) …o nosso teste prĆ©-nupcial nĆ£o foi favorĆ”vel. Apontou a provĆ”vel Ć”rea de conflito – discussƵes a respeito de dinheiro. Principalmente porque nĆ£o tĆnhamos nenhum. Fizemos entĆ£o um plano de como gastar o que sobrasse depois de pagarmos os impostos. DĆ”vamos 10% Ć Igreja e guardĆ”vamos outros 10%. VivĆamos dos cinco dĆ³lares que sobravam.
A tragĆ©dia que o teste previu jamais ocorreu. Nossa falta de recursos nĆ£o nos fez brigar, mas nos desafiou a trabalhar como uma equipe. Permitiu que aprendĆŖssemos a diferenƧa entre desejos e necessidades e como encontrar a felicidade um no outro, e nĆ£o nas coisas.
Em uma tarde de domingo, quando nossos filhos eram pequenos, fiquei zangado com minha mulher e saĆ de casa. Fazia apenas 20 minutos que eu saĆra, mas nesse tempo meus dois filhos perguntaram se um dia eu iria voltar. Se pudesse fazer o tempo retroceder, desfaria esse momento. Agora, me preocupo se os meninos vĆ£o pensar que perder a paciĆŖncia Ć© a melhor maneira de resolver os problemas. Assim, tenho que tentar solucionar isso.
Duas pessoas devem costurar juntas em um movimento sem fim. O casamento Ć© uma colcha que nunca fica pronta. Muitos de nĆ³s pensam que o trabalho terminou quando dizemos “aceito”. Eu tambĆ©m pensava, mas logo aprendi que nĆ£o Ć© assim.
Nosso jantar no restaurante custou 24 dĆ³lares e 13 centavos. Quando puxei na carteira para pagar, imaginei-me como um homem rico. AtĆ© hoje me lembro desse sentimento. Agora, estou aprendendo a ver onde estĆ” o meu tesouro, e ele nĆ£o estĆ” na minha carteira.