Tudo como sempre

Quer que seu dia de manhã seja diferente do de hoje? Tome uma atitude. Faça acontecer! Despertou e abriu os olhos como sempre. Espreguiçou-se como sempre. Para dar sorte, colocou primeiro o pé direito no chão, como sempre. Levantou-se como sempre. Pegou o jornal na garagem e abriu-o sobre a mesa como sempre. Leu as ?figuras? por cima, procurou alguma nota a respeito do seu time, como sempre.

Entrou no banheiro, fechou a porta, fez lá o que devia, tudo, tudo como sempre. Pegou o creme de barbear e o pincel, fez a espuma sobre o rosto no mesmo sentido de sempre. Raspou a barba como sempre, da esquerda para a direita, de baixo para cima e, por último, na diagonal. Tudo na mesma ordem de sempre. Entrou no banho e ensaboou-se como sempre. Enxaguou-se e enxugou-se como sempre. Vestiu o roupão, saiu do banheiro e se trocou, seguindo o mesmo ritual. Tomou café como sempre. Beijou mulher e filhos como sempre.

Entrou no carro, sintonizou a emissora de sempre e saiu dirigindo, pelo mesmo caminho de sempre. Esquinas, cruzamentos, praças, tudo igual, tudo como sempre. Chegou ao trabalho, parou o carro na mesma vaga, no mesmo ângulo de sempre. Deu um bom-dia geral e fez alguns cochichos, como sempre. Sentou-se no seu lugar, como sempre fizera. Espalhou suas coisas sobre a mesa, da mesma forma desde o primeiro dia em que estivera ali, já há alguns anos.

Ao meio dia em ponto levantou-se e saiu para almoçar. Voltou às 13 horas e ficou até às 17 horas. Minto: até às 16h50. Como sempre, ficou dez minutos em frente ao relógio. Assim que o ponto sinalizou o fim do expediente, bateu seu cartão como sempre. Dirigiu-se até o estacionamento. Abriu o carro, entrou e sentou, tudo como sempre havia feito.

Dirigiu, pelo mesmo caminho de sempre, de volta ao lar e à hipnose da TV. Tomou banho e jantou como sempre, despachou-se no sofá da sala, correu os olhos na programação, começou a piscar duro e dormiu torto, babando no pijama como sempre. Acordou horas depois, já no final do último jornal da noite. Foi para a cama do mesmo modo, como todo santo dia.

Deitou-se como sempre, adormeceu. Tudo igual, padronizado, encaixotado como sempre. Passou a vida toda como sempre, com apenas um detalhe curioso: queixando-se a todo instante que ela não mudava nunca. Espere aí… será que é vida que tem de mudar? Ou somos nós?

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