Uma fĂȘnix no nordeste

Como a Tubform ressurgiu das cinzas para o sucesso?

Edvane Matiasé um nordestino que nasceu no sítio Bilinguim, no interior do Ceará. O lugar era tão pequeno e sem estrutura que o próprio Edvane brinca que a população média de lá girava em torno de 13 pessoas: seu pai, a mãe e os 11 filhos. Quem soubesse escrever o nome já estava no auge da escolaridade.

Sua irmã, Mônica, diz que Edvane sempre sonhou em comprar um avião e ter uma fundação social. Só que nem tudo é tão fácil quando a origem é humilde e a cidade oferece pouca estrutura. A primeira decisão, então, foi sair do sítio para um lugar onde pudesse estudar e trabalhar.

Edvane foi para uma cidade maior, Acopiara, também no interior do Ceará, terminou o segundo grau e fez alguns cursos que lhe renderam uma vaga como office boy em uma revendedora de veículos. Como tinha vontade de criar algo maior, aos poucos, com a esposa, montou uma pequena empresa de portões e móveis sob encomenda, a Metal Móveis, que se tornou realidade em 1992. Mas, até aí, a empresa ainda não havia deslanchado.

Foi então que, em uma feira moveleira em São Paulo, o empreendedor resolveu comprar uma máquina para fabricar móveis tubulares e equipamentos para pintura a pó. Financiou os aparelhos, trouxe uma cadeirinha de modelo da feira e partiu para a produção. “Essa cadeirinha Araxá vendeu, vendeu, vendeu e foi minha galinha dos ovos de ouro! Nossa meta era fazer um conjunto de cadeiras por dia e hoje nós fazemos um móvel a cada seis segundos. Não fazemos mais a Araxá, mas eu ainda tenho a primeira cadeirinha que produzimos aqui – a número 1 mesmo!”, lembra Edvane.

A partir daí, a evolução foi constante: em 1995, a Metal Móveis saiu de cena e nasceu o Grupo Tubform. Quatro anos depois, surgiu a rede de Lojas Mathias, em Iguatu, CE, e, em 2000, inaugurou a Madeform, unidade de fabricação de dormitórios e cozinha. Em menos de dez anos, o Grupo passou de dez colaboradores para mais de mil, entrando para o ranking das cem maiores empresas de móveis do Brasil!

 

Tinha uma pedra no meio do caminho…

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, não dá para esquecer as pedras no caminho, mas existem várias maneiras de encarar essas pedras: com foco na solução ou no problema. No dia 16 de julho de 2008, a sede administrativa e centro de distribuição do Grupo, em Iguatu, pegou fogo. Eram 14 horas de uma quarta-feira e Edvane estava chegando em Campos do Jordão, SP, para um período de férias com a família.

“De repente, todos os nossos telefones começaram a tocar ao mesmo tempo, nos trazendo a notícia. Voltamos para o aeroporto no mesmo táxi antes de chegarmos ao hotel”, conta. Quando Edvane e a família retornaram ao Ceará, por volta da 1h da manhã, só viram fumaça. Mas o presidente do Grupo já havia anotado mais de 70 atitudes que deveria tomar no dia seguinte para dar a volta por cima. Fez as anotações ali mesmo, no avião, enquanto voltava para ver o estrago. Ele escolheu focar a solução, e não o problema.

            Mônica Matias Barreira, diretora de RH e irmã de Edvane, foi a primeira a chegar ao local do acidente. “Logo que aconteceu, bateu um desespero. Mas ali descobrimos o quanto nossos funcionários gostam da nossa empresa. As pessoas queriam arriscar a vida para tentar salvar alguma coisa”, relembra a diretora.

O diretor administrativo-comercial e sócio da empresa, Edione Matias Vieira, que também é irmão de Edvane, estava em Iguatu no dia do incêndio. “Indiscutivelmente, é algo que abala. Foi um choque, mas, como sempre fazemos, nos determinamos a trabalhar cada dia mais e a recuperação foi rápida. Um ano depois, a gente não lembrava do ocorrido. Pelo contrário, parece que as coisas tinham progredido muito mais. Foi, acima de tudo, uma lição para nós”, comenta o diretor.

            No dia seguinte ao incêndio, o fundador da empresa tratou de colocar sua lista em prática. A primeira atitude foi não deixar baixar a motivação dos colaboradores, que poderiam achar que seriam demitidos. “Não morreu ninguém e nós vamos contratar mais gente para colocar um terceiro horário nas outras fábricas, vamos continuar produzindo e reverter isso aqui”, afirmou o diretor aos funcionários.

A segunda atitude foi realocar alguns colaboradores, depois chamar os fornecedores para ver quem poderia ajudar. Em seguida, ver a documentação com o seguro – e assim as coisas foram sendo contornadas. Ítalo Diógenes Bezerra, gerente comercial do Grupo, recorda que, em menos de 12 horas, o sistema da fábrica estava funcionando em outro lugar e já foi possível iniciar o processo de logística, tudo em virtude dos backups que a empresa tinha. Em 18 horas, a Tubform voltou a fazer entregas.

“No momento em que soube foi desesperador, mas, graças a Deus, logo em seguida decidi que não poderia ficar lamentando. Foi um acidente e todos nós estamos expostos a riscos como esse. Em momento algum acreditei que era o fim; pelo contrário, foi um novo começo: três meses depois, demos início à Fundação Edvane Matias, que era um desejo antigo meu. Após um ano, inauguravamos a nova unidade moveleira de cozinhas no local e, dentro de um ano, vamos inaugurar a Liz Eletric, fábrica de eletrodomésticos”, comenta o presidente.

 

O que levou a empresa a crescer tanto?

Ousadia, determinação e disciplina são as principais características que fizeram essa família cearense chegar onde chegou. Para o gerente comercial Ítalo Bezerra, a Tubform tem duas grandes qualidades: uma delas é a visão clara que tem do futuro e, em segundo lugar, o poder de realização que a empresa possui, mesmo com os problemas de percurso. “É o pensar e fazer, a capacidade de realização”, comenta o colaborador.

Nada disso seria possível, entretanto, se a empresa não possuísse uma política clara de valorização dos colaboradores. “Em primeiro lugar, as pessoas. Eu acho que, se a gente não tivesse a equipe, não estaríamos onde estamos. Se meu colaborador está bem, a unidade de negócio está melhor, mais rentável. O capital humano aqui é muito bom, temos mais de mil colaboradores e somos uma empresa sem reclamação trabalhista. A gente respeita muito as pessoas e elas gostam de trabalhar aqui. Primeiro, porque as tratamos com respeito e sempre tentamos descobrir o que podemos fazer a mais pra elas, tentando melhorar o nível de cada um”, comenta Edvane.

Para incentivar e motivar a equipe frequentemente, a empresa possui um calendário de eventos voltados para os funcionários. “Temos o Dia D Crianças, que reúne de 600 a 800 crianças por ano; a Festa das Debutantes, que oferecemos para as filhas dos funcionários que estão completando 15 anos; a Festa de São João, que reúne 2 mil pessoas; a Festa de Natal; o Aniversariantes do Mês, em que se toma café da manhã na empresa com a diretoria, fora as atividades para a comunidade externa”, comenta Mônica.

O resultado disso é que as pessoas gostam muito de trabalhar na empresa. “Eu, como RH, cobro muito, mas procuro ser a mais justa possível. Quando as pessoas são punidas e não foram injustiçadas, elas entendem e aceitam. A gente tenta sempre resgatar os funcionários. Não admitimos que o colaborador seja demitido sem que, primeiro, se converse com ele duas ou três vezes. Só depois é que vamos para a demissão. Nossa rotatividade é bem fraca. A gente cobra muito, mas as pessoas trabalham à vontade”, completa.

Além do cuidado com os colaboradores, a Tubform passou a ajudar a comunidade com a Fundação Edvane Matias, que foi construída logo depois do incêndio. Foi uma maneira de ganhar forças depois do incidente. “Deus é tão bom com a gente que já permitiu que meu irmão realizasse seus dois sonhos. Primeiro, ele abriu a fundação; depois, comprou o avião”, comenta a irmã, Mônica.

“A Fundação era um sonho que eu tinha. O forte dela é inclusão social em software livre. Nesses dois anos, já fizemos aproximadamente 10 mil atendimentos. Temos uma unidade móvel que vai para comunidades carentes, nas quais 90% das pessoas nunca tiveram oportunidade de ficar na frente de um computador”, comenta o presidente.

Os melhores alunos dos treinamentos de inclusão digital recebem um estágio remunerado no Grupo. “Hoje, 12% da nossa equipe é de pessoas que vieram desse trabalho. São colaboradores fantásticos”, afirma o diretor. As outras atividades desenvolvidas são reforço escolar e alimentar, dança, teatro, coral e educação de jovens e adultos.

 

Os rumos para o futuro

Como a empresa pretende crescer ainda mais nos próximos anos, a Tubform contratou a Solução Comercial, consultoria empresarial da VendaMais para ajudar a organizar a estrutura de vendas. “A empresa cresceu bastante e em um curto espaço de tempo. Você termina sentindo uma dificuldade muito grande de administrar. A orientação da consultoria tem nos dado um norte muito grande na área comercial. Temos uma equipe boa, só precisa ser capacitada. Vamos chegar onde a gente precisa”, comenta o diretor administrativo-comercial e sócio, Edione Matias Vieira.

            Uma das mudanças proporcionadas pela consultoria até o momento foi a criação da Central de Vendas, um departamento formado dentro da empresa para acompanhar os representantes externos, oferecendo informações sobre produtos, entregas, prazos, pagamentos, logística e todas as informações necessárias para que a venda e o atendimento ao cliente final aconteçam da melhor maneira. “Como antes não havia uma Central de Vendas, o fluxo de informações era muito divergente, pouco convergente. Agora, a informação chega mais rápido e se tem uma resposta clara”, comenta o gerente Ítalo.

A Central de Vendas ainda é embrionária, segundo Edvane, mas já está funcionando. “O relacionamento melhorou com a equipe na rua e com o cliente. Hoje, eles têm muitas informações e são mais acompanhados. Mesmo crescendo 25% por ano, queremos dobrar essa performance e crescer 50% por ano”, comenta o diretor. O objetivo do empreendedor é faturar R$500 milhões em 2015. Alguém duvida?

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