Usiminas

Capacidade de sair fortalecida da crise e gerar valor no longo prazo Desde o estouro da bolha do subprime, em outubro de 2008, o setor siderúrgico brasileiro vem enfrentando muitas dificuldades. Em grande parte, isso se deve ao fato de ele ser um grande exportador e estar sofrendo com a crise. Além disso, é preciso considerar a retração no mercado interno, que mesmo em circunstâncias normais não é capaz de absorver toda a produção. A conjuntura desfavorável reduziu fortemente a demanda mundial e afetou os preços do aço, causando quedas de 40% a 60%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

Resultados e perspectivas do setor siderúrgico
O IBS aponta que, desde julho de 2008, o consumo de aço nos países desenvolvidos caiu cerca de 50% e que a maioria dos produtos mais relevantes na pauta de exportações de aço do Brasil está sendo comercializada a preços inferiores aos custos: ?Isso é o reflexo de uma situação de queima de estoques por empresas que necessitam fazer caixa ou uma política comercial agressiva por parte de siderúrgicas de outros países que tentam manter níveis mínimos de produção?. O gráfico abaixo exibe a evolução da produção de aço brasileira, desde janeiro do ano passado.

Fonte: IBS

Em entrevista ao Valor Econômico, Flávio Roberto Silva de Azevedo, presidente do IBS, disse que é a primeira vez que isso ocorre no setor siderúrgico brasileiro. Em outras crises, as usinas compensavam a retração interna através de mais exportações, mesmo com margem menor, já que elas representavam entre 30% e 40% da produção total: ?Agora, o mercado externo não existe, pois encolheu mais que o nosso, que ficou sem condições de absorver todo esse excedente?.

Os recentes resultados divulgados pelas empresas siderúrgicas, em especial a Usiminas, comprovam o mau momento que o setor atravessa. Os relatórios do 4T08 e 1T09 apresentaram baixas em comparação aos anteriores. Para os analistas da SLW Corretora, os resultados do primeiro trimestre da Usiminas surpreenderam negativamente. ?Além de ficar muito abaixo de nossas expectativas e do consenso do mercado, ainda foi reportado prejuízo à linha final, evento que não ocorria desde 2006. O impacto da crise econômica continua afetando fortemente a companhia, que optou por abafar três de seus altos-fornos para ajustar suas operações ao menor nível de demanda existente, reduzindo sua capacidade de produção para 50% no período. Com isso, a Usiminas realizou um volume de vendas físicas de um milhão de toneladas, que ficou inferior em 44% em relação ao 1T08 e em -28% ao 4T08?, afirmam.

Os analistas da Coinvalores acreditam que 2009 é um ano perdido para a Usiminas. No entanto, reforçam que esse é um cenário de curto prazo e que o setor deve se recuperar nos próximos anos: ?Trabalhamos com uma queda de 20% a 25% na produção e 20% nas vendas para 2009. Entretanto, passado o cenário de curto prazo, a expectativa é de que o segmento volte a crescer. Os principais responsáveis por isso serão a construção civil e os eletrodomésticos de linha branca, beneficiados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O setor automotivo deve dar uma acalmada, pois o maior efeito da redução do imposto já aconteceu. Devemos vislumbrar uma retomada nos países emergentes e estabilização nos desenvolvidos em 2010 e 2011?.

Taxa de importação volta a ser cobrada
Em 2005, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) extinguiu a taxa de 12% que era cobrada dos importadores de aço em função do aumento do preço do produto nacional na época. No entanto, com o agravamento da crise, as siderúrgicas brasileiras passaram a sofrer com a forte concorrência das estrangeiras, por isso a IBS iniciou um movimento com a intenção de pressionar o Governo Federal para que as tarifas voltassem a ser cobradas. As ações deram resultado e, no começo de junho, a Camex anunciou a volta da cobrança, com a taxa de 12% e, em alguns casos, 14%.

Usiminas
Inserido nesse contexto se encontra o Sistema Usiminas. A empresa foi fundada em 1956 no pequeno vilarejo Horto de Nossa senhora (atual Ipatinga) durante um momento de euforia e otimismo gerado pelo Plano de Desenvolvimento, do governo Juscelino Kubitscheck. Passado meio século, hoje a Usiminas é a maior fornecedora de aços planos do Brasil, com capacidade para fabricar 9,5 milhões de toneladas por ano, o que a coloca como responsável por 25% da produção siderúrgica brasileira.

A empresa possui duas usinas integradas, uma localizada em Ipatinga, MG, e outra em Cubatão, SP, responsáveis pela fabricação de aços semiacabados, laminados e revestidos. Além disso, atua no ramo de infraestrutura portuária, logística, distribuição e serviços. A maior parte de sua produção é destinada ao mercado interno. Líder no segmento de aços planos, a Usiminas está à frente de companhias como CSN e ArcelorMittal, o que a torna a principal fornecedora de aços planos para os diversos setores da indústria brasileira ? automobilístico, autopeças, naval, tubos de grande e pequeno diâmetros, construção civil, máquinas e equipamentos, distribuidores e eletroeletrônicos ? com participação de mercado próxima a 45%. No exterior, atende a muitas regiões da América do Norte, América Latina, Europa e Ásia.

Ruim no curto prazo, boa no longo prazo
A liderança de mercado concede à Usiminas uma certa garantia de que, passados os efeitos negativos da crise, o crescimento será retomado. ?Claro que os resultados do 1T09 não foram favoráveis em razão da queda acentuada de volume, mas o mercado já mostra sinais de melhora. Para o 2T09, espera-se um volume de vendas 15% maior. É uma recuperação lenta, mas progressiva. No segundo semestre, esperamos resultados mais expressivos em termos de vendas e produção?, projeta Rafael Weber, analista da Geração Futuro Corretora de Valores.

Na visão de Weber, a Usiminas soube lidar com a crise, pois reduziu sua produção e fez uma célere contenção de custos e despesas: ?Rapidamente, a empresa fez um corte acentuado na produção para adequar sua oferta à nova realidade do mercado. Além disso, colocou em curso um plano de contenção de custos e despesas através de um elevado montante de R$1,2 bilhões e fez ajustes no seu plano de investimentos, postergando as etapas de conclusão da nova usina de Santana do Paraíso, em MG. A usina, que vai produzir 5 milhões de toneladas por ano, sofreu alguns ajustes nos prazos das etapas de construção de forma a entrar em operação, possivelmente, em dois anos além do estimado ? a previsão era que ela começasse a funcionar no primeiro semestre de 2011?.

Para Weber, essas medidas foram acertadas, pois possibilitaram que o resultado do primeiro trimestre, apesar de ruim quando comparado ao mesmo período de 2008, já apresentasse sinais de melhora em relação ao fim do ano: ?Com essa pequena recuperação nos volumes produzidos e vendidos e um corte de custos fixos, podemos esperar melhoras para os próximos trimestres?.

A Usiminas entende que os resultados do 1T09 foram prejudicados pela retração da demanda, mas sinaliza que a partir do segundo semestre deve haver uma retomada do crescimento. ?A projeção é de que a redução dos estoques de aço e produtos acabados nas diversas cadeias produtivas aliada a medidas que estão sendo tomadas pelo governo (ampliação de linhas de crédito, redução de impostos e taxas de juros e aumento dos investimentos em infraestrutura), promovam uma situação favorável de crescimento tanto para a Usiminas quanto para o mercado?, informa a empresa, através de um relatório.

No entanto, mesmo com essa retomada, os números de 2009 devem ficar abaixo dos registrados em 2008, ano que teve o mercado aquecido durante seus primeiros nove meses. A consultoria Lopes Filho & Associados compartilha da visão da companhia e informa que, apesar do cenário negativo, a Usiminas deve apresentar recuperação a partir do segundo semestre, mas ainda assim com ressalvas ao curto prazo. ?Mesmo com o mercado em crise, acreditamos em uma lenta e gradual melhora nesse período, porém em patamares inferiores aos registrados nos primeiros noves meses de 2008. Apesar de a economia brasileira apontar alguns sinais de recuperação, achamos que 2009 será extremamente difícil e as expectativas apontam para uma melhora bem mais lenta que a originalmente prevista para o setor siderúrgico?, informa a Lopes Filho, por meio de um relatório.

Motivos que fazem o investimento na USIM5 ser atrativo, de acordo com a Geração Futuro
» Elevada exposição ao mercado interno, o que torna o desempenho da companhia diretamente correlacionado ao crescimento da economia brasileira, particularmente da atividade industrial, cujas perspectivas são de recuperação e crescimento futuro a partir de juros menores, maior disponibilidade de crédito e manutenção na renda, com reflexos positivos sobre margens e rentabilidade.

» Posicionamento destacado em segmentos com expectativa de forte crescimento para os próximos anos ? tubos de grande diâmetro, indústria naval (chapas grossas) e setor automotivo (laminados e revestidos).

» Um novo ciclo de investimentos, o que proporcionará expansão da capacidade instalada, enobrecimento no mix de produtos e fortalecimento de sua competitividade como principal fornecedor de laminados planos para o mercado brasileiro.

» Crescimento de longo prazo associado à redução do custo de capital, o que contribui para maior geração de valor.

» Reorganização do bloco de controle e da estrutura executiva, que indicam aceleração do crescimento da companhia, fortalecimento do posicionamento competitivo no setor e avanço nos aspectos de governança corporativa.
Fonte: Instituto Nacional de Investidores (INI)


A forte atuação no mercado interno é a válvula de crescimento

O crescimento da Usiminas está atrelado ao desempenho dos setores automobilístico, naval, de autopeças, equipamentos agrícolas, industriais e eletrônicos. Atualmente, 70% de sua produção são para atender a essa demanda interna, e é consenso entre os analistas que isso é positivo para a empresa.

O que impulsiona esse crescimento é o setor automobilístico. ?Há muito tempo, a Usiminas não tinha prejuízos. Ela tem apresentado resultados ruins em função da queda da demanda e produção. Mas, apesar de tudo isso, não está fragilizada, dependendo apenas do mercado retornar aos seus níveis normais. Hoje, a Usiminas ainda consegue ter um desempenho relativamente bom porque a indústria automobilística brasileira não está refletindo o que acontece no restante do mundo. A produção e as vendas de carros aqui têm sido boas. Por isso, acredito que ela terá uma melhora gradual, mês a mês?, estima Pedro Galdi, analista da SLW Corretora.

Weber segue o mesmo raciocínio e ressalta que poucos países estão conseguindo crescer em termos de vendas de veículos, fato que ocorre no Brasil desde que o governo reduziu a cobrança do IPI. Outro ponto positivo destacado por ele são os incentivos à construção civil promovidos pelo Governo Federal: ?Mesmo não sendo esse o foco de atuação principal da Usiminas, os incentivos fomentam a atividade das distribuidoras de aço. Por fim, a isenção da cobrança do IPI nos produtos de linha branca também está causando impacto positivo na recuperação do setor siderúrgico e, consequentemente, da Usiminas?.

Gilberto Cardoso, analista do setor de mineração e siderurgia da Banif Security, compartilha da opinião dos analistas e reforça: ?O Brasil passa por uma situação de oferta e demanda de aço melhor que a de outros países. Hoje, só perdemos para o mercado asiático. Portanto, ser focada no mercado interno é um grande diferencial para a empresa, pois, apesar de ele ainda ser pequeno, é bastante cativo?.

A participação do aço nos automóveis

 

Gol

Astra

Peso total do veículo (fabricante)

903 kg

1.180 kg

Peso dos componentes feitos em aço

503 kg

594 kg

Participação do aço no peso total do automóvel

55,7%

50,3%

Quantidade de aço para a fabricação dos componentes

749 kg

1.014 kg

Valor do aço necessário para a produção dos componentes (1)

R$2.302,29

R$3.211,49

Valor de aquisição do veículo (2)

R$22.990

R$49,5 mil

Participação do aço no valor de venda do automóvel

10,01%

6,49%

(1) Preços médios praticados em vendas diretas (CIF-SP) à vista e com impostos, em janeiro de 2005.
(2) Valor de aquisição do automóvel à vista em SP, em maio de 2005.
Data de realização do estudo: 2005
Fonte: IBS

Pontos fortes da Usiminas

» Maior produtora de aços planos da América Latina, com elevada participação de mercado nos segmentos em que atua no País.
» Expectativa de retomada do crescimento a partir do segundo semestre de 2009 por parte dos setores que demandam aço.
» Intensificação das vendas para segmentos que não estão sentindo tão fortemente a crise como o de energia e indústria naval.
» As medidas previstas no PAC, com mais incentivos ao setor de construção civil e infraestrutura, deverão produzir um efeito benéfico.
» A desvalorização do real em relação ao dólar impacta positivamente o faturamento devido às exportações.

Pontos fracos da Usiminas
» Desaquecimento da demanda externa, em especial no hemisfério norte e Europa.
» Indicação de queda dos preços dos produtos siderúrgicos.
» Intensidade dos cortes de produção e postergação dos investimentos.
» Possibilidade de retração na demanda de setores altamente dependentes de aço.
» Perspectiva de queda de aproximadamente 20% nas vendas físicas em 2009.
Fonte: Lopes Filho

Análise econômico-financeira

Dados de balanço (R$ milhões)

31/12/2007

%

31/12/2008

%

31/03/2008

%

31/03/2009

%

Ativo total

20.698,00

100,00

27.850,00

100,00

18.212,00

100,00

26.939,00

100,00

Patrimônio líquido

12.474,00

60,27

15.028,00

53,96

13.181,00

72,38

14.717,00

54,63

Receita líquida

13.824,00

100,00

15.706,00

100,00

3.553,20

100,00

2.670,20

100,00

Lucro bruto

4.888,30

35,36

6.008,10

38,25

1.233,30

34,71

589,00

22,06

Ebitda

5.163,20

37,35

5.851,10

37,25

1.167,10

32,85

306,81

11,49

Resultado financeiro

-6,23

-0,05

-1.187,00

-7,56

35,36

1,00

-95,57

-3,58

Lucro líquido

3.187,40

23,06

3.224,40

20,53

712,02

20,04

-111,80

-4,19

Obs.: apenas o balanço de 2008 adota a Lei das S.A. 11.638/07.
Fonte: Lopes Filho

Indicadores fundamentalistas

Ind. Mercado (12m)

03/2008

12/2008

03/2009

Preço/Lucro (x)

10,19   

4,06

5,90

Preço/Valor patrimonial (x)

2,47

0,87     

0,99

Dividend yield (cot fim) %

4,26%

9,61%  

8,19%

Valor mercado $

32,38 B

13,09 B

14,56 B

Price/Sales Ratio (x)

3,46

0,83

0,98

Dividendo pago por ação $

2,7947

2,5481

2,4155

Ind. Financeiro (12m)

03/2008

12/2008

03/2009

Lucro por Ação (LPA) $

6,4350

6,5325

4,9966

Valor Patrimonial por Ação (VPA) $

26,581 

30,4476

29,8165

Margem bruta %

35,44%

38,25%

36,19%

Rentabilidade Patrimonial Líquida (RPL) %

24,21%

21,45%

16,76%

Margem líquida %

22,62%

20,53%

16,64%

Dívida bruta/Patrimônio líquido %

29,84%

44,52%

48,46%

Liquidez corrente (x)     

2,17

2,69

2,99

Fonte: GuiaInvest

Com a palavra, os analistas

Equipe Coinvalores
?Para quem está olhando o longo prazo, o setor siderúrgico é uma boa opção, pois tem grande potencial de crescimento. Mas no curto prazo vai ter volatilidade. O investidor precisa saber qual é o seu perfil e apetite para o risco do curto prazo. Nossa recomendação é de compra. Apesar do cenário de curto prazo não ser otimista, o de longo prazo é relevante. Estimamos um crescimento forte em 2010?.

Rafael Weber ? Geração Futuro
?Nós temos uma posição relevante em carteira. É importante dizer que no Brasil a crise se mostra um pouco mais amena que no restante do mundo, e o governo efetivou várias medidas para impulsionar a economia. As empresas em que investimos são sólidas e apresentam boa capacidade de gerar valor aos acionistas, além de terem conseguido rapidamente se tornar mais eficientes nesse momento de crise e contornar o cenário mais complicado através de medidas claras, como: corte de gastos, contenção de despesas, postergação de investimentos, etc. Essas medidas as apoiam nesse período de transição para uma nova realidade de mercado?.

Pedro Galdi ? SLW Corretora
?O investidor precisa ter consciência de que a crise não acabou e que um investimento no promissor setor siderúrgico, no curto prazo, vai ser volátil. Recomendamos a Usiminas, mas deixamos claro que o retorno do investimento será a longo prazo. Certamente, a empresa vai se dar bem lá na frente, por isso o retorno do investidor será a médio e longo prazos?.

Gilberto Cardoso ? Banif Security
?Os investidores devem ficar atentos à recuperação econômica. As notícias do setor não são boas até o momento e ainda não houve uma retomada da demanda, pois isso só deve ocorrer a partir de 2010?.

Preço-alvo
Coinvalores: R$41,00
SLW: R$53,33
Banif: R$35,00
Geração Futuro: R$43,64

Colaboração: João Guilherme Brotto

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