VocĂŞ sabe identificar uma verdade ou um mito sobre o que diferencia os grandes lĂderes dos demais?
Entre os pesquisadores da área de gestão e liderança, admiro muito o Jim Collins. Ele é um grande pensador e se dedica a estudar dezenas de empresas durante décadas, para embasar suas teorias a fim de entender por que algumas crescem, enquanto outras nunca saem da mediocridade e acabam morrendo. O mais interessante é que os conceitos teóricos da gestão de Collins são bons exemplos práticos de gestão e também de vida.
Depois de assistir a uma palestra dele, um excelente investimento, você pode pensar: “O que vou fazer com a minha vida?”. Uma das frases dele de que mais gosto é: “Quer realmente ter sucesso e ser reconhecido? Seja útil!”.
Boa parte do conteĂşdo de Jim Collins está em seus muito bem escritos e conhecidos livros – Feitos para durar, Good to great, Como as gigantes caem – e na obra lançada este ano e já publicada no Brasil pela HSM Editora: Vencedoras por opção (no original, Great by choice). Neste, ele dedica um capĂtulo especial para derrubar mitos que o senso comum considera como as marcas de grandes lĂderes.
Sugiro que vocĂŞ faça um teste: defina pelo menos trĂŞs caracterĂsticas de um excelente lĂder, e quais qualidades listadas vocĂŞ possui. Depois, convido-o a comparar o seu resultado com o que Collins descobriu, com Morten T. Hansen, apĂłs nove anos de pesquisa. Será que vocĂŞ sabe identificar uma verdade ou um mito sobre o que diferencia os grandes lĂderes dos demais?
Mito arraigado: os lĂderes de sucesso em um ambiente turbulento sĂŁo visionários audazes, com gosto pelo risco.
Descoberta contrária: os melhores lĂderes que Collins estudou nĂŁo tinham habilidade visionária para prever o futuro. Observaram o que funcionava, descobriram por que funcionava e trabalharam apoiados em bases comprovadas. NĂŁo estavam mais dispostos a arriscar nem eram mais corajosos, mais visionários ou mais criativos do que os executivos com os quais os comparamos. Eram, sim, mais disciplinados, mais empĂricos e mais paranoicos.
Mito arraigado: a inovação diferencia as empresas excelentes em um mundo acelerado, incerto e caótico.
Descoberta contrária: para nossa surpresa, essa afirmação não procede. É claro que as sobreviventes de crises inovaram muito. No entanto, as evidências não sustentam a premissa de que essas empresas tenham sido necessariamente mais inovadoras do que seus comparativos diretos menos bem-sucedidos. Em alguns casos mais surpreendentes, algumas dessas grandes empresas foram até menos inovadoras. A inovação, em si, acabou não sendo o trunfo; o mais importante foi a capacidade de dimensionar a inovação de combinar criatividade e disciplina.
Mito arraigado: um mundo cheio de ameaças favorece os mais rápidos: ou você corre, ou você morre.
Descoberta contrária: a ideia de que liderar em um “mundo acelerado” exige “decisões rápidas” – e que devemos abraçar um Ă©thos generalizado que implica em correr, correr, correr – Ă© uma excelente fĂłrmula de autodestruição. Os lĂderes das grandes sobreviventes percebem quando Ă© hora de acelerar e quando nĂŁo Ă©.
Mito arraigado: mudanças radicais no ambiente externo exigem mudanças radicais no ambiente interno.
Descoberta contrária: em relação às empresas de comparação, os cases estudados mudaram menos como forma de reagir a seu mundo em transformação. O fato de o ambiente externo estar sendo sacudido por mudanças drásticas não significa, necessariamente, que a empresa deva se autoinfligir mudanças radicais.
Mito arraigado: grandes empresas bem-sucedidas tĂŞm muito mais sorte que as outras.
Descoberta contrária: de modo geral, as grandes empresas não tiveram mais sorte do que seus comparativos diretos. Os dois grupos tiveram sorte – muita sorte boa e má – em quantidades equivalentes. A questão essencial não é a empresa ter sorte, e sim o que fará com essa sorte.
EntĂŁo, sua percepção de uma excelente liderança mudou? As caracterĂsticas listadas acima sĂŁo de empresas que Collins estudou na dĂ©cada de 1990, na qual o desempenho era, no mĂnimo, dez vezes maior do que o das concorrentes, por isso ele classificou-as como as empresas 10X. Entre elas estĂŁo Intel, Microsoft, Progressive Insurance, Southwest Airlines, Amgen, Biomet e Stryker.
Collins mostrou, mais uma vez, que muitas vezes as certezas que temos podem e devem ser questionadas. É isso que nos faz crescer, melhorar e prosperar. Criamos novas ondas de conhecimento e, em seguida, práticas de gestão baseadas nesse conhecimento, que melhoram empresas em todo o mundo. É um ciclo que não para. E nós também não devemos parar.
Colaboração: Evelise Toporoski
Para saber mais
- Livro: Vencedoras por opção
- Autores: Jim Collins e Morten T. Hansen
- Editora: HSM