Já devo ter comentado que, no começo deste ano, pedi aos meus alunos do GEC (o curso on-line de Gestão de Equipes Comerciais* do Instituto VendaMais) e também aos diretores de empresa que participam dos meus grupos de mentoria do V6* em Bauru (SP) e São José do Rio Preto (SP) para que fizessem uma pesquisa de engajamento entre suas equipes. A premissa era clara: de nada adianta falar de estratégia se a equipe não estiver engajada. Afinal, como disse um dos palestrantes do Small Giants Summit, evento que aconteceu em Detroit (EUA) em maio deste ano: “Culture eats strategy for breakfast” (“Cultura come estratégia no café da manhã”). Isso significa que a cultura é muito mais forte e domina qualquer estratégia. Inclusive, se você for estudar fidelização de clientes, verá que o engajamento de equipes aparece também como um dos fatores determinantes dos níveis de fidelização, pois equipes desengajadas raramente atendem bem ou dedicam-se a ter clientes fiéis/leais (Frederick Reiccheld fala bastante sobre isso no livro Princípios da lealdade, Ed. Campus, 2002).
Essa pesquisa que realizei com as empresas tem 20 perguntas, respondidas com uma nota de 0 a 10 e que definem o nível de engajamento de uma equipe. Com mais de 2 mil questionários respondidos até agora, eu esperava mais ou menos uma distribuição normal, com uma curva de sino como resultado – ou seja: de 10 a 15% das empresas com notas excelentes (acima de 9), de 70 a 80% com notas médias (entre 6 e 8), e de 10 a 15% com notas baixas/ruins (abaixo de 6). Mas o que percebi, para minha surpresa, foi uma verdadeira pirâmide: pouquíssimas empresas com notas boas/médias e um grupo inacreditavelmente grande de empresas com notas muito baixas. O que mais chamou minha atenção, no entanto, não foram apenas as notas em si, mas em quais pontos as equipes estavam dando nota baixa para seus líderes. Veja só a lista de perguntas que obtiverem as oito notas mais baixas:
- A comunicação da empresa com você é aberta, franca e honesta?
- Que nota você dá para o plano de treinamento e desenvolvimento?
- Alguém da empresa falou com você sobre seu progresso nos últimos seis meses?
- A lealdade de clientes é estimulada?
- Sua empresa atrai e retém profissionais de excelente qualidade?
- Vocês têm uma estratégia clara definida para lidar com um mercado cada vez mais concorrido?
- Existe alguém na empresa que estimula e encoraja o seu crescimento profissional?
- Você acredita que sua empresa estabelece padrões de excelência e é uma referência positiva no ramo?
Não é preocupante?
Conheça o GEC acessando bit.ly/GEC-IVM.
Apresentei a metodologia V6 na reportagem de capa da VendaMais de setembro/outubro de 2016. Leia acessando bit.ly/v6-VM.
Vamos parar um pouco e refletir. Releia com calma a lista acima e me diga: você acha que o problema da baixa de vendas é apenas da equipe? Ou é reflexo de uma liderança desajustada, desalinhada e fraca?
Esse é um assunto que temos debatido cada vez mais aqui na VendaMais. Não dá para criar programas de treinamento em vendas, consultoria, mentoria, campanhas de venda e revisão de estratégia sem a participação direta da liderança da empresa.
A verdade é a seguinte: toda empresa tem a equipe de vendas que merece! Uma empresa que não investe de verdade em ter a melhor equipe de vendas que poderia (desde um processo robusto de recrutamento e seleção até treinamento, remuneração adequada, indicadores de performance, feedback constante e assim por diante), não vai ter os resultados que que gostaria de ter ou os que fica torcendo para ter, mas os que merece.
Os mandamentos de Kotler e o engajamento
Recentemente, estava entrevistando Sérgio Almeida, autor do livro Cliente, eu não vivo sem você (relançado recentemente pela Editora Madras), para meu programa no YouTube Entrevista VendaMais*, e ele citou os dez mandamentos do marketing 3.0 do Philip Kotler. Apesar de o livro já ter mais de dez anos de mercado, ele continua sendo muito relevante (aliás, eu diria que no Brasil é até mais relevante hoje do que quando foi lançado. Para saber mais sobre a obra, leia a reportagem da seção Enciclopédia VendaMais desta edição. Ela se inicia na página 32).
Enquanto Almeida fala, em seu livro, sobre as vantagens e os benefícios materiais, filosóficos e espirituais de atender bem e tem como um de seus principais mandamentos “Ame seus clientes como vantagem competitiva”, Kotler fala sobre iniciativas colaborativas, culturais e espirituais para as ações de marketing com foco no cliente. O próprio Almeida, por sinal, já falava – anos atrás – sobre vários desses mandamentos, mas como santo de casa não faz milagre, precisou vir um guru internacional para mexer com a gente. Mas, enfim, precisamos fazer justiça e dar honra ao mérito: em termos de clientologia, o Sérgio Almeida é world class!
Vamos relembrar os dez mandamentos do marketing 3.0 do Kotler (note como todos eles – quando vividos por toda a empresa – levam claramente a uma melhora das notas do teste de engajamento):
- Ame seus clientes e respeite seus concorrentes.
- Seja sensível à mudança e esteja pronto para se transformar.
- Proteja seu nome e sua marca; deixe claro quem você é.
- Lembre-se de que um cliente é diferente do outro; procure primeiro atender a quem pode se beneficiar mais rapidamente com você.
- Ofereça sempre uma proposta de valor excelente por um preço justo.
- Esteja sempre disponível.
- Conheça e cultive seus clientes. Conquiste outros.
- Entenda que não importa em qual setor você atua, você sempre estará no setor de “serviços”.
- Aperfeiçoe sempre seu processo de negócio em termos de qualidade, custo e entrega.
- Colete informações relevantes e use a sabedoria para usar essas informações para decidir.
Essa lista, como toda checklist, é um excelente teste de avaliação. Como será que sua empresa está em relação a isso? Como está sua liderança?
É um teste simples: pegue todas essas dez frases e transforme em perguntas:
- Amamos nossos clientes? Respeitamos nossos concorrentes?
- Somos sensíveis à mudança e estamos prontos para mudar?
- Protegemos nosso nome e nossa marca? Eles deixam bem claro quem nós somos (e no que acreditamos)?
- Damos foco aos clientes que mais podem se beneficiar com o que vendemos?
- Oferecemos uma proposta de valor excelente, com preço justo?
- Estamos sempre disponíveis (mesmo quando o cliente tem uma reclamação ou sugestão)?
- Conhecemos e cultivamos o relacionamento com nossos clientes?
- Entendemos que estamos no setor de serviços (mesmo que vendamos produtos) e que atendimento nota 10 é sempre o grande diferencial?
- Estamos permanentemente buscando formas de melhorar nossos processos de negócios, como qualidade, custo e entrega?
- Estamos coletando informações relevantes e usando-as para tomar decisões inteligentes/sábias?
Num momento em que temos cada vez mais incertezas políticas e econômicas, precisamos de líderes que guiem suas equipes da melhor forma possível. Nada melhor do que analisar os erros que andam sendo cometidos e utilizar os mandamentos do Kotler para definir muito mais claramente o que podemos fazer para nos diferenciarmos da concorrência e atrairmos clientes de maneira sustentável e lucrativa.
E tudo começa com o engajamento da sua equipe de vendas. Precisamos parar com o mesmo discurso, prestar atenção ao que realmente está acontecendo, estar abertos ao feedback da equipe e definir isso claramente como prioridade número um.
Sem equipe engajada de verdade, nada acontece, pois, no fim das contas, engajamento também come estratégia no café da manhã!
Abraços engajados e boas vendas,
Acesse bit.ly/entrevista-Sergio-Almeida para assistir à entrevista.