A LIDERANÇA NOS TEMPOS DO ÓCIO

Todos já ouviram falar do sociólogo italiano Domenico de Masi, autor de O Ócio Criativo (Editora Sextante). Todos já ouviram falar do sociólogo italiano Domenico de Masi, autor de O Ócio Criativo (Editora Sextante). É uma daquelas obras e teorias que agradam pelo nome, feita sob medida para uma ou outra desculpa.

E, nisso, muitas pessoas param aí. Citam o nome do autor, a expressão ?ócio criativo?, sem saber o que ela significa, e como usar tais conceitos em seu trabalho e na sua equipe. Veja algumas lições de Domenico de Masi para você:

A empresa busca algo mais.
Parece que, de uma hora para outra, as empresas começaram a se importar com projetos sociais, e envolver seus funcionários em programas de qualidade de vida, desde rápidas lições de higiene, até a implementação de períodos sabáticos, onde a pessoa passa um tempo fora da empresa, cuidando da vida. Para de Masi, isso é o reflexo da procura de um ?algo mais? pelos empresários e líderes. Isso é necessário porque o ciclo de produzir mais por menos está muito próximo do limite. Em muitos mercados, estamos próximos de empresas com aproveitamento máximo de recursos, produtividade no melhor nível possível, custos controlados, ali, centavo a centavo.

E agora? Conseguimos isso, mas nossos concorrentes continuam crescendo, continuamos a perder mercado. A saída é concentrar-se em fazer uma empresa, uma equipe feliz, que produza mais, tenha idéias diferentes. O desafio que marcará a liderança de hoje é inventar e difundir uma nova organização, capaz de elevar a qualidade de vida e do trabalho, fazendo alavanca sobre a força silenciosa do desejo de felicidade.

Quebrar o condicionamento.
Domenico de Masi conta a história de uma faculdade na qual foi prestar consultoria. Os alunos se queixavam da falta de espaço para estudar, do ambiente apertado, salas pequenas… O autor perguntou então, se tal fenômeno ocorria apenas no inverno, já que o prédio era cercado por espaçosos gramados, onde qualquer um poderia colocar uma cadeira, sentar, ler e escrever à vontade, e ainda curtir um solzinho. Os alunos responderam que era proibido usar a grama. O autor foi pesquisar e descobriu que tal proibição não existia, que os gramados poderiam ser aproveitados. Mesmo assim, nenhum estudante se atreveu a usar a grama. Na sua empresa, é a mesma coisa. Existe um condicionamento a uma série de leis não escritas, que prejudica a produtividade, o bom-senso e o andamento dos trabalhos. Identifique esses processos burocráticos e lute contra eles.

Sempre no escritório.
O verdadeiro sentido do ócio criativo vem da diluição das fronteiras entre trabalho e lazer. Pois uma mente criativa e comprometida está sempre ligada ao seu trabalho.

Tudo o que essa pessoa faz e pensa pode ser traduzido em algo útil. É ver algo que pode ser aplicado no trabalho ao passear com o filho, e anotar o plano ali mesmo. Ao mesmo tempo que é poder sair do trabalho numa quarta-feira, às duas da tarde, para pegar um cineminha. Essa flexibilidade começa a aparecer em algumas organizações, mas é preciso alcançar uma mentalidade madura para que ela se instale. A mudança não acontece devido a uma ordem ou programa imaginado por uma pessoa. Precisa vir de dentro da empresa, uma mudança em todos os níveis.

Mais que resultados.
Organizar cientificamente todos os fatores de uma empresa (idéias, capital, trabalho, matéria-prima, estabelecimento, informações) que até agora eram combinados, na melhor das hipóteses, com base no simples bom-senso e significava obter resultados quantificadamente supreendentes em relação ao passado. Portanto, a organização era intrínsica, automática e indiscutivelmente positiva. Organizar-se cientificamente significava ser tanto moderno como democrático, pois os números mostravam tudo o que interessava, sem discussões. Agora, exige-se mais. A empresa de agora não é a participação no pacote acionário, não é a participação nos lucros ou na gestão, não é a automação dos escritórios, não é o teletrabalho, não é a motivação, não é o network, não é a qualidade total. A organização que se desenha agora é uma completa e radical transformação mental, graças aos operários, os empregados, os executivos, os profissionais, os dirigentes, os proprietários e os consumidores, que devem introjetar um novo modo de considerar as categorias de tempo, espaço, lucro, concorrência, solidariedade, ecologia, qualidade de trabalho e vida. Esses últimos são mais difíceis de mensurar, mas fazem a diferença no resultado final, lucro ou prejuízo. Não é preciso apenas trabalhar, mas estar bem para trabalhar bem.

O desafio da felicidade.
Para Domenico de Masi, a empresa como a conhecemos hoje é incapaz de motivar os empregados que ela tem fixação em controlar. O que ela produz, na verdade, é desemprego e mercadorias cada vez mais inúteis. Dentro, realiza procedimentos cada vez mais insensatos e pessoas cada vez mais infelizes.

A saída, diz, é começar a pensar nas organizações não como máquinas, não como pirâmides, não como cérebros, mas como cérebros de cérebros, como colméias. Isso traz a vantagem de compreendermos características indispensáveis ao novo estilo de trabalhar:

  • flexibilidade dos deveres
  • possibilidade do intercâmbio de funções
  • primazia do sistema informativo e da criatividade
  • colaboração
  • solidariedade
  • passagem de tempo definido para tempo escolhido
  • recusa de local de trabalho fixo e fechado para a produção de idéias
  • capacidade de operar em mais lugares e de outros modos, de repousar e folgar

São dois os melhoramentos que essa forma de trabalhar traz: maior motivação e solidariedade, como nas organizações voluntárias, e maior fertilidade de idéias, como nos grupos criativos.

Treinamento.
Com a velocidade do aperfeiçoamento da tecnologia, não adianta ensinar a lidar com esse ou aquele programa de informática. É preciso desenvolver a atitude mental que serve para entender a lógica do computador, da finalidade daquele programa. Só assim poderemos usar o que aparece e trocar por alternativas melhores depois. Também é importante assumir como objeto de reflexão e planejamento não só o tempo dedicado ao trabalho, mas também o tempo livre. A pedagogia da idade industrial ensinava a separar as duas coisas: trabalho era trabalho, diversão era diversão. Hoje, ao contrário, trabalho e lazer se misturam e se potencializam reciprocamente.

Para Saber Mais: Criatividade e Grupos Criativos e O Ócio Criativo (Editora Sextante ? www.sextante.com.br).
O Futuro do Trabalho – Fadiga e ócio na sociedade pós-industrial (José Olympio Editora).
Onde encontrar: www.livrariascuritiba.com.br.

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