A retomada econômica é uma realidade ou ainda temos um longo caminho pela frente?

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Até que ponto o recente crescimento da economia brasileira é fundamentado? Quais setores estão com perspectivas melhores e piores para os próximos anos? Que cuidados precisam ser tomados em um ano afetado pelo calendário eleitoral? E, principalmente, onde estão as oportunidades para sua empresa vender mais? Há espaço para explorar outros mercados e novos canais de vendas?

Para responder essas e outras perguntas e aprofundar o tema central da reportagem de capa desta edição sob o viés macroeconômico, conversamos com Felipe Souza, especialista em macroeconomia e economista chefe da Lafis Consultoria.

Na Lafis, Souza comanda uma equipe de economistas que fazem análises macroeconômicas e produzem relatórios setoriais sobre 61 segmentos da economia brasileira e sobre todas as empresas com ações negociadas na B3 (a bolsa de valores oficial do Brasil, antiga Bovespa). Entre seus clientes estão boa parte das maiores empresas do país, que se baseiam nos estudos da consultoria para tomar decisões estratégicas e operacionais.

Nas páginas a seguir, Souza analisa os resultados mais recentes da economia brasileira e ajuda você a entender o que deve vir por aí. Compreender tudo isso facilitará sua jornada em busca de resultados cada vez melhores. Acompanhe!

VendaMais – O crescimento de 1% do PIB em 2017, após dois anos de retração, foi comemorado pelo Governo e destacado pela mídia. No entanto, essa euforia nem sempre é refletida no faturamento das empresas e no bolso do consumidor. Afinal, a crise ficou para trás?

Felipe Souza – É verdade que tivemos esse crescimento, mas é preciso analisar os detalhes.

Por exemplo: sozinho, o setor agropecuário, que corresponde a 5,35% do PIB nacional, foi responsável por 0,69% deste crescimento de 1%. Ou seja, mesmo com uma participação baixa no total, um único setor correspondeu a praticamente 70% do crescimento de 2017. Além disso, esse crescimento do agronegócio não está ligado a um desenvolvimento tecnológico e/ou a um aumento de produtividade, mas principalmente a condições climáticas favoráveis. O mesmo fator clima, que há alguns anos contribuiu para o aumento da inflação em razão da baixa produção, que gerou uma alta no preço dos alimentos, em 2017 teve uma condição inversa. Esse é um alerta importante a respeito do crescimento do PIB. Afinal, se as condições climáticas não permanecerem favoráveis – e não é sempre que temos condições climáticas que garantem safras recordes –, esse crescimento não é sustentável.

E nos outros segmentos, que análise podemos fazer?

O PIB da indústria manteve-se estagnado. A indústria de transformação, extrativa e mineral até cresceu, mas foi neutralizada pela queda do PIB do mercado de construção. Só ele caiu 5% e foi suficiente para compensar a retomada do PIB da indústria de transformação, extrativa e mineral, e fez com que o PIB geral do setor se mantivesse estagnado.

O impacto do setor de serviços no total do PIB foi de 0,22%, e foi muito influenciado pelo crescimento do PIB do comércio, que subiu 1,8% porque foi beneficiado pelo impacto da liberação do FGTS, que é um estímulo estanque, não de fluxo. O mais importante a observar é que não houve uma mudança no padrão de consumo das famílias. Tivemos uma alta no estoque disponível de recursos. E essa alta, ao longo do tempo, volta ao nível normal. A curto prazo não podemos esperar, por exemplo, a continuidade desse crescimento do PIB do comércio porque o FGTS já foi liberado e foi utilizado.

E qual é a tendência para daqui em diante?

Depois desse crescimento de 1%, que é um crescimento com esses vários “poréns” que comentei, para os próximos anos teremos um crescimento médio de 2,7% e 2,8% ao ano. As projeções da Lafis apontam o seguinte cenário:

  • 2018: 2,7%
  • 2019: 3,1%
  • 2020: 2,2%
  • 2021: 2,5%
  • 2022: 2,7%

É um fato que nos dá esperança em um primeiro momento. Mas há algumas ressalvas. A primeira é que esse crescimento médio de 2,7% ou 2,8% é bem próximo ao nosso PIB potencial, que hoje está entre 2,9% e 3%. Porém, há dois anos, diversos economistas apontavam 3,5% (inclusive nós mesmos). Ou seja, tivemos uma redução dessa potencialidade da força produtiva do Brasil em meio ponto percentual.

Com a crise, é normal que se tenha destruição de postos de trabalho e de unidades produtivas tanto na indústria como em serviços – máquinas que ficam obsoletas e não são repostas, vagas de trabalho que saem do radar de contratação etc. Isso faz com que o PIB potencial diminua, o que gera um impacto muito significativo. Se antes a economia tinha condições de crescer 3,5% sem que houvesse um desequilíbrio entre oferta e demanda, inflação e outras coisas, agora nosso PIB potencial cai para 3%. Com isso, se há um crescimento acima de 3% por longos períodos sem haver investimentos, há repercussão em nível inflacionário, pois vai constituir um choque de demanda.

Portanto, há uma perspectiva de crescimento, mas em um cenário inferior ao que estava sendo projetado antes da crise. A economia está mais frágil do ponto de vista estrutural, produtivo. Por isso vamos crescer menos.

Dos 61 setores que vocês acompanham, quais são os que estão em alta?

Puxando a fila de crescimento está o setor de veículos pesados e carrocerias. São duas dinâmicas. A primeira é a retomada da compra de novos caminhões e ônibus (sobretudo caminhões) pelas empresas de transporte, dado o bom momento que o setor viveu e ainda vai viver. Temos um fluxo muito grande de commodities agrícolas. Isso faz com que a demanda para compra de veículos pesados seja estimulada. Esse é o principal motivo que o coloca em primeiro lugar. E os que estão em 3º e 5º lugar são transporte rodoviário e navegação e portos, que também estão diretamente ligados ao setor exportador. Como nosso fluxo comercial está muito forte (sobretudo de commodities de gênero agrícola e mineral), a tendência é que continue se expandindo num ritmo satisfatório, o que se reflete no faturamento dos setores.

Em destaque também estão os setores que têm seu faturamento ligado ao dólar, que serão beneficiados pelo efeito cambial favorável (mesmo não sendo um efeito real, quando é feita a conversão para dólar, há um efeito cambial positivo devido à desvalorização do Real). Entre esses setores estão o de tintas e verniz e a indústria farmacêutica, que recebem na moeda americana.

O último destaque é o e-business, que está positivo pelo fato de que o padrão de consumo das famílias não será o de consumir produtos de alto valor agregado como linha branca, mas migrar para vestuário, têxtil e alguns eletrodomésticos, que são muito ligados a plataformas de venda online. Essa é a razão de o e-business estar na lista entre os que mais vão crescer no ano.

E na outra ponta, que setores vão sofrer mais?

Telecomunicações e construção estão em baixa. São setores que exigem vultosas quantidades monetárias. Os players desses setores estão adiando investimentos e expansões de sua oferta para 2019, após a eleição. Como o clima institucional, político e até fiscal está incerto, é compreensível que as empresas desses segmentos esperem que as regras do jogo sejam ditadas para poder arriscar. Como esses investimentos demoram entre dois a três anos para maturar, é necessário que exista um colchão de recursos para sustentar as empresas nesse período e que as regras do jogo não mudem, porque se mudarem, todo o planejamento feito há três anos será jogado fora. Por isso os investidores desses mercados estão receosos. Vão esperar a nova equipe econômica se constituir, ditar as regras e apresentar seu entendimento para a economia. Em paralelo, vão analisar como os outros entes da economia vão agir para depois, de fato, lançar investimentos e expansão produtiva. Por isso vão crescer pouco nesse ano.

entrevista imagem

Como o contexto político deve interferir na economia?

Estamos projetando 60% de chances de que uma plataforma que seja partidária das questões de reforma fiscal seja eleita no Executivo e 40% de chances de vencer uma chapa desenvolvimentista. No Legislativo até projetamos alguma coisa mais alinhada às reformas, mas como o Executivo está num impasse muito grande e a chance de a chapa pró-reformas ser eleita não é tão maior que a desenvolvimentista, veremos esse debate ideológico de entendimento de economia e de tamanho de Estado até a véspera da eleição.

Esse aumento da incerteza da definição da política econômica provavelmente aumentará o grau de desconfiança dos agentes e também a incerteza. Muito provavelmente alguns investimentos que poderiam ser feitos se houvesse mais clareza de como será a economia nos próximos anos serão postergados. A lógica é mais ou menos a seguinte: “Vamos primeiro ver o que vai acontecer para depois especificar todo o risco e rentabilidade”.

Ao mesmo tempo, o que seria um grande alavancador de demanda, que seriam os investimentos por parte do setor privado em parceria com o público, que ocorreriam através de concessões, parcerias público-privadas e até privatizações, possivelmente serão postergados em razão do calendário político. Aquilo que era projetado que seria leiloado ou concessionado no fim do ano passado e no começo desse ano só vai ocorrer em 2019. Com a chegada das eleições, os candidatos estão pensando mais nas estratégias de reeleição do que na questão produtiva e de entendimento para o longo prazo, e isso acaba atrapalhando o ritmo de desenvolvimento da economia brasileira.

Qual é a visão da Lafis sobre a reforma tributária?

Nós consideramos a reforma tributária muito importante – e acreditamos que ela deveria vir junto com a reforma previdenciária. Porém, apesar de haver uma comissão no Congresso trabalhando para que isso aconteça, a chance de sair este ano é mínima, porque a pauta do Congresso está voltada para as eleições.

Pode ser que no período pós-eleição a chance de as reformas saírem aumente, mas vai depender muito da governabilidade. Se tivermos uma ruptura, como tivemos na última eleição, é muito difícil que tenhamos alguma chance válida de mexer em algo que é tão complexo. Mas se tivermos uma governabilidade melhor, talvez possamos ter uma chance melhor.

De qualquer forma, seria muito importante que o sistema fosse mais racional – tanto para o setor industrial como de serviços. Diversas pesquisas apontam que uma empresa brasileira gasta muito mais tempo do que a média mundial só para contabilizar e declarar seus impostos. Óbvio que tudo isso é um desperdício muito grande de força produtiva.

O que é possível esperar para o câmbio?

É importante ressaltar que toda economia em desenvolvimento, quando está em período eleitoral, tem a tendência de ver sua percepção de risco aumentada, e isso gera um impacto no câmbio. Assim, projetamos uma desvalorização cambial para esse ano justamente pelo clima político e institucional. Como teremos uma incerteza até os últimos dias prévios à eleição, projetamos um pico de US$ 1 = R$ 3,51 em outubro. A partir disso, se as nossas projeções políticas estiverem corretas e uma chapa reformista vencer, acreditamos que o mercado tende a acalmar e a taxa de câmbio deve voltar a uma tendência de valorização.

A longo prazo, temos uma tendência muito interessante de valorização do Real, por diversos fatores. Talvez o principal é que a rentabilidade da nossa taxa de juros real (taxa de juros nominal descontada da inflação) ainda é uma das maiores do mundo. Mesmo que tenhamos uma taxa de juros a 6,25%, temos uma inflação projetada de 3,5%, que dá uma remuneração real de 3%, ainda uma das maiores do mundo. E a tendência para 2019 é que a taxa de juros retome sua trajetória de elevação para algo perto de 8,5%. A tendência é que tenhamos uma taxa de juros real a 4%, o que faz com que alguns capitais estrangeiros venham para o Brasil buscar essa rentabilidade. Esse é um dos fatores que explica a tendência natural de valorização do câmbio após as eleições.

Outra coisa que explica isso é a sucessão de superávits comerciais. Quando você tem um superávit, há um impacto de valorização do câmbio.

E um outro fator importante é que o Brasil ainda é uma grande central de oportunidades de investimento. No radar, além dos investimentos em indústria automobilística, vestuário, alimentos, que são grandes mercados, temos boas oportunidades em infraestrutura. Uma série de investimentos em rodovias, ferrovias, energia e telecomunicações estão previstos. Tudo isso vai atrair capital internacional. Então temos um afluxo de capital em investimento produtivo, temos esse impacto positivo na balança comercial e esse investimento em busca da rentabilidade. Esses três fatores fazem com que o Real, após essa desvalorização projetada para 2018, volte a se valorizar. A ponto de terminar 2020, 2021 a um patamar próximo de R$ 3 para US$ 1.

Saiba mais: www.lafis.com.br

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