Cada ?paredão? que acontece, mais identifico a semelhança entre o apelo de marketing das empresas e o dos pobres candidatos prestes a serem eliminados. O marketing hoje é um Big Brother às avessas. É quase impossível não dar uma ?espiadinha? como diz o apresentador Pedro Bial no programa Big Brother da Rede Globo.
Deixe de lado sua opinião, a discussão aqui não é julgar o programa.
Nós vamos dar uma olhadinha sim, mas por outro ângulo. Cada ?paredão? que acontece, mais identifico a semelhança entre o apelo de marketing das empresas e o dos pobres candidatos prestes a serem eliminados.
O marketing hoje é um Big Brother às avessas.
O público espia, vota, se emociona e torce para que uma determinada pessoa (que, aliás, a maioria nunca viu na vida) ganhe o cobiçado prêmio. Nesse processo temos momentos de simpatia por uns, de revolta por atitudes de outros e no bate papo com amigos somos pegos defendendo arduamente um dos enclausurados.
A comparação com o marketing é válida e divertida, pois há pouco tempo, para se divulgar algo e tentar vendê-lo o processo era relativamente simples. Em tese bastava criar um produto ou serviço diferente dos outros e tentar vendê-lo segmentando o mercado por variáveis geográficas, demográficas ou psicográficas (hobbies, estilo de vida, etc.).
O cliente era o candidato Big Brother. Pesquisas indicavam “o que” e “como” ele queria e isso bastava para se preparar uma bela campanha publicitária e esperar os pedidos.
Hoje, o cliente cansado de ser manipulado e espiado, dá respostas pouco confiáveis, exige qualidade e preço compatível, declara sua preferência por empresas socialmente e ecologicamente corretas e ainda arranja tempo para, toda semana, mandar uma empresa para o temido paredão, provando marcas concorrentes ou trocando seus fornecedores.
A mudança de perfil e de comportamento deve-se a uma simples frase: ?O mundo em que nascemos, não é mais o mundo em que vivemos?. Ponto. Não há discussão.
A revolução da informação, o acesso a internet, o telemarketing, os 0800?s, a venda pela televisão e o nascimento diário de novas marcas e produtos acabam nos dando a opção de escolha.
Como existem muitas opções, posso escolher à vontade, exigir como quero a entrega, prazo de pagamento, designer do produto, etc. E se não for bem atendido, adeus. Estou pronto para provar outra marca tão confiável quanto a sua.
Sinceramente responda às questões:
Para o leigo qual a diferença entre um celular Ericsson e um Nokia, entre uma tv Phillips e uma Semp Toshiba, de um Gol para um Corsa ou Palio?
Nesses casos claros de produtos de consumo de massa, a resposta é preço, gosto e designer. O novo Ford Fiesta vende bem não é porque ele é muito melhor do que os outros. É porque tem preço compatível e o carro ficou muito bonito, com um designer diferente. Ponto para a Ford. O novo Corsa tem sua traseira no mesmo estilo de seu mais novo concorrente.
O mundo hoje é outro. As empresas têm de perceber que aquilo que o cliente disse na pesquisa feita hoje pode ser diferente do que ele deseja amanhã. O desejo é algo que deve ser despertado. O apelo de vendas ultimamente não tem sido muito variado, todos falam em alta qualidade e em ser a solução dos problemas do cliente.
Mas, aprofundando-se um pouco mais no tema, a solução dos problemas do cliente tem caráter individual. O marketing “one to one” prega o cliente como único.
E como um ser único, tem desejos, sonhos, necessidades, aspirações diferentes e próprias, ou não?
Nada mais é simples, estamos na Era da Complexidade.
O Big Brother da vida corporativa teve uma inversão de papéis e poucas empresas estão percebendo isso. Agora é o cliente que observa atentamente cada passo da marca que pretende comprar. Ele está cava vez mais atento a fatores antes impensados, como quanto sua empresa polue o ambiente, ou como funciona seu atendimento digital.
Nesta briga ele pode escolher as ?empresas candidatas? a realizarem seus sonhos e necessidades, mas só se seus atos forem simpáticos a sua pessoa. Ele quer novas experiências de consumo.
Como diz o professor Clemente Nóbrega: “marketing tem tudo a ver com a natureza humana” e o BBB tem sido válido como uma verdadeira aula. Ali temos de tudo, complôs (formação de oligopólio), tentativas de conquistas (venda pessoal), propaganda enganosa e diferentes fontes de motivações pessoais.
Se você quer ser uma das empresas candidatas a vencer o grande prêmio, sugiro não só dar uma ?espiadinha? no cliente. Vai ser preciso, como no programa, aprender a conviver, criar um relacionamento, ir realmente a fundo nesse novo tipo de relação. Assim, quem sabe, sua empresa não será eliminada no próximo paredão e poder vir a ser a grande vencedora nesta grande arena chamada mercado.