Competição acirrada. Clientes, concorrentes que passam por cima da ética. Algumas vezes, ate gerentes que sugerem que tomemos atitudes não recomendáveis. Crise, necessidade de bater cota. Com tudo isso, como é que algumas pessoas ainda falam sobre espiritualidade no trabalho?

Pois são justamente esses os motivos que nos levam a falar sobre o assunto. Como diz o escritor e palestrante Cesar Romão, a situação descrita acima gerou a desvalorização do ser humano. Participamos de todos esses processos, tentando ajudar sua empresa, e muitas vezes somos descartados, como se somente números pudessem indicar lucros, e ótimos resultados fossem o melhor diagnóstico de um negócio. E as empresas continuam quebrando, os vendedores se estressam, se incomodam, não conseguem vender. É sinal que algo está muito errado, que está faltando alguma coisa.

Para Cesar Romão, é necessário adaptar-se à era emocional. A empresa tem de mostrar ao colaborador que ele é necessário como profissional, e antes de qualquer coisa que é um ser humano com capacidades que, agregadas à produção da empresa, formarão uma equipe coesa na qual o maior beneficiado será ele mesmo, com melhoria em sua qualidade de vida, relacionamentos com os pares e, principalmente, mais facilidades nas vendas.

O também escritor e consultor Nereu Jorge Araldi concorda. Ele conta que recebe depoimentos pessoais, conhece empresas de sucesso que trazem o mesmo problema: sentem um vazio que não podem explicar. "O homem está com uma síndrome muito perigosa, a incerteza no futuro, o medo que o cerca, pessoas sem expectativa, sem amor, sem compaixão, preocupando-se muito com o 'ter' material." É preciso, para o autor, colocar Deus na empresa. É preciso pensar no lado espiritual de seu trabalho.

O que é – Para entender a espiritualidade no trabalho é preciso primeiro entender o que ela não é: religião. Ter uma religião, seja qual for, é uma maneira de ajudá-lo a desenvolver sua espiritualidade, mas não é, de forma alguma, o único caminho.

"As religiões estão ligadas a crenças, a dogmas", diz o consultor e escritor Maurício Gois. "A espiritualidade é algo maior". O também consultor e palestrante Gustavo Boog concorda. Espiritualidade é a busca de significados mais profundos naquilo que estamos fazendo. "A idéia é fazer com que sua missão profissional esteja sempre presente em todos os momentos e facilite suas vendas. Compare essa visão com colocar o trabalho no automático, lutando para cumprir as metas diárias, e verá que é um grande avanço inclusive no bolso. Todos os consultores ouvidos por VendaMais sobre esse assunto foram taxativos: a espiritualidade, colocar Deus cm seu trabalho ajuda as empresas a lucrarem mais. Entenda-se Deus como cada pessoa na sua empresa o imagina. "Deus é tudo que vemos, respiramos, sentimos, imaginamos, pensamos. Tudo que se move, a mãe natureza. Deus está em cada ser. Deus é o amor puro, em toda a sua essência", diz Nereu.

Qual sua função? – Mudar a visão de trabalho começa com a descoberta do que você faz. O que seu trabalho envolve, qual seu significado. Pode parecer algo óbvio, mas muitos profissionais e empresas não sabem para que, afinal, servem.

Gustavo Boog conta que atendeu a uma empresa nessa situação. Ele diz que a companhia até tinha muita gente competente, com boa vontade, mas cada um queria ir para um lado, cada pessoa tinha uma visão da empresa. As pessoas sugeriam projetos conflitantes, o que impedia a diretoria a se decidir. Sem saber o que a empresa é, torna-se impossível definir o que é melhor para ela. "E conforme eu descia na hierarquia, piores as coisas ficavam" diz Boog, "era um desperdício incrível de recursos, comunicação, tempo e pessoas".

Boog compara aquela situação à de um baita navio no meio do oceano, sem idéia de onde está o porto. Aliás, não sabe nem o que está transportando – se turistas, petróleo, roupas, grãos. O que o consultor fez foi ajudar aquela tripulação a encontrar a razão de ser do navio e o mapa para o porto desejado. Uma vez que eles descobriram esses dados, foi só seguir para lá.

Vá mais fundo – Boog gosta de citar a história dos três pedreiros para exemplificar a visão de trabalho coerente com uma empresa mais espiritualizada. É aquele conto em que alguém pergunta a três pedreiros o que eles estão fazendo.

– Estou assentando tijolos – diz o primeiro.

– Utilizo as melhores técnicas para erguer uma parede de qualidade – falou o segundo.

– Estou construindo uma catedral – disse o terceiro.

É isso. Uma visão espiritualizada ajuda a descobrir qual é sua missão na empresa e no mundo. Para que, no final das contas, a equipe de vendas está ali.

Responder essa questão às vezes já é difícil. E não basta respondê-la. É preciso vivenciar, conectar-se as respostas. Acreditar de todo o coração em seu propósito na grande engrenagem da economia.

A seguir, faça uma faxina – Descobrir o amplo sentido de seu trabalho, o espírito de sua profissão é uma parte importante, mas há outras medidas que podem ser tornadas. Nereu alerta contra a pessoa negativa, que tem o poder de acabar com qualquer ânimo, fazer com que os negócios da equipe dêem errado e, no final, soltar aquele "eu avisei".

"Se no ambiente de trabalho, existe o formador de opinião negativo, esta empresa já corre um sério risco", diz Nereu. Começa-se a formar um campo de total destruição, aí não adianta benzer, rezar ou nem colocar imagens de santos ou orações na porta da empresa, é necessário transformar essas pessoas para o caminho do bem ou até mesmo substitui-las por pessoas motivadas. "Mas cuidado… Noto que muitas vezes o negativismo está nos diretores da empresa…", completa. Pode ser mais difícil tentar substituir esse pessoal. Pode-se, entretanto, tentar mudá-los, sem problemas.

A faxina também deve ser feita na sua cabeça. É preciso deixar um pouco de lado os programas e páginas policiais, os assuntos que só servem para poluir a mente. Para Maurício Gois, um vendedor que se expõe a relatos de guerras, assassinatos, previsões catastróficas sobre a economia já começa o dia perdendo vendas, pois é impossível manter o ânimo nessas condições.

Nereu completa: "quando duvidamos de algo, desconfiamos ou alimentamos a idéia que todos são ruins, isso provavelmente acontecerá. Agora, quando temos a certeza que o bem existe, que confiamos nas pessoas ou em seus negócios, a confiança e consciência se manifesta. Nesse ambiento a intuição, as idéias criativas, a prosperidade e o caminho do êxito estarão presentes"

De bem com a vida – Para Gois, a principal característica de um vendedor com a espiritualidade em dia é essa satisfação, essa capacidade de acordar sempre de bem com a vida e seguir assim o dia todo. Ou seja:

• Ele não se estressa com facilidade. Ele sabe que há sempre uma saída, e a encontrará ao se manter calmo.

• Ele vai falar com o cliente bem humorado, e com isso automaticamente faz com que o compra dor também sinta-se melhor. Esse bom humor não tem nada a ver com contar piadas ou dar um sorriso vazio. É algo que não pode ser imitado ou fingido. Mas que todo mundo percebe.

• Gustavo Boog acrescenta o sentido de missão que ajuda a vender. As pessoas sabem que estão oferecendo algo que ajudará ao cliente, que será útil para outras pessoas. Lógico que existe o lado inverso. Se o vendedor oferecer algo que é prejudicial ao ambiente, que estimule a violência urbana, por exemplo, não conseguirá um bom desempenho. Nesses casos é melhor procurar outro lugar para trabalhar.
Acima da ética – Para Nereu, podemos usar as leis espirituais para melhorarmos nossos relacionamentos, satisfação, aumentar nossa prosperidade, construir uma mente consciente de cooperação com os outros. As leis espirituais são muito simples, todos as conhecem, mas a maioria não as usa. Por exemplo, a ética. "Muitos de nós já ouvimos a expressão 'Eles se merecem…' se formos éticos e morais, se pensarmos em Deus, se soubermos que há mais material na vida, atrairemos as pessoas com os mesmos ideais, logo sempre propiciando melhores negócios. Mentes iguais se atraem".

Gois acha que ser ético não basta, pois a noção de ética pode variar de pessoa para pessoa. O que para uma pessoa é aceitável, para outra pode ser impensável. A seu ver, existem diversos tipos de ética:

• Ética situacional – Como o vendedor que diz que certos tipos de clientes querem ser enganados.

• Ética de costumes – Quem negocia com compradores de outros países sabe do que se trata. Existem milhares de regrinhas não escritas que fazem o "certo" variar de país para país.

• Ética estética – É aquela que diz que "roubar é feio". Ou seja se baseia apenas no gosto da pessoa.

A espiritualidade seria um passo além da ética para Gois. A pessoa com esse sentimento não rouba, não mente, não engana, porque tem um compromisso metafísico um poder superior; seja lá o nome que dê a esse poder. De Deus a consciência, o resultado é o mesmo. Assim, um vendedor pode ser ético e mesmo assim sentir que lhe falta algo.

Sonhe e realize – Cesar Romão afirma que um dos maiores problemas do mundo atual não é conseqüência da globalização, da inflação ou da diferença social, mas sim a dificuldade que as pessoas têm de sonhar. Talvez seja esse o maior drama vivido pelos jovens quando olham para seus pais, para a vida. Não acham muitas perspectivas futuras, agarram-se ao passado e começam a encarar a vida de forma pessimista, concluindo que sonhar não vale a pena, para mais tarde não sofrer decepções.

As pessoas que sonham são outro problema, pois não põem em prática o que realizam. Contentam-se apenas em sonhar. "Uma das soluções para esse pessimismo generalizado está em recuperar a capacidade de sonhar e também realizar tudo aquilo que a sua alma pede."

É esse sentido prático da espiritualidade que precisa ficar muito claro. "É claro que se deve ganhar dinheiro", diz Boog. A dimensão espiritual deve marcar sua presença no mundo terreno de alguma forma. O que é preciso, para o consultor, é que as pessoas e as empresas se questionem sobre qual papel elas prestam para a sociedade e para os clientes. Se essa resposta tiver um eco dentro das pessoas, fantástico, porque está a serviço de uma causa mais elevada. É preciso que a resposta para a pergunta "para que eu estou aqui?" vibre dentro de cada um. Se o vendedor não encontrar essa vibração, se não acreditar no produto, se não acreditar que o que faz melhora o mundo de alguma forma, que vá procurar outro emprego.

Cesar Romão completa: mais do que qualquer outra sensação, é essencial que cada pessoa sinta que sua vida vale a pena. Se você tem olhado sua existência como um fardo pesado de carregar, chegou a hora de ter fé na vida, em você, e principalmente na sua capacidade de realização.

SEJA UM LÍDER ESPIRITUAL
Por Cesar Romão

O caráter de uma empresa está inexoravelmente ligado ao de seu líder. O verdadeiro líder espiritual é aquele que conhece e vive segundo os seus valores, haja o que houver, e faz isso abertamente para que os outros se inspirem. Mesmo que você não faça parte da diretoria da empresa, pode disseminar idéias e valores entre os colegas de trabalho que estão à sua volta e são diretamente influenciados pelo que você pensa, faz ou diz.

O líder espiritual também pode ser chamado de realizador, pois consegue, por meio de seus atos, liberar o melhor que há nas pessoas e devolver a autoconfiança aos seus companheiros. Uma vez acionado esse processo, as conseqüências não tardam a aparecer. Maior produtividade, maior empenho, mais lucros, e, conseqüentemente, mais felicidade. Enquanto o administrador é controlador e burocrático, o líder conquista o respeito e o envolvimento de seus companheiros.

Os verdadeiros lideres vêem empresas nas quais trabalham não apenas como mera fonte de lucros, mas como um organismo vivo, uno, no qual cada pessoa, cada alma, exerce um papel vital. Ao menor sinal de problemas, a engrenagem maior se vê perigosamente comprometida. Por isso, o líder assume a responsabilidade pela criação de um sentimento de união e igualdade. Ao mesmo tempo, valoriza cada indivíduo, pois sabe que quanto mais se aproximar das pessoas e conseguir tocá-las, mais elas se sentirão importantes e motivadas. Assim não perde a oportunidade de reconhecer novos lideres abrindo espaço para que eles brilhem e transmitam seus valores para a comunidade empresarial.

LIÇÕES DAS RELIGIÕES

Certo, dissemos que espiritualidade não tem, necessariamente, nada a ver com religiões. Mas não custo nada tirar lições de negócios de algumas delas:

CRISTIANISMO – Em um dos raros momentos em que falou direto, sem parábolas, Jesus resumiu toda a Bíblia, toda Lei Espiritual, todos os ensinamentos em uma frase. Perguntaram-lhe qual era o maior dos mandamentos. A resposta: "Amar a Deus sobre todas as coisas e aos próximos como a si mesmo". É isso, se você não sentir-se confortável com algo que está para fazer, se você achar que não gostaria de estar na situação de seu cliente, procure outro caminho.

ZEN-BUDISMO – Um dia, o poeta Bai Juyi perguntou ao monge Niawo sobre como manter-se no caminho do zen.

– Evite o mal e faça o bem. – foi a resposta.

– Mas até mesmo uma criança de três anos sabe disso.

– Talvez, mas nem mesmo um homem de cem anos pode fazer isso.

As grandes verdades e as melhores soluções são extremamente simples. Basta ter a coragem de fazê-lo e seguir nesse caminho dia após dia.

JUDAÍSMO – Conta-se que um homem rico perdeu todas suas posses por uma dessas coisas da vida. De sua imensa fortuna só restaram duas insignificantes moedas. Amargurado, foi ao mercado local. Deteve-se diante de uma padaria que exibia uma grande variedade de pães e doces. Na loja ao lado, numa floricultura, ocorria uma pequena discussão entre um vendedor e um possível cliente.
– É uma ótima roseira, e custa apenas uma moeda.

– Pode ser, mas as rosas estão fenecidas e exigiria muito trabalho para que elas vicejassem de novo.

– Sim, mas olhe as raízes, a planta está perfeita.

O ex-homem rico se aproximou e tomou uma decisão. Com uma moeda comprou um pão, e com a outra comprou a roseira.

Seus amigos estranharam: ora, ele poderia ter garantido alimento para dois dias, e foi gastar dinheiro com uma roseira? Para que serviria a planta na situação dele? A resposta do homem:

– Comprei o pão para sobreviver e as rosas para ter uma razão para viver.

Sobreviver, pagar as contas no fim do mês e ainda ter um pouco sobrando nunca foi a tradução do sucesso em vendas. Procure algo que lhe faça seguir em frente e ser um profissional cada vez melhor.

ISLAMISMO – Essa é a 107ª Surata (espécie de capítulo) da tradução do Alcorão: Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

1. Tens reparado em quem nega a religião?

2. É quem repele o órfão,

3. E não estimula (os demais) à alimentação dos necessitados.

4. Ai, pois, dos praticantes das orações,

5. Que são negligentes em suas orações,

6. Que as fazem por ostentação

7. Negando-se, contudo, a prestar obséquios!

Existem muitas pessoas que falam, que sonham em fazer o bem, em ajudar a seus próximos e clientes, mas nada realizam. Vá e faça.

Resumo
PARA TER DEUS COMO SEU SÓCIO

– Cerque-se de pessoas positivas.

– Preocupe-se com o lucro, mas não esqueça de que existem outras coisas na vida.

– Na frente do cliente, pense como você próprio gostaria de ser tratado.

– Vá além da ética, siga sua consciência

– Doe-se aos outros.

Para saber mais: Livros:
• Fazer o Bem Vale a Pena, Nereu Jorge Araldi – Editora Theus;
• O Quarto Rei Mago, Cesar Romão – ARX Editora;
• Negócio Fechado – Parábolas da Cultura Judaica e sua Luz sobre a Arte de Vender, David Gorodovits e Silvio Acherboim – Editora & Livraria Sêfer;
• A Semente de Deus, Cesar Romão – ARX Editora;
• Zen em Quadrinhos, Tsai Chih Chung – Ediouro.

Consultores:
Visite os sites e entre em contato com:
– Maurício Góis – www.mauriciogois.com.br
– Paulo Angelim – www.pauloangelim.com.br
– Cesar Romão – www.cesarromao.com.br
– Nereu Jorge Araldi – eee.theus.com.br
– Gustavo Boog – www.boog.com.br