Com a “guerra das cervejas”, inauguramos uma nova lei que aposenta a “Lei de Gérson” e abre um novo capítulo na legislação popular do país: lei “Zeca Pagodinho”. Com a “guerra das cervejas”, inauguramos uma nova lei que aposenta a “Lei de Gérson” e abre um novo capítulo na legislação popular do país: lei “Zeca Pagodinho”. Na anterior você só queria levar vantagem em tudo. Na segunda – também, não importando a ética, desde que seja já, agora! Quais são os efeitos da nova lei? Múltiplos:
- Uma belíssima oportunidade para uma terceira marca tirar proveito do aspecto positivo da guerra (aumentou consideravelmente o “share of voice” – o poder do barulho em torno do produto cerveja), e buscar um posicionamento ético/criativo para o público “anti-bélico”.
- Crise na estratégia criativa publicitária do uso de celebridades. Até que ponto a credibilidade de personalidades notórias continuarão fazendo bem e agregando valor às marcas representadas?
- Extraordinário rigor adicional na celebração de contratos envolvendo imagem pública, na propaganda.
- Ambiente extremamente favorável para a realização de uma série de proibições da livre publicidade no segmento de bebidas alcoólicas. Ficou na “boca do povo” – situação espetacular para os políticos curtirem essa “ressaca” legislativa.
E o 5o. efeito, o mais poderoso de todos: rejeição às marcas envolvidas no “quebra-pau” entre a discussão se Zeca Pagodinho é um “puro de Xerem” ou um “traira da zona Sul”.
Num país onde o mercado potencial é extremamente maior do que a demanda efetiva, de qualquer produto – como no Brasil, a briga desesperada por pontos de participação no mercado existente, que não leve em consideração a obrigatória visão da conquista e inclusão de novos consumidores, será sempre míope a longo prazo.
Não estamos nos Estados Unidos ou na Europa, onde a renda já é elevada, a demanda existente beira 100% da potencialidade e o único caminho para o crescimento é fulminar a concorrência. A simpatia pela categoria, a luta contra outras propostas de bebidas alcóolicas, e – principalmente, a preocupação com novos valores e anseios sociológicos do mundo, precisariam ser levados em conta.
Não vivemos mais somente o planeta da “consumolândi”. As pessoas desejam consumir produtos identificados com a natureza, a paz, o engajamento social, a cidadania e – o mais importante de todos os novos reinos: a ética! O problema é que quando estamos vestidos dos nossos papéis de executivos, e pressionados pelo curtíssimo ciclo de vida útil das nossas carreiras, cada vez mais comprimida, avaliados exclusivamente pela última linha dos balanços do exercício deste específico ano, a coisa fica complicada.
Por isso, nas melhores universidades do mundo, a cadeira de ética está sendo resgatada!
O Presidente de uma das maiores multinacionais do mundo, operando na divisão da Índia, me ensinou algo de extremo valor ético, anos atrás:
“… A Índia vem em primeiro lugar, pois se algo não for bom para a Índia jamais poderá ser bom para minha empresa. Em segundo lugar – jamais sacrifique o seu futuro, por uma decisão do presente. O preço que voce irá pagar jamais compensará o aparente êxito momentâneo!”
Palavras simples, que poderiam ser consideradas “puras” demais por uns ou “trairas” inimagináveis por outros, que não adquiriram ainda fortes convicções de cidadania.
O lado bom da lei “Zeca Pagodinho” será o de aumentar entusiasticamente a certeza daqueles empresários e executivos que já alinham suas marcas e organizações com os novos rumos ansiosos da nova humanidade: a ética na vida e nos negócios! As marcas são tão importantes na difusão de valores na sociedade moderna, quanto instituições de ensino, governos e a própria família.
Um brinde…. para jamais nos esquecermos disso!