Diante das inúmeras possibilidades causais da motivação dos empreendedores, é injusto pré-julgar um empresário, afirmando que é o dinheiro que o motiva. Muitos responderão que os empreendedores, esses visionários que assumem riscos e corajosamente fundam empresas, são motivados apenas pelo lucro, pelo dinheiro. Outros dirão que esses empresários são pessoas egoístas que só venceram motivados pela ganância sem limites. Ao fundar uma empresa é evidente que a pessoa busca lucro, uma recompensa para o trabalho árduo e também um prêmio pelo fato de colocar suas reservas financeiras em risco. Pois afirmo que, na maioria das vezes, a principal motivação de um empreendedor não é o dinheiro. Posso parecer hipócrita, mas é a mais pura verdade.
Quando pergunto para colegas empreendedores sobre o assunto, ouço histórias diferentes e quase sempre consigo perceber que a motivação principal não foi o lucro. Alguns falam que foi a busca por satisfazer um sentimento de realização ou para atender uma necessidade íntima de mostrar para parentes e amigos todas as suas potencialidades como pessoa. Outros falam da busca de prestígio social ou até mesmo de um certo poder político a ser exercido através da conquista de poder econômico. Os empreendedores com mentalidade esportiva dizem ter começado seus negócios pelo simples fato de gostarem de competir, vencer e saborear vitórias. São também citadas, em menor número, as motivações derivadas de preocupações com o social, muitas de inspiração religiosa, como a necessidade de fazer algo que possa gerar emprego e renda para determinadas comunidades.
Alguns amigos cientistas contam que vibraram tanto com suas invenções ou descobertas que se tornam intensamente motivados a empreender, a montar uma empresa que pudesse transformar suas pesquisas em produtos úteis para a sociedade. Não faltam também os grandes sonhadores, aqueles que dizem ter sido movidos pela vontade de realizar sonhos ou fantasias que todos os seus amigos e parentes sempre julgavam impossíveis. Outros alegam que foram motivados pela busca da eternidade, pela necessidade de deixarem uma marca indelével de sua passagem pela vida terrena. Talvez por esse motivo, muitas empresas costumam ser batizadas com o nome do fundador ou da sua família. Muitos empreendedores confessam que se sentiram motivados a empreender quando nasceu o primeiro filho. Nesses casos é o instinto de proteção das gerações futuras que se manifesta despertando até inconscientemente a necessidade de iniciar a construção de um patrimônio sólido para a família.
Diante das inúmeras possibilidades causais da motivação dos empreendedores, é injusto pré-julgar um empresário, como muitos desavisados o fazem, colocando-o numa vala comum, junto com uns poucos avarentos que fazem de tudo e passam por cima de todos tão somente pelo amor sórdido que nutrem pelo vil metal. Um empreendedor brasileiro que sonha, planeja, corre risco, trabalha como um condenado e navega em seu frágil barquinho empresarial contra um maremoto de burocracia, impostos e juros altos não pode ser confundido com um egoísta, um avarento ou agiota que vive apenas da intermediação financeira. Está na hora de separar o joio do trigo, sem arrancar o trigo. Está na hora da sociedade brasileira valorizar mais o êxito individual e deixar de abominar o lucro empresarial como algo pecaminoso. Por outro lado, os verdadeiros empresários não precisam mais falar de suas atividades lucrativas com qualquer tipo de constrangimento. Eles precisam se sentir como agentes ou motores do desenvolvimento, como sustentáculos da imensa pirâmide que é o mundo capitalista.


