Resolvi contar uma história para você no artigo desta edição porque ela vai me ajudar a explicar a ideia que quero transmitir…
Tenho 42 anos. Faço aniversário no dia 1.º de outubro, Dia do Vendedor. Desde que deixei de trabalhar com marketing e fui para vendas, encarei isso como um sinal. Afinal, nascer nesse dia deve significar algo.
Sou filho de um pai que sempre trabalhou muito, ralava mesmo. Até morou fora do Brasil por um período, em diferentes países, mas sempre se dedicou integralmente à família quando estava por perto. Quem trabalhava com ele dizia que ele era chato e exigente ao extremo.
Minha mãe foi professora do Ensino Fundamental no interior de São Paulo. Ia para a escola de ônibus e levava algumas horas para chegar. Dava aula para a turma do 1.º ano de um lado da classe e para a turma do 2.º ano do outro lado. Isso mesmo, eram duas turmas na mesma sala. Cada uma olhando para um único quadro negro. Ela dava o melhor de si.
O que quero dizer com isso é simples: cresci em uma família em que o trabalho nunca foi vergonha para ninguém! Pelo contrário: foi sempre um grande orgulho.
Já adulto, em meus trabalhos como consultor, encontrei pelo caminho muitos workaholics. Alguns até passavam do ponto, trabalhavam demais e complicavam tudo: saúde, família, amizades, futuro. Viviam para trabalhar.
Minha geração cresceu entre os baby boomers e a geração Y. Isso nos permitiu ver de perto essas duas realidades e mentalidades. E, claro, ajudou-nos a decidir como tirar o melhor de cada perfil. Hoje, trabalho muito, viajo bastante e tento encontrar o bom e velho equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional.
No que diz respeito ao lado profissional, tenho visto por aí algo que me incomoda muito. Pessoas pouco dispostas a fazer, mas querendo ganhar reconhecimento rapidamente. Querem ser valorizadas antes de mostrar trabalho, querem ganhar mais antes de apresentar resultados. Acreditam que instantes de talento as levarão a algum lugar. E isso definitivamente não funciona. É mito.
A realidade desses profissionais
Essas pessoas vivem entre frustrações, divagações, questionamentos e pouco trabalho. Cansam demais, reclamam muito e fazem pouco. Penduradas em seus celulares, dizem que não têm tempo para nada – nem para ler um livro! –, mas se somassem o tempo que passam em redes sociais e no WhatsApp, logo iriam perceber que poderiam ler vários livros por mês. Quem sabe até escrever um!
Não quero, aqui, fazer o papel de careta, conservador ou reacionário, nem questionar a tecnologia e sua importância em nossas vidas. Mas é preciso viver, se relacionar, ralar. Fazer acontecer.
Sonia Rossi, uma das melhores profissionais de RH que já conheci, diz que se relacionar é ralar pele com pele. “O líder tem que se relacionar com sua equipe e com seus colegas de trabalho. É daí que saem as soluções”, costuma dizer. E ela tem razão!
Uma hora será a sua vez de pegar o “saco”, colocar nas costas e carregá-lo. Se ele está sobre as suas costas agora, é porque é a sua vez de carregar. Faça isso, não questione, não reclame, não resmungue, nem procure alguém para passar o peso. Carregue-o, nem que seja pela crença de que algum dia alguém o carregará por você. Essa é a vida, esse é o jogo.
O que os grandes líderes têm de diferente
Pela proximidade que felizmente tenho com vários presidentes de empresas, sempre me perguntam o que eles têm de diferente, o que os torna únicos. As diferenças são muitas, mas um incontestável ponto em comum é o trabalho, muito trabalho. Eles tentam, erram e acertam, buscam sempre o melhor deles e das pessoas que comandam.
Não existe isso de tirar o melhor dos outros sem dar o melhor de si. As pessoas bem-sucedidas procuram uma saída o tempo todo, enquanto os outros reclamam por demorar a encontrá-la. A verdade é uma só: assim que você encontrar uma saída, terá um novo desafio que o obrigará a começar a buscar a próxima. Assim, quem sabe a missão da vida de todos que se entregam ao trabalho e lideram pessoas seja sempre buscar uma saída – seja para os seus desafios ou para os desafios de seus liderados. (Caso você não seja um líder, será que sua missão não é encontrar saídas para os desafios das pessoas com as quais você compartilha seu trabalho e sua vida?)
Quando entender isso, você descobrirá que sua grande função é ajudar as pessoas e a si mesmo a superar desafios. Mas cuidado: você pode tanto ajudar quanto atrapalhar a si próprio.
Se você estuda, se ajuda. Se lê, se ajuda. Se está aberto a aprender com os mais experientes, se ajuda. Se cobra, incentiva, estimula, desenvolve e orienta seus liderados, está ajudando. Se não faz nada e só reclama, você atrapalha.
Um dia, todos nós despertaremos (assim espero) e, quem sabe, com os olhos cheios de lágrimas, você descubra que ajudar os outros e a si mesmo é a sua maior missão no trabalho e na vida. Quem sabe essa seja a mais nobre das missões. Mas, para isso, é preciso estar perto das pessoas e dos desafios. É preciso viver e procurar as respostas.
O grande conselho
Tenho visto por aí líderes mais focados em suas planilhas do que nas pessoas que comandam, mais focados na burocracia do que na equipe. Pessoas trancadas em suas salas ou em reuniões intermináveis, presas em suas verdades e estratégias que só acontecerão por meio das pessoas que hoje ignoram.
Seu foco deve ser desenvolver a si mesmo e sua equipe. E não seus relatórios. Sei que muitos líderes podem dizer agora que a empresa exige muito desse trabalho burocrático ou que não têm tempo para acompanhar suas equipes de perto. Mas eu digo que essa é uma decisão sua. Trabalhe focado no que realmente importa. E trabalhe muito nisso. Ou será mais um a dar desculpas.
Zig Ziglar, um grande mestre da motivação, dizia que “não existe alto desempenho sem paixão”. Peço a permissão para completar: não existe alto desempenho sem paixão e sem trabalho, muito trabalho.
Dê o melhor de si e, mais cedo ou mais tarde, o mundo vai retribuir – seja com um agradecimento de um liderado, com uma promoção ou um beijo de sua família.
Mas não faça o que deve ser feito pela recompensa, faça porque o mundo precisa de pessoas que dão o melhor de si. Faça sua parte, siga sua verdadeira missão. O sucesso das suas vendas (e do pós-venda, tema desta edição da VendaMais) e a sua felicidade dependem disso!
Marcelo Caetano é sócio-diretor da consultoria Soluções VendaMais e autor dos livros Vendedor fiel, cliente fiel e Chega de desconto!
E-mail: caetano@solucaocomercial.com