13 lições do Papa Francisco para liderar melhor sua equipe de vendas

Por Brasílio Andrade Neto e Raúl Candeloro

Precisa-se:

Pessoa carismática e competente para liderar instituição milenar no século XXI.

Desafios incluem uma burocracia pesada, que se desenvolveu aos poucos durante séculos, denúncias de corrupção e ligação com o crime organizado italiano.

Entre o quadro de colaboradores da instituição incluem-se algumas das pessoas mais abnegadas, dedicadas e dispostas a melhorar a vida e os caminhos da humanidade, mas também alguns acusados de crimes graves.

Espera-se que o candidato lide com o crescimento de instituições concorrentes, e temas espinhosos como controle da natalidade e direitos das mulheres e homossexuais.

Disposição para viajar muito é essencial.

Responsabilidades adicionais incluem governar um país e liderar espiritualmente um sexto da humanidade.

Oferecemos benefícios como cargo vitalício (se o candidato quiser), veículos e residências oficiais.

E aí, você aceitaria esse emprego?

O argentino Jorge Mario Bergoglio aceitou, e se transformou no Papa Francisco. Ele mostra possuir as características dos bons líderes e efetivamente começou a mudar a Igreja Católica. Considerando que faz parte do juramento do novo Papa afirmar seu respeito pela tradição (ou seja, tornando as mudanças difíceis), esse é um feito incrível.

O teólogo Leonardo Boff, em entrevista para a imprensa alemã, afirmou que “o Papa Francisco mudou o clima, o que não é pouco. Há alívio porque a Igreja, como instituição, era vista como um pesadelo. Há alegria, pois antes o ambiente era severo e sombrio. O que se percebe é que muitos padres e bispos se tornaram mais acessíveis ao povo, mais tolerantes e menos doutrinários”.

Por isso tudo achamos aqui na VM que o Papa é um grande exemplo e selecionamos 13 lições de Francisco para a sua empresa:

1 – A primeira impressão é fundamental

lições liderança papa (1)Bento XVI era um nome tradicional, mas cheirava a Idade Média. O nome sugeria grandes catedrais, livros, reuniões em salas fechadas, distância, etc. E o que Francisco lembra? Francisco de Assis, simplicidade, humildade, ar livre, natureza. Francisco de Assis transcende a Igreja Católica, é uma figura conhecida e respeitada por boa parte da humanidade. Sem precisar falar nada, o novo Papa não apenas garante a simpatia do público, como se coloca em uma posição bem diferente do seu antecessor.

Para o público interno, o nome também é cheio de significado. Os entendidos nos caminhos do Vaticano e assessores do novo Papa esperavam outro nome: quem sabe Adriano, uma referência ao grande reformador da igreja Adriano IV. Seu antecessor, Bento XVI, homenageou com o nome São Bento de Núrsia, afirmando, assim, sua opção por atrair os europeus de volta à Igreja. Francisco, assim, evitou assumir um nome excessivamente polêmico, passou a mensagem de opção pelos pobres (e ninguém pode ser contra tal mensagem), enquanto preparava as mudanças que desejava.

A mensagem é clara: cuide muito bem das primeiras impressões.

2 – Transforme objeções em vantagens

Em 1595, o monge Arnold Wion divulgou ao mundo uma profecia que afirmou ser de São Malaquias, que listava apelidos para todos os Papas até o último, que traria o final da Igreja Católica – ou do mundo, conforme a interpretação. Junte-se a Nostradamus, etc., e muitas pessoas temiam o novo Papa. A lista vai chegando ao final – ou, de acordo com algumas interpretações, já chegou –, e algumas pessoas começam a se desesperar. Será esse o Papa que prenunciaria o desaparecimento da civilização?

Muitos simplesmente se recusariam a mencionar isso, da mesma forma que dão pouco crédito a outras teorias da conspiração. Isso faz com que as teorias continuem. E quais foram suas primeiras palavras de Francisco em seu primeiro discurso? “Os cardeais foram até o fim do mundo para encontrar o novo Papa…”, transformando, assim, as objeções em algo corriqueiro e até engraçado. O prometido fim do mundo, por este ângulo, não seria algo apocalíptico, mas apenas o interior da Argentina. Pergunte a qualquer especialista da área: o que Francisco fez foi neurolinguística pura.

Da mesma forma, você pode transformar as objeções dos clientes em ponto de partida para uma conversa franca e aberta, usando o bom humor para posicionar-se de maneira diferente e mais próxima.

3 – Dê o exemplo

Logo após sua eleição, circularam fotos de uma das primeiras aparições do Papa Francisco na Basílica de São Pedro. As diferenças eram gritantes. Francisco deu um sumiço no grande trono dourado usado por Bento XVI, e o substituiu por um modelo de madeira bem mais simples. Da mesma forma, o novo Papa abandonou boa parte do luxo do cargo, trocou a cruz de ouro tradicional por uma de ferro, já foi flagrado usando sapatos velhos em cerimônias… E por aí vai.

Isso tudo lhe dá a credibilidade de continuar a fazer suas rondas nos estacionamentos do Vaticano para fiscalizar se tem algum carro de luxo estacionado por lá. Essa coerência dá força a qualquer líder. Francisco demitiu o primeiro religioso acumulador de riquezas. O segundo já se demitiu por si só. O arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, ao ir a Roma para receber o título de Cardeal, viajou de classe econômica para seguir o exemplo do novo Papa em seus tempos de Cardeal.

Leonardo Boff adiciona: “Ele não começou com a reforma da Cúria, mas com a reforma do papado. Ele não vestiu o figurino clássico do ‘Papa monarca’. Ele se entende com bispo de Roma e quer presidir na caridade.”

Da mesma forma, um líder que quer mudar sua empresa precisa ele/ela mesmo/a começar por mudar-se a si próprio/a. Se um líder quer que sua equipe assuma determinado comportamento, precisa começar dando o exemplo.

4 – Seja coerente com a visão de sua empresa

O fundador do cristianismo afirmou que ajudar os pobres é igual a ajudar a Ele Mesmo, e que os pobres e humildes eram bem-aventurados. Francisco tenta colocar essa mensagem novamente no centro da Igreja Católica, sendo avesso a qualquer religioso que demonstre sinais de riqueza e afirmando que “a desigualdade é a raiz de todos os males sociais”.

Toda empresa precisa ter uma missão e uma visão claramente definida. Quando uma empresa se ‘perde’, a missão e a visão servem como um farol no nevoeiro, indicando o caminho.

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5 – Saiba onde conseguir ajuda

Francisco criou uma comissão para estudar possíveis desvios e outros crimes financeiros no Banco do Vaticano. Até aí, alguns de seus antecessores também o fizeram. Mas a comissão do atual Sumo Pontífice é formada de religiosos e de leigos. Ou seja, nada de apenas os padres de sempre que, mesmo sendo bons em contabilidade e economia, poderiam ter razões para encobrir alguns pecados.

Leonardo Boff diz que Francisco pode ir além: “O Papa quer que os leigos, especialmente as mulheres, participem das decisões da Igreja e não apenas participem da vida da Igreja. A forma como o fará não sabemos. Sabemos apenas que ele é surpreendente e que coisas novas poderão ser esperadas, inclusive a nomeação de mulheres como Cardeais, já que ‘Cardeal’ é na tradição um título, desvinculado do sacramento da Ordem. Não é preciso ser Padre ou Bispo para ser Cardeal.”Ou seja, Francisco quer as melhores pessoas trabalhando em sua instituição, não importa de onde venham.

Estamos basicamente falando de MERITOCRACIA. Se você quer realmente atingir objetivos relevantes e ter impacto no mundo, precisa trabalhar com os melhores, criando um ambiente propício para que queiram trabalhar e crescer na sua empresa.

6 – Não tenha medo do debate

Francisco tenta criar uma Igreja mais plural, onde algumas decisões são tomadas coletivamente. Em conversa com fiéis, afirmou que prefere levantar questões a emitir vários editos e bulas papais. Em linguagem empresarial, prefere o diálogo a simplesmente emitir ordens. Francisco também exigiu os Bispos a serem mais “corajosos” e sugerirem mudanças e ações baseadas em sua realidade local.

Como um bom líder, Francisco afirma que não há como ele saber o que é o melhor em cada uma das filiais (paróquias) de sua instituição. É preciso delegar. É preciso de gerentes locais (Bispos) com coragem de implantar ações de impacto e sem medo de falar com o presidente (o próprio Francisco). O pedido surtiu efeito. Pelo menos três Bispos de locais tão diferentes como Europa e América do Sul vieram com a mesma ideia: para aliviar a falta de Padres da Igreja, a questão do casamento dos religiosos deve ser revista – e, emergencialmente, deve-se chamar de volta todos que largaram a batina para casar.

Para que exista realmente a Alta Performance, um líder precisa determinar a DIREÇÃO (para onde vamos) e o POR QUE, mas não pode ter medo do debate. Se você quer engajamento de pessoas inteligentes, precisa estar preparado para defender suas ideias e ouvir as dos outros, mesmo que contrárias às do líder. Só assim se constrói o consenso.

Precisa de muita maturidade emocional para discutir ideias e conceitos nesses casos, pois os emocionalmente imaturos acabam discutindo (ou atacando) a pessoa com ideias diferentes ou contrárias, o que inibe o engajamento, a motivação, a criatividade e a inovação.

7 – Não tenha medo de ouvir

Em missa celebrada no período da Quaresma em 2014, Francisco falou da importância de se ouvir novas ideias. Ele ilustrou a mensagem com a história do povo fariseu que, segundo Francisco, “pensava que tudo se resumia à observância dos mandamentos. Tinha um pensamento fechado que não está aberto ao diálogo, à possibilidade de que haja uma outra coisa, à possibilidade de que Deus nos fale, nos diga como é o seu caminho, como fez com os profetas. Fecharam os profetas, esta gente; fecham a porta à promessa de Deus. E quando na história da humanidade vem este fenômeno do pensamento único, quantas desgraças. No século passado nós vimos todos as ditaduras do pensamento único que acabaram por matar tanta gente…”

Quantas vezes na nossa empresa nós vemos esse pensamento único. De funcionários humildes que se recusam a fazer algo que “não é do meu cargo” a diretores que se recusam sequer a ouvir uma ideia nova porque “sempre fizemos de outro jeito”.

O pensamento único, a ausência de diálogo, não mata apenas pessoas, mas também empresas.

8 – Cuide dos seus clientes – eles são sua razão de existir!

Francisco costuma escolher algumas entre as centenas de cartas de fiéis que recebe todos os dias, e liga para o remetente. Imagine o que sente um fiel ao receber um telefonema do Sumo Pontífice. Os melhores líderes também vão atrás de seus clientes, falam com eles, vão até os pontos de venda. Declarações de Francisco fizeram com que ele ganhasse a simpatia de públicos até então estranhos à Igreja Católica.

Francisco foi, por exemplo, escolhido Pessoa do Ano por uma revista especializada para o público homossexual norte-americano. Também se mostrou mais aberto a conversar com outras religiões. Durante reunião com o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, o Papa disse que, com uma “identidade clara, alegre e aberta a compreender as razões dos outros, o encontro com aqueles que são diferentes de nós pode ser ocasião de crescimento na irmandade, de enriquecimento e de testemunho. O diálogo inter-religioso e evangelização não se excluem, mas se alimentam reciprocamente”.

Os melhores líderes também vão atrás de seus clientes, falam com eles, estão sempre disponíveis e em contato. Até a concorrência reconhece e respeita um bom líder.

9 – Mas não esqueça do cliente interno

Francisco não esquece do Papa emérito Bento XVI, convidando-o para cerimônias importantes e chamando-o de irmão. Bento XVI também esteve presente em um dos pontos altos do papado de Francisco até agora, a canonização de João Paulo II e João XXIII. Outro exemplo de como o Papa valoriza sua equipe: fez questão de se confessar com um padre comum, na frente de fiéis e imprensa, e não com um confessor especial, em seus aposentos, como os Papas anteriores. Francisco, assim, cria uma unidade na Igreja, mostrando que todos estão no mesmo barco e lutam pelos mesmos ideais.

Se quer realmente que sua equipe dedique-se de alma e coração a atender melhor os clientes da empresa, um líder precisa também dedicar-se de alma e coração a atender melhor a equipe que transforma isso em realidade.

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10 – Use a experiência a seu favor, procurando melhorar sempre

Em uma conversa com fiéis, Francisco lembrou de seu passado:

Antes de ouvir o chamado do Senhor, eu era Leão de Chácara em uma boate de Buenos Aires. A experiência de jogar encrenqueiros para fora me deu uma boa ideia de como trazer ex-fiéis para dentro da Igreja, de novo”.

Da mesma forma, Francisco fala sobre sua experiência anterior como líder da Companhia de Jesus: “o meu governo como jesuíta, no início, tinha muitos defeitos. Vi-me nomeado provincial muito jovem, tinha 36 anos: uma loucura. Era preciso enfrentar situações difíceis, e eu tomava as decisões de modo brusco e individualista. O meu modo autoritário e rápido de tomar decisões levou-me a ter sérios problemas e ser acusado de ser ultraconservador. Com o tempo, aprendi muitas coisas. Assim, como Arcebispo de Buenos Aires, fazia a cada 15 dias uma reunião com seis Bispos auxiliares. Colocavam-se perguntas e abria-se espaço para a discussão. Isso me ajudou a tomar as melhores decisões.

Reflexões constantes e lições baseadas na experiência devem ser discutidas e utilizadas constantemente para o aprimoramento contínuo.

11 – Diga ‘obrigado’ e peça perdão

Em conversa com casais em Roma, Francisco diminuiu suas expectativas com bom humor: “a família perfeita não existe, e também não existem o marido ou a esposa perfeita, e não vamos nem entrar no mérito da sogra perfeita! Somos somente nós, pecadores“. E seguiu prático: “uma vida saudável em família inclui o uso constante de três frases: ‘posso?’, ‘obrigado’ e ‘sinto muito’. Nunca, nunca, nunca termine um dia sem fazer as pazes com outros membros da família.”

Se somos imperfeitos, é de se esperar que equipes e empresas apresentem também suas imperfeições. Precisamos então aprender a conviver bem uns com os outros.

A boa educação é fundamental e o cargo de liderança não isenta ninguém de regras básicas de bom comportamento, de ser educado, de se importar e ter a humildade de respeitar o próximo. Líder, lembre-se: lidera-se pelo exemplo.

12 – Não desvie de suas responsabilidades e tome as decisões difíceis

Luis Miguel Rocha é um escritor português especializado em escrever sobre o Vaticano – às vezes contos de ficção, às vezes relatos históricos, às vezes uma mistura dos dois, como é de praxe hoje em dia. E ele afirma que Francisco é o melhor Chefe de Estado Europeu da atualidade. Francisco encarou um dos maiores problemas da Igreja nas últimas décadas: o Instituto para Obras da Religião, mais conhecido como Banco do Vaticano. Acusado de lavagem de dinheiro e de todos os outros pecados que uma instituição financeira pode cometer, o Banco sofreu uma devassa nas mãos da equipe do Papa, e foi decidido: o Banco não seria fechado, como queriam alguns, mas agora terá que seguir as mesmas normas internacionais de qualquer instituição financeira séria.

Luis Miguel diz que isso demonstra a habilidade política do Papa: fechar o Instituto para Obras da Religião seria a saída mais fácil, e, em ambientes empresariais, até mesmo uma decisão terceirizadora justificável. Afinal de contas, existem vários bancos que poderiam gerir o patrimônio da Igreja com mais competência e menos escândalos, e não faz parte da missão de Roma ter um banco. Mas entre prós e contras, Francisco decidiu manter o banco e saneá-lo (inclusive moralmente). Segundo o escritor, o Papa mostra a importância de escolher bem suas batalhas, sem fugir de sua responsabilidade.

Liderar é encarar problemas e resolvê-los rapidamente, por maiores ou mais complicados que sejam. Essa é uma das maiores responsabilidades e característica decisiva de ótimos líderes.

13 – Esteja preparado para enfrentar as reações contrárias

É natural que, com todas estas mudanças, existam vozes contrárias na Igreja. Nem todas falando em voz alta (pelo contrário), mas com certeza a mudança e a volta à simplicidade vão enfrentar resistências.

Persistência e perseverança são fundamentais em qualquer líder que queira não apenas mudar uma cultura, mas fazer com que essa mudança seja duradoura.

Mesmo que as mudanças sejam claramente para melhor, sempre encontraremos pessoas resistentes à mudança. O bom líder persiste, pois entende que sua Missão é maior e vale o esforço.

 

Brasílio Andrade Neto e Raúl Candeloro

Matéria originalmente publicada na edição nº 242 – junho/2014

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