Fidelização de clientes Ă© sempre um assunto âquenteâ nos meus workshops e cursos, e uma coisa fica evidente logo de cara: fidelização (ou lealdade) de clientes Ă© mais ou menos como sexo entre adolescentes â muita gente fala mais do que faz, poucos fazem de verdade e os que fazem ainda podem melhorar muito.
Todo mundo diz que fidelizar Ă© importante, mas, na prĂĄtica, o foco Ă© todo em prospecção ou em vender mais para os atuais clientes. As duas coisas sĂŁo Ăłtimas, necessĂĄrias, tĂȘm muito espaço para crescimento, porĂ©m nĂŁo podem â nem devem â ser confundidas com a questĂŁo de preferĂȘncia dos clientes por comprar de vocĂȘ ou dos concorrentes.
No meu curso V6 separo claramente esforços de fidelização/lealdade de gestão de carteira. São coisas bem diferentes.
Se toda vez que vocĂȘ visita ou entra em contato com um cliente no fundo o que quer Ă© fechar uma venda, entĂŁo nĂŁo estĂĄ pensando em fidelizar. NĂŁo estĂĄ investindo no relacionamento. EstĂĄ simplesmente fazendo gestĂŁo de carteira. Esse tipo de visita Ă© uma visita de venda, nĂŁo uma visita de fidelização ou de relacionamento.
Fica fåcil de separar as duas coisas analisando a intenção: espero vender algo? Ou espero aprender algo?
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Visitas ou contatos de gestĂŁo de carteira tĂȘm intenção clara de revenda. Inclusive existem indicadores especĂficos para isso (taxa de positivação, por exemplo). Nesses momentos hĂĄ um sinal de R$ claro sendo monitorado.
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Visitas ou contatos de relacionamento tĂȘm a intenção de saber mais sobre o cliente e, principalmente, entender sobre como podemos atendĂȘ-lo melhor. Aqui nĂŁo tem sinal de R$. Ă um investimento da empresa que pode e deve beneficiĂĄ-la no futuro, aumentando o lifetime value (o valor de um cliente para a empresa durante o perĂodo em que permanece ativo). Ao fazer esse tipo de visita, a empresa mostra que quer que o cliente permaneça por muito tempo comprando dela, em volumes estĂĄveis ou crescentes.
Recentemente fiz dois workhops sobre o assunto e, depois do choque inicial de descobrir que 95% do que Ă© feito nĂŁo Ă© de verdade fidelização, muitas empresas descobrem que tĂȘm, sim, algumas iniciativas em relação a isso, sĂł que elas estĂŁo dispersas, sem foco, nĂŁo sĂŁo uma prioridade e, pior, nĂŁo se mede como e nem se ajudam a aprofundar o relacionamento com clientes.
Fica fĂĄcil de reconhecer isso com trĂȘs perguntas simples:
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Existe uma pessoa responsåvel só por trabalhar a fidelização? Se fidelização de clientes é uma prioridade, quem é responsåvel por isso?
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Como âfidelidadeâ Ă© definida e como Ă© mensurada? Existem indicadores especĂficos em relação Ă fidelização?
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Existe verba/orçamento especĂfico e exclusivo para isso?
Em muitas empresas as iniciativas existem, são bem-intencionadas, estão sendo executadas, mas como não tem foco nem prioridade, a força das açÔes acaba se perdendo. Na correria do dia a dia comercial, açÔes de curto prazo, com retorno råpido, acabam soterrando qualquer iniciativa que demore mais para apresentar resultados, mesmo as mais estratégicas. Por isso as açÔes puramente de fidelização/relacionamento raramente avançam ou são consideradas prioritårias (mesmo que o discurso seja diferente, a realidade pråtica é essa).
Para ajudar a incentivar cada vez mais as melhores prĂĄticas, apresento a seguir algumas ideias que vocĂȘ poderia desenvolver na sua empresa com foco exclusivo em fidelização e lealdade de clientes (se precisar de ajuda com treinamentos e consultoria nessa ĂĄrea, Ă© sĂł avisar).
As sugestÔes são bem pråticas, pois jå estão sendo executadas de uma forma ou de outra pelas empresas participantes do V6 e do GEC (meu curso online de Gestão de Equipes Comerciais). A questão passa a ser então priorizar qual delas funcionaria melhor na sua realidade atual e como fazer os ajustes necessårios para implantar o projeto na sua empresa.
Vamos lĂĄ!
25 ideias que vocĂȘ pode implantar na sua empresa para aumentar a lealdade e fidelizar clientes
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Criar grupos de apoio para clientes. No IEV, por exemplo, temos coaches para os alunos das franquias. Na sua empresa, quando o cliente tem alguma dĂșvida, com quem fala? Outro ponto positivo dessa forma de pensar Ă© que tira o monopĂłlio do vendedor no relacionamento com o cliente, criando mais pontos de contato, outro item que aumenta fidelização e lealdade.
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Desenvolver um kit de boas-vindas para novas compras e recompras.
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Realizar pesquisas de satisfação, com a intenção de melhorar o processo de compra e o atendimento e diminuir/eliminar irritadores
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Coletar depoimentos. SĂł o fato de coletar depoimentos muitas vezes faz o prĂłprio cliente sentir-se mais valorizado.
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Reconhecer e recompensar indicaçÔes/marketing boca a boca.
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Dar respostas rĂĄpidas a reclamaçÔes e resolver os problemas dos clientes (ĂȘnfase no resolver, sem enrolation).
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Dar respostas råpidas a sugestÔes de melhoria e/ou de inovação (novos produtos ou serviços, por exemplo).
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Fazer pesquisas de tendĂȘncia na sua ĂĄrea/setor/regiĂŁo e compartilhar resultados com clientes.
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Promover visitas técnicas com clientes.
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Estabelecer um processo de onboarding de clientes, ou o processo de dar boas vindas aos clientes, ensinando-os como aproveitar melhor a oportunidade tanto do produto/serviço que compraram/adquiriram quanto sobre como aproveitar o relacionamento com vocĂȘ e sua empresa.
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Criar um onboarding para vendedores, assunto pouquĂssimo trabalhado, mas muito importante. Qual o processo de âboas-vindasâ de um novo vendedor dentro da sua equipe?
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Trabalhar para engajar a equipe. Fred Reichheld tem um capĂtulo sĂł sobre isso no livro EstratĂ©gias da lealdade (Ed. Campus). Uma equipe desengajada nĂŁo retĂ©m clientes. Parece bĂĄsico, mas muitos gestores nĂŁo prestam atenção nisso. Pesquisas de clima interno que tenho feito com alunos tĂȘm feito muitos gestores ficarem bem surpresos em relação aos seus nĂșmeros e ao posicionamento da equipe. A forma como um lĂder lidera a equipe impacta diretamente fidelização de clientes, pois clima interno faz uma diferença tremenda!
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Oferecer treinamentos adicionais aos clientes, quando for o caso (presencial e/ou online).
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Criar eventos exclusivos sĂł para os clientes (presenciais e/ou online).
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Valorizar datas comemorativas com clientes.
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Dar brindes exclusivos para reconhecer e recompensar a fidelidade.
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Desenvolver planos de milhagem (tecnicamente, isso Ă© mais gestĂŁo de carteira e de oportunidades do que fidelização, pois estĂĄ relacionado diretamente a recompensar compras e Ă©, no fundo, um plano mais evoluĂdo de descontos. PorĂ©m, como pode alterar preferĂȘncias, pode ser incluĂdo nesta lista).
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Investir em branding/marca e relaçÔes pĂșblicas (incluindo trabalhar com formadores de opiniĂŁo). Existem estudos que mostram que muitas vezes seus clientes prestam mais atenção nas propagandas do que potenciais clientes/prospects, e que, dependendo do posicionamento, isso reforça o pensamento de que tomaram a decisĂŁo certa ao escolher vocĂȘ como fornecedor. Por isso muita atenção a questĂ”es promocionais!
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Treinar a equipe de vendas. Vendedores competentes e mais bem preparados, além de mais engajados, atendem clientes de forma diferenciada.
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Criar um comitĂȘ de clientes. Muitas empresas estĂŁo começando a criar comitĂȘs de clientes, com um grupo de clientes reunindo-se regularmente para conversar, fazer sugestĂ”es, interagir com a equipe, ajudar a planejar, opinar sobre mudanças.
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Criar um comitĂȘ âKaizenâ. Esse Ă© um comitĂȘ interno, multidepartamental, com o foco exclusivo de avaliar reclamaçÔes e sugestĂ”es de melhorias de clientes, implantar mudanças e fazer os ajustes necessĂĄrios para melhorar esses indicadores.
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Ter uma PUV (Proposta Ănica de Valor) real, comunicada e reforçada de maneira clara, consistente e contĂnua.
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Segmentar suas iniciativas de prospecção de clientes (fidelização começa na escolha correta de quem vocĂȘ atende).
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Segmentar a carteira atual de clientes de forma mais completa (indo alĂ©m da curva ABC, que Ă© limitada a volume/rentabilidade), entender as prioridades especĂficas de cada um dos segmentos e trabalhar para criar/reforçar PUVs especĂficas por segmento de clientes.
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Demitir clientes desalinhados, vampiros, predadores.
Se quiser, considere a lista acima de forma diferente: como diminuir e lidar de maneira inteligente e proativa com a potencial promiscuidade comercial de clientes. Talvez colocar dessa forma seja mais interessante em alguns casos.
Perguntas coach, para terminar:
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De 0 a 10, que nota vocĂȘ daria para seus processos e iniciativas de fidelização de clientes (os puramente relacionados a aprofundar o relacionamento, e nĂŁo apenas garantir uma compra imediata no contato sendo feito)?
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Existe uma pessoa responsĂĄvel por fidelização de clientes na sua empresa? Ela Ă© importante na hierarquia? (Dica: deveria ser o mais alto possĂvel dentro da hierarquia, afinal, a empresa inteira gira em torno disso).
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Existem indicadores especĂficos para avaliar a evolução da fidelização de clientes? HĂĄ, por exemplo, uma pesquisa de satisfação nĂŁo sĂł em relação ao produto/serviço/solução, mas ao processo de vendas e ao atendimento como um todo?
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Hå uma verba própria para fidelização de clientes?
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HĂĄ um comitĂȘ interdepartamental para avaliar e agir sobre os assuntos especĂficos ligados Ă melhoria de processos que aumentariam as avaliaçÔes sendo dadas por clientes?
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Como reclamaçÔes e sugestÔes de clientes são avaliadas?
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Como sugestÔes de clientes são implantadas?
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Como clientes sĂŁo recompensados e reconhecidos pela lealdade?
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Como a equipe de vendas Ă© recompensada e reconhecida pela lealdade dos clientes que atende?
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Como o resto da empresa Ă© recompensado e reconhecido pela lealdade dos clientes?
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Quais das ideias acima fariam a maior diferença na fidelização e aumento de lealdade de clientes, se implantadas?
Meu Ășltimo desafio e um pedido: vamos trabalhar juntos para mudar esse cenĂĄrio, onde todo mundo fala sobre como fidelização Ă© importante, mas na prĂĄtica pouquĂssima gente estĂĄ fazendo algo de verdade em relação a isso?
A melhor forma de crescer de maneira sustentĂĄvel (e de dormir tranquilo) Ă© parar de falar sobre isso e começar a fazer algo de maneira sĂ©ria, organizada, planejada. Com indicadores, comitĂȘ, reuniĂ”es periĂłdicas, pessoa responsĂĄvel.
Clientes fiĂ©is sĂŁo excelentes vendedores (via boca a boca), excelentes inovadores (via sugestĂ”es), excelentes crĂticos (via reclamaçÔes) e sĂŁo a melhor blindagem que uma empresa pode ter para o futuro. Assunto sĂ©rio que merece ser tratado de forma sĂ©ria. E nĂŁo Ă© via palestra motivacional que se consegue isso, Ă© uma decisĂŁo bem mais profunda e estratĂ©gica.
Abraço e boas vendas,
Raul Candeloro
Diretor
P.S. Caso sua empresa priorize a fidelização e a lealdade de clientes, entre em contato comigo e me conte o que vocĂȘs tĂȘm feito. Sempre gosto de aprender mais sobre o assunto ([email protected])!