A difĂ­cil compra de um micro

?Sentamos para comprar o micro. A jovem demonstrava nervosismo e insegurança. Era uma grande loja, cerca de 1 mil metros quadrados, umas quinze pessoas trabalhando, entre vendedores, caixas e contĂ­nuo. Todos fardados e fazendo algo em seus lugares. Ă€ primeira vista, nada estranho. Depois, aos poucos, fomos sentindo um clima superdiferente…? A necessidade de comprar um novo microcomputador levou-me a uma loja de informática bastante conceituada no seu meio. Eu queria verificar os preços promocionais, que estavam batendo atĂ© grandes magazines e supermercados. Uma jovem loura e bonita atendeu, indicando o local onde estavam expostos os micros e acompanhou, para os esclarecimentos necessários. A compra foi cheia daqueles detalhezinhos que Ă s vezes observo como gestos imprĂłprios para negĂłcios e vendas.

Inicialmente a jovem mostrou que dispunha de dois tipos de micros: Pentium III e AMDK6, o primeiro por cerca de R$ 2 mil e o outro em torno de R$ 1,4 mil, mas imediatamente passou a tratar das vantagens do AMDK6, que estava em promoção. Como a finalidade do micro justificava a compra do AMD e os recursos disponíveis não dariam mesmo para comprar o Pentium III, passamos a procurar informações sobre a máquina oferecida.

Mostrei Ă  jovem que a compra tendia para o AMD, atĂ© porque se quisesse o Pentium, compraria um IBM que encontrara em outra loja, pelo preço daquele de marca pouco conhecida. – Mas o IBM eu nĂŁo sei se tem ISO 9000 e o nosso tem. Nos dias de hoje, com as informações que se tem da tradição IBM, cremos que muita gente optaria pelo IBM sem pestanejar. A jovem levantava aquela dĂşvida demonstrando que sequer conhecia nada da IBM. Mas relevamos e procuramos mais informações sobre a máquina: 500 MHZ, 10 GB, 32MB de RAM, CD ROM 56, Modem… Sentamos para comprar o micro. A jovem demonstrava nervosismo e insegurança. Era uma grande loja, cerca de 1 mil metros quadrados, umas quinze pessoas trabalhando, entre vendedores, caixas e contĂ­nuo. Todos fardados e fazendo algo em seus lugares. Ă€ primeira vista, nada estranho. Depois, aos poucos, fomos sentindo um clima super-diferente.

Fechamos o negócio e emitimos um cheque para uma semana depois, conforme anunciava a promoção. Lá entra em ação a turma da conferência, dos telefonemas de SERASA e congêneres, até que veio a autorização final. Nenhum problema com o cheque. Nossa vendedora fez o cadastro para emissão da nota fiscal, mala direta e outras mídias. Preparava-se para mandar descer a máquina, quando sentimos algo estranho no ar. Ela é chamada num guichê e sentimos que tinha a ver com a nossa compra.

Minutos depois, lá vem a jovem, preocupada porque a gerĂŞncia nĂŁo queria confirmar a venda, alegando que a promoção havia acabado e o pagamento tinha que ser Ă  vista – nĂŁo para uma semana depois. Claro que nĂŁo concordamos em alterar nada. PercebĂ­amos uma pressĂŁo inacreditável em cima da nossa vendedora, talvez por ser bela, talvez por ser universitária, talvez por ser simpática, talvez por saber utilizar aqueles elementos necessários ao fechamento da venda, com certeza por ter algo que as outras nĂŁo tĂŞm. Sentia-se a jovem arrodeada de inveja e invejosos.

Para se ter uma idéia, eis alguns momentos das cenas de inveja:

1. A informação de que a promoção havia acabado e somente a vendedora não tinha sido avisada;

2. Uma vendedora num box vizinho, a despeito de uma gravidez de uns sete meses, de forma grosseira, arrebitada e mal educada, perguntou alto e bom som quem teria apagado um texto que deixara na tela do micro e não salvara. Ficara clara a insinuação de que a companheira poderia ter feito algo. Que modos de uma vendedora, diante dos clientes, demonstrando suas mesquinharias! E que lição do ambiente de uma loja de informática, uma vendedora que não salva seus textos no computador.

3. Nossa vendedora pediu a uma funcionária para servir um cafezinho aos seus clientes. A outra alegou que estava de “saĂ­da lá para dentro”. Conseguiu que uma outra trouxesse, nem um pouco simpática, um cafĂ© morno e doce. NĂŁo Ă© o fim do mundo, pois encontramos muito cafezinho frio por aĂ­.

4. Depois de todas as demarches, eis que a gerente chega com aquele ar de superioridade, censura e importância, para dizer que a venda estava confirmada e advertindo a funcionária de que aquilo não podia mais acontecer. Nada que a funcionária solicitava faziam. Até mesmo a caixa com o monitor foi ela quem teve de ir buscar numa sala vizinha, para evitar mais perda de tempo do cliente.

Enquanto aguardávamos o resultado, passamos a observar outras coisas na loja. Vizinho ao guichĂŞ no qual fomos atendidos, um senhor com jeito de irmĂŁo do dono telefonava aos gritos, enquanto um funcionário apresentava uma reclamação de um cliente que recebera um equipamento com problema: “Agora Ă© com a assistĂŞncia. Azar. Ele que se vire!” Finalmente, quase duas horas apĂłs termos entrado Ă  loja, chegou a Nota Fiscal, o equipamento estava no carrinho e nos despedimos da vendedora. NĂŁo pudemos deixar de observar o clima ruim e pesado da loja. Um clima de inveja, má vontade, falta de profissionalismo. Um conjunto de coisas que nĂŁo Ă© fácil encontrar em uma loja sĂł. Parecia que todos se sentiam na obrigação de fazer algo para tentar prejudicar a venda da nossa jovem. Claro que o equipamento vai resolver o problema para o qual o compramos. Mas com certeza sĂł compramos naquela loja por dois motivos:

1. Era urgente adquirir o micro, para iniciar um trabalho naquele mesmo dia.

2. Vimos na compra uma forma de enfrentar todo aquele clima e permitir que a nossa jovem fizesse aquela venda, apesar de todos os contratempos.

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