A era do acesso

Até pouco tempo atrás, ser forte no mercado era sinônimo de propriedade. Tinha-se a idéia que tendo grandes escrituras detinha-se o poder econômico e mercadológico. Até pouco tempo atrás, ser forte no mercado era sinônimo de propriedade. Tinha-se a idéia que tendo grandes escrituras detinha-se o poder econômico e mercadológico. O livro A Era do Acesso, escrito por Jeremy Rifkin, muda o conceito de propriedade e nos dá a certeza de que o nosso crescimento pode acontecer sem sermos donos de algo físico. Diz o autor que a riqueza já não é mais investida no capital físico, mas na imaginação e na criatividade humana. Aqui acontece o previsto por Mayo, quando combateu Taylor, ao dizer que a maioria das pessoas são capazes de serem criativas, engenhosas e imaginativas.

A propriedade baseia-se na idéia de que possuir um ativo físico ou uma propriedade em um período extenso de tempo é valioso, diz o autor, quando hoje deter essas mesmas propriedades é sinônimo de custo fixo. Independente de haver resultados, os custos permanecem e se transformam em passivos. Aliás, despesa é tudo aquilo que pode resultar em receita e manter um imobilizado gera custos e não despesas.

A era do acesso é a mudança da propriedade, passando-se a usuários e não proprietários. Administra-se o conhecimento, a idéia e as criações, transformando-as em ações concretas e tangíveis, quer através de produtos ou serviços. Foi-se a era industrial. Hoje vivemos a era da tecnologia. Mudaram os conceitos, quer você queira ou não aceitar.

Vivemos numa era em que a cultura predomina e a grande questão, indaga Jeremy, é o que diz respeito se a civilização poderá sobreviver com um governo e uma esfera cultural extremamente reduzidos e aonde a esfera comercial é deixada como o mediador básico da vida humana: as antigas instituições fundadas nas relações de propriedade, nas trocas de mercado e no acúmulo de bens materiais estão sendo arrancadas lentamente para dar lugar a uma era em que a cultura se torna o recurso comercial mais importante, o tempo e a atenção se tornam a posse mais valiosa e a própria vida de cada indivíduo se torna o melhor mercado. Friza ainda o autor que o comércio sempre esteve ao redor de uma esfera cultura e sempre dependeu dela, ou seja, sem a cultura não se sobrevive, principalmente na era do acesso .

A informação está circulando com o nosso sangue e hoje ? anos após este livro quem consegue viver sem estar conectado ao mundo? Somos a geração ponto com. Em 1851, Nathaniel Hawthorne previu que, com a eletricidade, o mundo da matéria tornaria-se um grande nervo, vibrando milhares de milhas em um instante fugaz. E isso acontece hoje. Basta ligar a CPU. É a era da economia conectada. Mudam-se os donos ao simples enter e grandes ações são feitas, estando eu no Sul do Brasil, mexendo com a economia da Ásia.

O mundo está just in time. Os ativos, conforme o livro, na forma de propriedade, estão encolhendo ou desaparecendo. O estoque, que costumava ser enorme, hoje destina-se unicamente para o que está sendo fabricado. Já existem redes de supermercados que, ao se retirar um produto da gôndola, um mecanismo é acionado e o fornecedor (antes vendedor) repõem este produto a este usuário (antes comprador).

Tal qual just in time estamos vivendo a era da desmaterialização do dinheiro. Não mais se vê quantias, mas sim cliques ao se transferir a posse do mesmo. Posso colocar centenas de reais na conta de um filho sem ao menos vê-los ? filho e reais.

Não somos mais donos de nada, mas estamos vivendo a era do leasing. Passamos da propriedade de fato para a de direito e isso ocorre enquanto arrendamos algum bem, cuja propriedade não é mais nossa, mas somente detemos o uso e não confunda com deter uma marca, a qual também pode ser arrendada ou usada na forma de franquia, porque é isso mesmo o que diz o autor ? a troca de propriedade, ficando-se com a idéia; alguém fará a criação tornar-se tangível, tratando-se de bem físico.

É a chamada terceirização de propriedade, cujos ativos são alienados. Gerencia-se o conhecimento e não mais o parque fabril, como é o caso da Nike, que detém um escritório de criação e outros materializam o que está sendo criado. É uma transacional sem corpo físico, apesar de que, com a terceirização, ocorre o enfraquecimento do poder da mão-de-obra. Ainda no Brasil é pouco significativo, mas logo desponta no meio comercial e industrial. Logo estaremos vivendo a era dos ativos intangíveis ou a era da criatividade, da comercialização das idéias e as pessoas passam a comprar mais essas idéias: ao invés de se ter uma piscina, associamos-nos a um clube que tem piscina, conforme escreveu o professor Marcos Luiz Filippin, junto ao fórum da cadeira Evolução Histórica da Administração, no curso TECEM ? Tecnologia do Empreendimento que faço junto à Unoesc (www.unoesc.edu.br).

Logo tudo será terceirizado, alugado ou estará na forma de franquia. Mesmo que a propriedade passe para outro, a idéia continua sendo o foco da era do acesso, a qual, ao seu criador, rende muito mais do que se fosse o detentor da parte final ? a fabricação ou da prestação de um serviço. Deter a criação é o poder máximo; fabricar qualquer um poderá, bastando ter a idéia, o conhecimento. Quem não foi convidado para associar-se a um time share? Ser dono de uma parte de um hotel ou empreendimento, sem ser proprietário dele. O ser dono significa poder usufruir do mesmo por um determinado período sem ter de bancar a sua manutenção total.

Um grande exemplo da era do acesso é o que a Monsanto faz ao deter a patente das sementes transgênicas. Ela cobra royalties sobre cada saco de soja que é comercializado no mundo e ganha muito mais do que aqueles que as plantam. É deter a tecnologia e o conhecimento.

Na página 77 desta edição que eu li (2001), Desfazendo-se dos Bens e Cobrando pelos Serviços retrata a era do acesso: quer banhar-se em uma piscina? Não compre uma; associa-te a um clube que tenha piscina. Deixe ao clube o ônus da manutenção e para você, somente o benefício do uso por este serviço.

Sempre briguei com as pessoas que, ao invés de focarem no cliente, insistem em focar no mercado. Conforme Peppers e Rogers, economia de rede é você vender mais para um mesmo cliente, ao invés de tentar vender para mais clientes, como o que vinha ou está se fazendo. Eu sou um cliente por 10, 20 ou mais anos. Basta me manter como seu ativo principal. Uma das orientações empresariais em relação ao mercado (Kotler, 1999, 33 ? 44) diz que as empresas podem adotar diversas posturas para poderem atuar nesse mercado. Essas posturas ou orientações se voltam à produção, às vendas, ao produto, ao marketing e ao marketing social, mas a era do acesso diz que está havendo uma mudança na ênfase da manufatura e venda de produtos para o estabelecimento e manutenção de relações comerciais a longo prazo, fazendo com que o marketing tenha um papel relevante na vida comercial.

Passa-se da perspectiva de produção para a de marketing ou foca-se no cliente e na sua existência. Deixa-se de controlar o produto e passa-se ao controle do cliente: relacionamento. Peter Drucker, pai das modernas práticas de administração de empresas escreveu: o cliente é a fundação de uma empresa e mantém a existência dela. Só ele gera emprego.

Continua o autor dizendo que estamos vivendo em comunidades fechadas e basta olharmos ao redor para comprovarmos o que ele escreveu. Voltamos às origens das ruas calmas, tranqüilas, das portas não chaveadas, mas dentro de uma comunidade fechada, um condomínio, com total sustentação e acesso a tudo. Se posso alugar um smoking, por que não posso alugar um conforto, uma segurança?

Cada sociedade tem uma cultura, mas se esta cultura não se adequar à era do acesso , ou pelo menos ser flexível, sua tendência é o esquecimento. Por outro lado, se você não aprender a conviver com as novas e antigas culturas, você também fica no esquecimento. O exemplo disso está naquelas pessoas que convivem com o parque fabril da China. Não basta falar em inglês, você deve aprender o mandarim.

Se na nova era o produtivo cede ao criativo, uma empresa está sendo vista não como trabalho, mas como fonte de diversão, entretenimento ou, em palavras mais simples, na realização dos desejos do consumidor. Saímos do marketing de produção para o cultural, o da criação e da performance. Diz o autor que o poder real da nova classe de intermediários culturais residem em seus ativos intangíveis: conhecimento e criatividade, sensibilidade artística e habilidades como empresários, experiência profissional e talento para o marketing. São eles ? os marqueteiros e publicitários ? os verdadeiros artistas que nos divertem com suas criações, satisfazendo nossos desejos. O mundo queria o produto; agora queremos a diversão sem haver a propriedade. Já podemos “alugar” um Office sem ter que desprender uma alta quantia para nos dizermos “donos” de um software.

Infelizmente muitos ainda não acordaram para a era do acesso, continuam vivenciando a propriedade e não detêm um poder chamado acesso. Vivem no século XXI como se fosse na Idade Média. Propriedade e poder; nada de cultura e diversão.

Eu sou um dos autores deste mundo e, se ficar alienado à propriedade, como poderei usufruir das benesses se o meu tempo está sendo gasto em sua manutenção e conservação?

Não sei viver sem um PC. Ele me leva à era do acesso. Posso ler sem ter o livro, aprender sem estar frente ao professor. Eles jamais serão substituídos, mas não mais precisam estar ao meu lado. Basta eu saber usar este conhecimento e viver essa cultura online.

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