A essĂȘncia de um atendimento essencial

Vivemos numa Ă©poca de deslumbramento por empresas grandes e poderosas. AtĂ© os livros e cursos de administração e marketing dĂŁo pouca atenção a empresas pequenas e despretensiosas. O paradoxo Ă© que sĂŁo elas que geram a maioria dos empregos em nosso paĂ­s. “E nĂŁo se esqueça de trazer algum troco, ””””””””””””””””seu”””””””””””””””” Odemir”. É assim que termina o telefonema que minha mĂŁe faz periodicamente a uma mercearia de minha cidade. ViĂșva, e com alguma dificuldade de locomoção, ela depende da mercearia para coisas que nĂŁo encontra nas prateleiras dos grandes supermercados: atenção, carinho e consideração. AlĂ©m de algum troco para o cheque, que ela sempre faz com valor maior para evitar ir ao caixa eletrĂŽnico. Como jĂĄ nĂŁo dirige, o banco drive-through nĂŁo ajudaria.

A mercearia do ””””””””””””””””seu”””””””””””””””” Odemir traz no nome a sugestiva palavra “Essencial”. É evidente que aquilo que Ă© essencial para minha mĂŁe vai muito alĂ©m da grande variedade de produtos e promoçÔes alardeadas pelos supermercados. Essencial, para quem pertence ao grupo que chamamos de terceira idade, Ă© um atendimento humano, atenção e ouvidos pacientes. AlĂ©m da companhia para um cafezinho, quando o prĂłprio “seu” Odemir, sua esposa ou ambos fazem a entrega da semana.

Vivemos numa época de deslumbramento por empresas grandes e poderosas. Até os livros e cursos de administração e marketing dão pouca atenção a empresas pequenas e despretensiosas. O paradoxo é que são elas que geram a maioria dos empregos em nosso país. As estatísticas mostram que dos dois milhÔes de novos empregos gerados em cinco anos, apenas cem mil teriam sido criados por grandes empresas. Då para perceber com que pernas caminha o progresso?

O problema do pequeno empreendedor começa quando ele quer imitar o grande. Começa perguntando “o que devo fazer para ser igual ao grande?”, quando deveria perguntar “o que o grande estĂĄ tentando fazer para ser igual a mim?” Conseguir forjar o atendimento humano e carinhoso de uma mercearia de bairro Ă© o sonho das grandes empresas. Mas nĂŁo conseguem e nem conseguirĂŁo, a menos que se pulverizem em pequenos ambientes de atendimento, cercados de calor humano como a mercearia do “seu” Odemir.

Ou como a barbearia do “BastiĂŁo”, que cortou meu cabelo desde a infĂąncia. Com o mesmo carinho com que nossos pais guardavam uma mecha de cabelo, ele ainda conserva a pequena tĂĄbua que colocava sobre os braços da cadeira para deixar seus mini-clientes mais altos. O avental era um bĂŽnus para compensar a vergonha de sentar na tabuinha. Cobria tudo, fazendo eu me sentir adulto. “BastiĂŁo” guarda a tĂĄbua e as lembranças de milhares de meninos que, como eu, adoravam ir ao seu salĂŁo para ler gibi ou rir com “O Amigo da Onça” na revista “O Cruzeiro”.

Serå possível um renascimento dos negócios pessoais, personalizados e essenciais como a mercearia ou a barbearia? Creio que sim, e o raciocínio é simples. A tecnologia, a custos cada vez mais acessíveis, permite que pequenas empresas desfrutem de todo um sistema de informação e logística de distribuição que as torna competitivas. Principalmente se estiverem dispostas a oferecer café e serviços informais, que podem ir do divã do analista ao caixa eletrÎnico.

Nos Estados Unidos, o Umpqua Bank — nĂŁo me pergunte como se pronuncia — se reinventou na forma de uma mercearia. Lançou uma marca prĂłpria de cafĂ©, transformou suas 28 agĂȘncias em lojas de conveniĂȘncia, com sala de leitura e acesso Ă  Internet, e revolucionou o atendimento ao cliente. Criou uma atmosfera semelhante Ă  da mercearia do “seu” Odemir, ou da barbearia do “BastiĂŁo”. Fazer isso no Brasil seria resgatar uma atividade que deixou saudade em muitos idosos: ir ao banco para tomar um cafezinho e bater papo. Hoje, ninguĂ©m de sĂŁ consciĂȘncia iria querer conversar com um caixa eletrĂŽnico.

Pequenas empresas levam vantagem quando adotam novas tecnologias, que as grandes tĂȘm, sem abrir mĂŁo do atendimento pessoal, que as grandes nĂŁo tĂȘm. Um exemplo disso Ă© o drive-through. Antes vocĂȘ sĂł entrava com o carro em uma loja em caso de acidente, mas o sistema começa a aparecer em pequenas farmĂĄcias e lanchonetes. O serviço jĂĄ nĂŁo era novidade nos grandes bancos, e eu mesmo passei a usĂĄ-lo depois que descobri o quanto ele Ă© importante para meu automĂłvel. Foi no drive-through do banco que meu carro teve a chance, pela primeira vez, de conhecer seu verdadeiro dono.

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