A responsabilidade social das empresas brasileiras

Venda Mais Empregos traz entrevista-chat com Oded Grajew ? diretor-presidente do Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Oded Grajew é formado em engenharia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), fundou a Grow Jogos e Brinquedos em 1972, onde permaneceu até 1993. Também participou da fundação do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). Como presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), criou, em 1990, a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, que auxilia hoje cerca de 1 milhão de crianças. Em 1998, participou da fundação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, do qual é o atual diretor-presidente. Chat realizado no site http://www.empregos.com.br.

?» Lola: Tenho vontade de me dedicar exclusivamente às causas sociais, mas tenho trabalhado em outras áreas, com marketing e publicidade, para garantir meu sustento. Existe a possibilidade de construir uma carreira profissional em fundações e ONGs?
Lola, claro que sim. Hoje existe muita gente que trabalha em fundações e ONGs. Há várias estatísticas sobre isso, mas se estima que no Brasil aproximadamente 1 milhão de pessoas trabalha no terceiro setor. Na Fundação Abrinq, trabalham cerca de 55 pessoas, aqui no Instituto Ethos, 15 pessoas. Para apoiar causas sociais ou transformações sociais não é necessário trabalhar no terceiro setor. Muitas empresas hoje estão tentando se tornar socialmente responsáveis. Mesmo trabalhando em empresas de outras áreas, há muito espaço para colaborar na responsabilidade social das empresas.

?» Valeria: Oded, sobre o programa de responsabilidade social, estariam incluídos os trabalhos com funcionários, visando maior nível de informação para melhor qualidade de vida – estresse, alimentação, sono, lazer etc?
Valeria, a responsabilidade social/empresarial diz respeito ao comportamento da empresa em todas as suas atividades e nas suas relações com os diversos públicos: funcionários, comunidade, meio ambiente, clientes, fornecedores, governo, acionistas, concorrentes. Não há nenhuma atividade que foge da responsabilidade social da empresa. Nesse sentido, o comportamento ético e responsável da empresa em relação à qualidade de vida dos seus funcionários faz parte da responsabilidade social.

?» Giovanni: Como um designer pode colaborar com o processo?
Giovanni, qualquer um pode colaborar com o processo. Depende a serviço de quem ele está colocando seu trabalho. Um designer pode colaborar com uma peça de comunicação que promove os direitos humanos ou trabalhar na campanha do Pitta. Ele pode colaborar para uma transformação social ou para uma degradação da sociedade. Depende sempre da sua escolha ética. Espero que você ajude a promover os direitos humanos.

?» Rui: Quantas empresas no Brasil podem ser hoje consideradas responsáveis? Não são poucas?
Rui, a responsabilidade social é sempre um processo. Nunca você chega a ser totalmente responsável, sempre existem mais coisas a serem feitas. No Brasil, as empresas socialmente responsáveis ainda são poucas mas, como eu milito nessa área há vários anos, percebo que o movimento é crescente. Aliás, a responsabilidade social não é só das empresas, ela é de cada organização e de cada indivíduo – ela não é o discurso, mas a prática.

?» XYZ: Qual deve ser a pauta prioritária dos nossos candidatos a prefeito? Qual é o papel da empresa na campanha eleitoral?
XYZ, o Brasil é o campeão mundial da desigualdade social. Em nenhum país a distância é tão grande entre ricos e pobres. Diminuir essa distância deveria ser a pauta prioritária de qualquer brasileiro. O papel da empresa na campanha eleitoral é de agir dentro da lei e de apoiar candidatos éticos e comprometidos com a justiça social. O Instituto Ethos tem uma cartilha sobre a responsabiliade social das empresas no processo eleitoral. Você pode solicitá-la conosco.

?» Natus: Que conselho você poderia dar a um desenhista industrial que acaba de sair da faculdade e está interessado na criação e desenvolvimento de brinquedos para deficientes?
Natus, procure entidades que trabalham na causa dos deficientes , por exemplo, a APAE, ou tente sensibilizar alguma empresa para que apoie seu projeto.

?» Rui: Por que não conseguimos perceber este trabalho das ONGs no dia-a-dia?
A impressão é que o país continua muito ruim… Rui, porque eu acredito que não será apenas pelo trabalho das ONGs ou pelas ações filantrópicas das empresas que o país será melhor. O compromisso e a atuação do governo para que tenhamos políticas públicas socialmente responsáveis é fundamental. Nenhum país se tornou mais civilizado sem atuação decisiva do poder público. As ONGs podem produzir projetos modelos e pressionar o governo, mas sem o governo nenhuma transformação decisiva será efetua.

?» Fê Conarh: Qual é a importância de uma empresa colaborar com instituições sociais?
Fê Conarh, primeiro, ela está ajudando uma causa nobre; segundo, ela está sinalizando um exemplo para as outras empresas e, terceiro, ela está melhorando sua imagem o que é importante para o seu sucesso. Mas se ela não tiver uma atitude correspondentemente ética também com seus funcionários, com seus clientes, com o meio ambiente ou se meter em corrupção nada disso será válido.

?» Lola: Estando na área de marketing, ouço muito falar do “marketing social”. Não é problemático que as empresas pensem em dedicar-se a causas sociais somente para aparecer na mídia e melhorar sua imagem?
Em que grau isso acontece no Brasil? Lola, se a empresa fizer o marketing social e não corresponder com um comportamento socialmente responsável em todas as suas atividades, o tiro pode sair pela culatra. É como anunciar um mau produto. Isso no Brasil já aconteceu muito, mas está está acontecendo muito menos, por que pode se tornar um grande risco para a imagem da empresa.

?» Conarh: Em matéria de responsabilidade social, como você vê o nível das empresas brasileiras hoje? Elas estão pelo menos no nível das multinacionais instaladas aqui ou ainda perdem?
Conarh, salvo raras e honrosas excessões, a grande maioria ainda está distante do nível de algumas multinacionais. Algumas multinacionais ainda estão também longe do que seria um patamar razoável de responsabilidade social. Como a exigência da sociedade na Europa e nos EUA é maior do que a nossa sobre as empresas, as multinacionais em geral já trazem uma cultura de responsabilidade social de seus países de origem.

?» Fê Conarh: Como as empresas podem começar a aplicar a “responsabilidade social”?
Fê Conarh, primeiro tomar a decisão política, segundo, baseado nos indicadores Ethos de responsabilidade social, avaliar sua situação e planejar metas a serem alcançadas ao longo do tempo. Os indicadores estão no site do Ethos.

?» Ruba: Qual é o site do Ethos?
Ruba, o endereço do site é www.ethos.org.br.

?» Lola: Alguns dizem que o incentivo ao terceiro setor é uma forma de delegar a responsabilidade sobre problemas sociais à comunidade, aliviando o governo e permitindo o descuido, por exemplo, da rede de educação e saúde pública. Esse perigo é real?
Lola, é real e grande, por isso aqui no Ethos e também na Fundação Abrinq defende-se a posição que a responsabilidade do governo sobre os serviços públicos é inalienável e, sem serviços públicos de qualidade, nenhuma transformação será possível.

?» XYZ: Qual a solução para o desemprego? Uma ação coordenada dos três setores – privado, governamental e social?
XYZ, uma ação coordenada dos três setores, mas que esta ação tenha como prioridade as pessoas e não o econômico. Tudo depende para quem esta ação coordenada está voltada.

?» Rui: Como a sociedade pode avaliar o trabalho das ONGs? Como escolher bem uma causa para apoiar?
Rui, a sociedade pode avaliar o trabalho de uma ONG procurando saber da sua transparência e do resultado das suas ações. Como em qualquer comunidade, existem as boas e as más ONGs. O importante é saber a consistência do trabalho ao longo do tempo e o histórico das pessoas que fazem parte. Qualquer causa apoiada com ética e compromisso social é boa para ser apoiada.

?» Fê Conarh: O senhor acha que as faculdades deveriam dar maior ênfase à responsabilidade social, tavez até acrescentando como matéria? Fê Conarh, eu acho. Seria bom você tomar conhecimento do prêmio Ethos/Valor sobre responsabilidade social para trabalhos de conclusão de curso universitário. Informações em nosso site.

?» Ruba: Como uma empresa, como a Petrobras, que vem praticando diversos acidentes ecológicos, deveria agir (com responsabilidade social)?
Ruba, acidentes fazem parte da vida de cada um e de cada empresa. A responsabilidade social é reconhecer os erros e agir para que não se repitam. E sobretudo compensar os danos causados aos outros.

?» Lola: Gostaria de fazer uma tese sobre o voluntariado e o terceiro setor no Brasil. O senhor poderia dar uma sugestão de como conseguiria dados para minha pesquisa (estatísticas, livros importantes, pessoas a entrevistar, instituições a visitar)?
Lola, entre em contato com o Centro de Voluntariado de São Paulo ou com o Stephen Kanitz. Informações complementares no Ethos.

?» Rui: Quais são os próximos passos do Ethos?
Rui, estamos lançando na semana que vem uma grande campanha de mídia para sensibilizar as empresas e a sociedade para a responsabilidade social. Estamos lançando publicações sobre empresas e a criança e o adolescente, sobre diversidade, sobre código de ética, sobre saúde da mulher. Estamos elaborando um novo modelo de balanço social. Estamos lançando uma campanha para mobilizar jornalistas na promoção da responsabilidade social, e teremos neste semestre aproximadamente 12 seminários pelo Brasil.

?» Klaus: Você ganha muito $$$ com a desculpa de ajudar crianças ou isso é uma falsa acusação?
Klaus, geralmente quando alguém tenta fazer alguma coisa decente no Brasil, as pessoas imaginam que às vezes deve ser por alguma razão escusa. Você pode ter certeza que eu ganharia muito mais $$$ nas minhas atividades anteriores, mas certamente estou ganhando muito mais gratificação espiritrual. Por favor, venha me visitar que terei o máximo prazer de dar mais detalhes para você.

?» XYZ: Klaus, sua colocação foi bastante grosseira e mostra que você não entende nada do movimento sério a favor de nossas crianças.
XYZ, obrigado pelo apoio, mas no Brasil, infelizmentre, esses questionamentos são até normais. Temos tantos exemplos de falta de ética que a tendência é achar que todos são assim. Mas isso também faz com que as pessoas fiquem paralizadas achando que não adianta. Posso dizer que existe muita gente no Brasil honesta e comprometida. O dia que esta gente for maioria nosso país será bem melhor.

?» XYZ: Como o Instituto pretende ajudar as micro e pequenas empresas? Como engajá-las?
XYZ, a responsabilidade social não depende do tamanho da empresa. Aqui no Ethos damos muitas informações e idéias e exemplos de como as empresas de qualquer tamanho podem empreender ações socialmente responsáveis. A campanha que estamos lançando visa engajar estas empresas.

Obrigado, pessoal, pela participação e posso assegurar que não existe nada melhor na vida do que estar numa atividade que dê sentido às nossas vidas e esteja de acordo com nossos valores. Espero que todos busquem e achem esses espaços.

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