Aspectos educativos envolvidos na adoção

Se a verdade provoca dor, também fortalece os laços da confiança. Dos direitos dos seres humanos, um deles assume marcante importância existencial: o direito à biografia, pois é a história que dá sentido à pessoa como ser, dando também sentido à sua individualidade. De um modo geral, sob certos aspectos, sabemos o início de nossa biografia, mas não temos idéia de como terminará.

O filho adotivo carrega na sua história uma interrogação a mais: desconhece ou, de modo geral, tem apenas conhecimento de fragmentos de sua história de origem. Sem história não somos pessoas reais, pois precisamos ouvir a nossa história para podermos ouvir a nós mesmos.

É verdade, que, independentemente de ser informado de sua origem, o filho adotivo tem uma percepção inconsciente da peculiaridade de sua história. Mesmo ignorando informações objetivas sobre sua origem, ele vive no inconsciente sua história de origem. Vive, porém, a angústia de não poder traduzir na linguagem do seu consciente a sua trajetória histórica. O saber inconsciente não preenche a necessidade consciente se ver inserido na história.

Sabemos, desde há muito, pela vivência clínica e pela experiência pessoal dos pais adotivos, que menos sofrido é saber-se adotivo do que se sentir enganado pelas pessoas com quem se construiu vínculos afetivos de natureza parental. A verdade é preferível à mentira. A verdade que desabrocha em uma relação de afeto não traz elementos destruidores, apesar dos desconfortos ou mesmo de intensas angústias que possam provocar. Se a verdade provoca dor, também fortalece os laços da confiança.

Na relação parental adotiva, as dificuldades relacionadas com a comunicação da origem do filho são muito mais um problema dos pais adotantes do que dos filhos adotados. Quando não se conta ao filho sua história ou forja-se uma história inverídica para eliminar o incômodo da inexistência da ligação genética, tenta-se fugir de um momento de angústia, sem que se elimine uma ansiedade que pode perdurar pelo resto da vida. ?A grande tentação é a mentira. Menos por vontade de enganar outrem do que por medo de confessar a si mesmo a verdade?, afirma André Compte-Sponville. Dar conta da origem é mais doloroso para os pais do que para o filho. O encontro com a verdade da infertilidade ou com a inexistência do vínculo genético é uma dor do adulto e não um sofrimento da criança, mesmo que ela deseje ser parte, sobretudo, do corpo materno da mãe adotiva.

A negação da origem, ao invés de resolver um problema, criará dificuldades psicológicas e existenciais de repercussões imprevisíveis. É possível fugir de uma verdade, mas não escapar dela. Que conseqüências há no comportamento do filho adotivo, quando ele é submetido ao mistério da sua origem? Pelo menos três modificações são encontradas no acompanhamento clínico psicológico: sentimento de menos-valia, lentificação em alguns aspectos do desenvolvimento emocional e um sentimento de irrealidade.

Para os pais adotivos, o desconhecimento da origem do filho pode produzir insegurança e medos ? sem dúvida, desnecessários; o não-saber, resultante do não-dito, produz um vazio existencial. Ao contrário do que muitos pensam, o empenho do filho adotivo na busca de sua origem biológica não está vinculada a uma necessidade afetiva: é, sobretudo, uma necessidade intelectual, cultural e existencial. Isso responde aos pais ansiosos e intranqüilos. Nenhum filho adotivo, certamente, premeditará deixar seus pais adotivos se, porventura, encontrar os pais de origem.

Dentre as dificuldades que vivem os filhos adotivos que desconhecem sua história de adoção, por mais sucinta que seja, uma sobressai, produzindo problemas, às vezes, difíceis de resolver, ou mesmo, contornar. Trata-se do processo de desenvolvimento sexual. Nesses casos, percebe-se, em um percentual acentuado de adotivos uma precocidade sexual, quando não uma exacerbação da vida sexual. Quando o filho adotado não toma conhecimento de sua história adotiva por meio de pessoas confiáveis afetivamente, existe uma tendência de valorizar exacerbadamente o único aspecto objetivo que conhecem da sua história: ele foi o resultado de uma relação sexual. É possível que passe a viver sofregamente, agarrando-se como pode, à realização do único elemento claro da sua história. Assim, viver a sexualidade intensamente, torna-se uma maneira de justificar para si mesmo um liame histórico que não poderá ser refutado.

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