Até que ponto uma religião pode influenciar as vendas

O que nossos leitores pensam a respeito do aumento de evangélicos em vendas

Você já notou como há cada vez mais evangélicos aderindo à profissão de vendedor? Conhecidos pela postura atuante em relação à fé, a maioria deles não fuma nem bebe, prega fazer o bem e traz a autoconfiança como um ponto bastante positivo por acreditar que o Senhor está a seu lado e sempre irá guiá-lo ao melhor caminho.

 

Entretanto, há quem diga que eles evidenciam alguns preconceitos em relação às outras crenças, o que pode atrapalhar as vendas, e confiam que a providência de Jesus Cristo solucionará qualquer problema – não importa o que eles façam ou deixem de fazer. Pensando nisso, a VendaMais resolveu conferir o que nossos leitores acham desse aumento de evangélicos em vendas. Chegaram as mais diversas opiniões e histórias a nossa redação, confira algumas delas:

 

Mesmo sendo católico, comumente sou convidado a assistir a algum culto e, de vez em quando, aceito esses convites com gratidão. Devo confessar que alguns parecem mais uma “palestra motivacional”. É realmente impressionante a capacidade oratória de alguns pastores e preletores. Imagine aplicar toda essa motivação, essa fé de que vamos superar todos os obstáculos, que o mundo pode ser um lugar melhor, que o dia de amanhã será de vitória, e transformar tudo isso em produtividade? Some a isso o fato de contarem com a proteção divina e poderem “reabastecer” essa energia a qualquer momento do dia e teremos um time imbatível. Realmente acredito nesses vendedores, não somente nos evangélicos, mas também naqueles que já têm um potencial natural e que buscam sempre algo mais.

 

Ferreira

 

Eu acredito que tudo que seja demais atrapalha e que não devemos envolver certas coisas na vida profissional. Esses dias, tive uma experiência interessante com uma vendedora de uma escola de inglês. Dentre todas as suas técnicas de vendas, que são um pouco contrárias as que aprendo aqui na VendaMais, ela expressou sua opinião pessoal para tentar me convencer, e isso envolvia religião: “Juliano, eu não sei de qual religião você é, mas saiba que o homem é a cabeça da casa e a mulher deve ser submissa a ele”. Isso tudo simplesmente porque eu não queria decidir sobre a matrícula no tal curso sem antes falar com minha esposa. Particularmente, acredito que ela foi infeliz no comentário. Eu já ouvi a mesma coisa na igreja, talvez seja a mesma que ela frequente, mas, na boca do Pastor, soou de outra maneira. Por quê? Talvez, porque a hora certa de pregar seja dentro da igreja. Com certeza, a religião da pessoa influencia em sua vida profissional. Em minha empresa, por exemplo, existem muitos evangélicos, e eles são mais disciplinados e aceitam as dificuldades de uma maneira diferente – e dificuldades não faltam, principalmente em vendas.

 

Juliano Bardi Ferrari

 

Acredito que quem ganha mais com o “crescimento” dos evangélicos em vendas é o mercado em si e, finalmente, o consumidor, pois saem aqueles “vendedores” que enganavam você com promessas absurdas, vendendo qualquer coisa sem qualidade, e entra a excelência, a preocupação com o cliente, com a qualidade do produto e/ou serviço, já que nós, evangélicos, não podemos pregar a mentira, porque o pai da mentira é o diabo e não servimos a dois deuses. O Evangelho não é uma religião, mas sim viver de forma justa, limpa e verdadeira, sabendo que minhas ações serão julgadas no dia do juízo final e o que eu fizer aqui, independentemente do cargo, dia e hora, determinará o bem mais precioso de toda a minha caminhada rumo à vida eterna. O verdadeiro evangélico não busca somente a prosperidade, saúde, felicidade neste mundo, mas ele quer também perpetuá-la na eternidade.

 

Claudia Peloso

 

 

Em minha opinião, religião não é atributo profissional, portanto, preferências pessoais devem ser guardadas para eventos sociais. No ambiente corporativo, nossa formação pessoal deve ser usada como base de educação e cultura, mas não como catequizador de clientes. Vendedor tem de ser um mediador, e não um impositor de ideias.

 

Júnior

 

Tenho uma rede de lojas de telefones celulares em várias cidades do interior da Bahia. Em minha equipe, há colaboradoras evangélicas, porém não foi premissa para a contratação. Tive uma experiência complicada com uma de nossas funcionárias: quando resolvemos mudar o uniforme da rede, ouvimos todas e ficou acertado que, no inverno, a farda seria calça. Uma delas nos disse que, se isso fosse realmente estabelecido, ela pediria demissão da empresa. Informamos que não era uma decisão nossa, mas da maioria e, em especial, das colaboradoras da cidade em que ela trabalhava pelo fato de ter um inverno muito frio. Tentamos argumentar por todos os meios e, precipitadamente, ela, que não era a única evangélica de nosso grupo, pediu demissão. No entanto, a farda acabou por não ser a tão temida calça. Tenho observado que algumas religiões vêm doutrinando as pessoas a se fecharem para o mundo, fazendo com que a fé deixe de ser uma coisa bacana, pura. Acredito em Deus, nos bons pensamentos e nas forças positivas do universo, mas não preciso sair na rua gritando ou batendo com a Bíblia na cabeça dos outros.

 

Raymundo Velasco

 

Não acredito nesse quesito de que vendedores evangélicos transmitam maior credibilidade, pois, independentemente da religião, todos nós temos capacidade para realizar as coisas, e a religiosidade não é sinônimo de honestidade e competência. Vemos, em todos os credos, pessoas honestas e desonestas. Desse modo, percebemos que a credibilidade vem com perseverança, trabalho e um bom conhecimento do que está sendo oferecido. Agora, se o produto é de igreja evangélica, como cds, livros e outros mais, creio que eles poderão vender melhor pelo fato de acreditarem no produto. Isso é condição crucial para qualquer ramo de trabalho.

 

Emanuel

 

Sou evangélico e atuo na área comercial desde 1995. Comecei como auxiliar de vendas em um frigorífico da região e, há quatro anos, tenho meu próprio escritório de representação no ramo de carne bovina. Acredito que tudo que acontece em minha vida tem a mão de Deus, bençãos e provações são todas bem vindas, pois tudo pertence a Ele e serve para nosso crescimento. A melhor coisa em crer em Deus é que Ele me dá sabedoria suficiente para fechar os melhores negócios, não ter medo de prospectar clientes em potencial e me tira a ansiedade que, às vezes, atrapalha um fechamento de vendas. Então, posso confirmar que a presença de Deus em meus negócios foi o que fez eu aumentar as vendas em 80% nos últimos três anos. Glória a Deus por tudo que Ele me tem feito.

 

Robson Mariani Sangermano

Em minha visão, por estar envolvido diretamente nessa questão – sendo evangélico e vendedor –, lidando com vendas de projetos para o mercado corporativo há vários anos, o principal benefício que um vendedor evangélico (genuíno) pode oferecer a uma empresa é ser um profissional de vendas que trabalha exatamente dentro dos preceitos que a VendaMais sempre defendeu:

 

  • Falar sempre a verdade.
  • Preocupar-se verdadeiramente com o cliente, e não somente com a venda.
  • Ter zelo, cuidado e respeito pela sua empresa, recursos, produtos e colegas.
  • Tornar o ambiente de trabalho mais leve e justo.
  • Não criar conflitos entre colegas, mas sim ajudar a superar desavenças, sendo, muitas vezes, um ponto de apoio de muitos.

Nivaldo Morais

A respeito do crescimento do número de vendedores evangélicos, posso comentar que tenho encontrado esporadicamente com alguns deles. São, via de regra, gente bem-educada e polida. Meu único reparo é que, geralmente, eles misturam o trabalho de vendas com religião, pois aproveitam a ocasião para ‘catequizar’ o cliente, o que, evidentemente, é bastante desagradável para muitas pessoas. Seria recomendável que não atuassem dessa forma. Na última oportunidade, acabei não comprando um sistema de alarme para residência justamente porque a pressão da religião passou a sobrepor-se ao interesse no negócio.

Sergio Rubert

 

Não acredito que o fato de ser evangélico, ou de qualquer outra religião, possa impactar nos resultados das vendas. Todas as religiões são dotadas de dogmas e crenças que, se bem administrados por seus fiéis, não influenciam negativamente em suas carreiras e, por extensão, na de vendas também. O ponto crucial é separar o joio do trigo, pois, na seara corporativa, há muita diversidade e gente de todos os credos, em que a busca equilibrada pelos melhores resultados é o que deverá prevalecer. Imagine um cenário específico de vendas, em que o vendedor é evangélico, o gerente de vendas é católico, o comprador é budista (franco crescimento de seguidores), o usuário, espírita e o principal decisor, ateu. Note que não coloquei a metade delas. A pergunta é: qual será o resultado da compra e da venda? Não depende da religião, pois, nesse cenário, o mais importante são os ganhos esperados para ambos os lados, o retorno sobre o investimento e por aí vai. A diversidade é necessária, a hegemonia pede passagem no mundo dos negócios e quem souber gerenciá-las sem preconceitos terá os melhores resultados.

Edi Carlos Xavier de Souza

 

Palavra de especialista

 

Em minha experiência com os evangélicos, vejo que eles tendem não só a vender um produto ou serviço como também a querer passar uma ideologia. Eles se aprofundam muito na religião e a utilizam no dia a dia, em tudo o que fazem. Desse modo, por um lado, há o perigo, essa tentação que eles têm de misturar religião e acabar não vendendo e, por outro, é muito interessante a dedicação deles. Há um código de ética e de comportamento que facilita a convivência dentro da empresa, porque são pessoas respeitosas, honestas, enfim, indivíduos que se pautam pelo Evangelho.

 

O evangélico amadurecido é uma grande vantagem para as organizações, porque ele não quer convencer os outros de seus pontos de vista. Já o imaturo, ou inseguro, irá procurar misturar as coisas e, em vez de passar sua ideologia através de seu exemplo, ele tentará empurrar uma ideologia junto ao produto que está vendendo.

 

No mundo, temos uma diversidade de opiniões e religiões. Portanto, aquele produto que precisar ser vendido para um público-alvo mais diverso, deve também ter uma equipe de vendas com diversidade religiosa, pois assim há mais possibilidades de atingir uma área maior. É preciso ter um cuidado especial com isso na hora de contratar para que haja uma mistura saudável de pontos de vista.

 

Em minha vasta experiência com vendas, vejo que o consumidor compra para reportar um ponto de vista. Ele não está apenas adquirindo um produto e/ou serviço, mas sim uma experiência. Se ele encontrar uma pessoa que contradiz seus pontos de vista, provocará um desconforto, e é justamente isso que o vendedor não quer causar ao cliente. Você deve ser mais um ponto de escuta que de transformação do outro.

 

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