CadĂȘ a minha marca que estava aqui?

O tempo comeu, a ineficiĂȘncia matou, o cliente esqueceu, saiu da mĂ­dia, o dono vendeu, o estrangeiro comprou… a festa acabou. A minha marca querida, jĂĄ nĂŁo Ă© mais querida. SĂł lembranças, motivo de recordaçÔes em festas e bate-papo entre amigos. O tempo comeu, a ineficiĂȘncia matou, o cliente esqueceu, saiu da mĂ­dia, o dono vendeu, o estrangeiro comprou… a festa acabou.

A minha marca querida, jĂĄ nĂŁo Ă© mais querida. SĂł lembranças, motivo de recordaçÔes em festas e bate papo entre amigos. E jĂĄ nĂŁo me respeitam mais como consumidor, pois novas marcas chegam atropelando meus sentimentos, impondo regras e serviços que nĂŁo suporto e para os quais nĂŁo estou acostumado. Fazem confusĂŁo, agridem a cultura do meu paĂ­s, prometem o que nĂŁo podem entregar e depois do estrago feito, pedem desculpas e, para alegria das agĂȘncias e dos veĂ­culos, derramam milhĂ”es de dĂłlares em comunicação, tentando consertar o terreno mal pisado.

Levei anos para me encantar com as minhas marcas preferidas, sedimentando um gostar cauteloso dos seus produtos, serviços, anĂșncios e atĂ© do seu jeito de ser e de se apresentar perante Ă  comunidade. E agora, nestes tempos de globalização acelerada, uma canetada de governo ou uma transferĂȘncia de fundos e eu nĂŁo tenho mais as minhas marcas, sĂł a obrigação de aprender sobre as novas que chegam e, Ă s vezes, por meios nĂŁo muito bem esclarecidos.

Trazem seus nomes esquisitos, mal acentuados e difĂ­ceis de se pronunciar. Para os mais jovens, Ă© fĂĄcil de aceitar os fatos. Para os mais velhos, uma certa confusĂŁo, pois jĂĄ nĂŁo sei quem Ă© quem e o que fazem. A telefonia celular da regiĂŁo divulga seus serviços em nome de trĂȘs empresas, e tenho que fazer ginĂĄstica para entender o que se passa na mĂ­dia. O anunciante de ontem nĂŁo Ă© o mesmo de hoje e nem vai ser o mesmo de amanhĂŁ.

E como nĂŁo se mata um amor impunemente, tento revidar. Mas as minhas forças sĂŁo parcas e tenho que engolir em seco, pois nem me dĂŁo a possibilidade de desforra, tudo estĂĄ ficando tĂŁo cartelizado. ImpĂ”em-se os preços, os prazos e as condiçÔes. É pegar ou largar. Pequenos fornecedores e clientes que se lixem. A Companhia das Índias Ocidentais, que dominava as colĂŽnias a ferro e fogo, parece colĂ©gio de freiras de interior perto das congĂȘneres de hoje. Acabam com as minhas marcas e ainda pensam que me enganam, deixam as marcas antigas por alguns tempos atrelada aos novos nomes-patrĂ”es, e depois, quando pensam que nos acostumamos com a mudança, inventam uma desculpa esfarrapada e dĂŁo o tiro de misericĂłrdia, em alguns meses elas somem.

Globalização Ă© isto, marcas mundiais, comunicação pasteurizada, nivela-se pela mĂ©dia, o gosto da massa, impĂ”em-se costumes pela força da verba de comunicação e dos releases. JĂĄ nĂŁo sei que banco usar, que telefone comprar, que carro escolher ou em que porta de supermercado entrar. A mĂ­dia estĂĄ saturada de ofertas mal explicadas, assinaturas que nĂŁo tĂȘm dono, serviços que cheiram falsas intençÔes. ” Bom dias” forçados e exaustivamente treinados, por jovens recĂ©m-saĂ­dos das escolas e que acham que estĂŁo fazendo marketing de relacionamento.

Marqueteiros que nĂŁo sabem que a arte do marketing Ă© a arte de encantar pessoas, lidar com humanos e nĂŁo apenas nomes e nĂșmeros em registros de computadores. Mas foi assim que foram treinados. Primeiro a tabuada, depois a psicologia. Mas como vĂŁo entender a psicologia do consumidor se nĂŁo sabem entender os seus vizinhos de porta, e as suas escolas foram a dos bares da moda e nĂŁo a da feira livre?

Ficam as perguntas: quem é dono de quem? Eu tinha as minhas marcas preferidas e elas me tinham como parceiro-cliente. Com a morte repentina de quase todas elas, reconheço que algumas eram até juråssicas e que tinham que morrer mesmo, pois o seu tempo jå havia passado, acabei ficando órfão de algumas delas.

Serå que as marcas do futuro serão as impostas pelo martelar da mídia milionåria ou ainda haverå espaço para a lenta e gradual construção do encantamento cliente-consumidor, alinhavando uma parceria entre nós mortais e os produtos ou serviços vendidos pelos novos deuses do Olimpo e seus poderes de mídia?

Saint Exupery, cada vez mais clĂĄssico, continua merecendo minha admiração – “O essencial Ă© invisĂ­vel para os olhos” – “VocĂȘ Ă© responsĂĄvel por aquilo que cativas” e “A rosa Ă© importante para mim, porque eu me preocupo 24 horas por dia com ela”. Eis aĂ­ a receita de todo o trabalho de marca, brand-name, ou marketing de relacionamento.

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