Cases de empresas familiares II

Conheça mais três cases de empresas familiares e veja o que você pode aplicar em seu negócio. À medida que prosseguem as pesquisas que venho fazendo sobre gestão de negócios familiares, vou captando informações que mostram que, independente do país, os problemas nesse tipo de negócio são muito parecidos. Onde existem pais, o processo de sucessão pressupõe os filhos em primeira instância, principalmente em países como Portugal, Espanha, na Europa e os de língua espanhola, aqui na América do Sul. Alguns países têm uma grande preocupação com esse tema, como Portugal, onde o assunto é tratado com intensidade em faculdades e associações de jovens empresários. Já a América do Sul, Uruguai, Chile e Argentina estão na frente, na intensidade com que tratam o tema gestão familiar, seja pelas universidades ou associações de classe, como de jovens empresários.

No Brasil, alguns estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina parecem estar na frente em volume de eventos realizados, nas universidades e nas associações comerciais industriais, de classe, de jovens empresários. Depois, São Paulo e Rio de Janeiro também estão tratando o assunto com muita seriedade, com introdução até mesmo da disciplina de gestão familiar, em grades curriculares. E outros estados também começam a buscar informações sobre o tema, como Pernambuco e Bahia, onde já existem profissionais do ramo em Recife e Salvador, com atuação ainda local, mas trazendo o tema para universidades e associações.

Relato aqui alguns cases, com os quais tomei contato pessoalmente nas minhas atividades profissionais e que acredito que trarão interessantes lições de casa para refletirmos.

Primeiro case ? Um casal com dois filhos homens que desejavam criar seu próprio negócio particular, não querendo atuar no negócio dos pais. O casal possuía uma rede de lojas 1,99 com mais de 40 estabelecimentos de porte, estão na faixa dos 50 anos e os dois filhos têm em torno dos 25 anos. Em uma primeira fase, ainda adolescentes, foram introduzidos na empresa, sem uma responsabilidade definida, para um primeiro contato com o negócio e orientados por um gerente. Por razões indefinidas, sua vocação migrou ainda na adolescência para o desejo de atuar em rodeios, principalmente com tropas e comitivas. Como é uma região em que existem rodeios famosos, como a Festa do Peão de Barretos, a Exposição de Fernandópolis e o Country Bull de Rio Preto, eram assíduos freqüentadores e, provavelmente, sofreram influências do sucesso de grandes tropeiros, como Paulo Emílio, Touro Bandido e de outros. O fato é que não queriam mais tocar os negócios dos pais como opção profissional. No começo, houve uma forte reação do pai, que chegou a impor a presença deles no escritório da empresa, dando-lhes algumas atividades administrativas. Mas não funcionou, os filhos agiam com displicência, sem dedicação e alguns trabalhos não eram realizados. A mãe, pressionada pelo pai de um lado e pelos filhos de outro, optou por apoiá-los e conseguiu convencer o marido a aceitar a opção dos filhos, inclusive investindo no negócio. Felizmente um final feliz. Já estão com uma boa tropa e alugando seus equipamentos e animais para diversos rodeios, já com algum lucro.

Lição de casa ? Se houver compatibilidade entre vocação e atividade exercida, a possibilidade de sucesso será maior do que em outras circunstâncias.

Os pais devem entender que seus negócios foram originados dos seus sonhos e que os filhos podem ter seus próprios sonhos, metas e objetivos diferentes, sem atração alguma pelos negócios da família.

Outra faceta é enxergar os conflitos de interesse pelo lado positivo, entender que sua empresa pode ter como missão fazer a terraplanagem da estrada que vai levar seus filhos ao futuro.

Segundo case ? A família, um casal, com duas filhas e um filho adolescente, uma das filhas formada em Direito e querendo advogar, a outra, ainda estudante atuando na empresa e o menor, desejando atuar em outro segmento. A família tem um grande supermercado, que é gerenciado pela esposa, enquanto o marido atua no setor de transporte e depósito. A filha mais velha formou-se em Direito e tem como sonho ser promotora ou juíza. Já vem estagiando em escritórios de advocacia na cidade, em busca do seu espaço e, aos sábados, vai para o supermercado ajudar a mãe e avó, devido ao movimento. Já tem seus objetivos e metas definidos e discutiu isso várias vezes com os pais, que parecem ter aceitado, mas têm uma pontinha de esperança lá no fundo de que ela mude de idéia. Ao conversarmos com a menina, ela comentou que sabe onde quer chegar e vai ser juíza. A outra filha, também estudante de Direito, atua no escritório do supermercado e comentou que primeiro quer se formar para depois decidir. Ainda tem dúvidas sobre as opções profissionais para seu futuro. O menino, de apenas 14 anos, alto e forte, vem brigando com os pais porque não deseja trabalhar no supermercado, mas sim em sítios e fazendas. Como a família tem um sítio, nos finais de semana, quando não tem aulas, ele quer ir para lá lidar com os animais, enquanto os pais querem que ele ajude no supermercado. Essa ajuda acaba sendo na expedição, colocando entregas nos caminhões ou no depósito e auxiliando o pai nas descargas de mercadorias. Fisicamente, o menino é muito forte e tem porte para ser peão de rodeios, que é o seu sonho, conforme comentou conosco, quando conversamos com ele a pedido da mãe. Conversamos com os pais, que ficaram de conversar mais e pensar em uma decisão.

Lição de casa ? Vocação sempre é mais forte que a imposição de qualquer atividade, simplesmente por ser da família. Vocação traz prazer na realização das coisas, faz com que as coisas sejam feitas com mais vontade e isso traz melhores resultados.

As famílias precisam criar a estrutura funcional (antigos organogramas), com visão profissional, colocando profissionais adequadamente preparados nas funções, mesmo que tenham filhos formados que possam assumir, mas não desejem fazer isso.

As empresas funcionam melhor quando não desmontam as famílias, e as famílias também, quando não desmontam as empresas. Nada impede que se invista em atividades diferentes do negócio da família, gerando novos negócios para herdeiros que tenham certeza do que desejam.

Terceiro case ? O pai é viúvo, fez carreira em multinacionais, criou uma empresa pequena em volume, mas de alto faturamento e tem duas filhas, ambas químicas, e um filho, formado em Ciências Contábeis. Uma das filhas atua na empresa como química. A outra vai concluir o mestrado na USP e pretende atuar como professora. O filho trabalha na administração da empresa. O pai, após fazer carreira em multinacionais de São Paulo, atuando muitos anos no segmento automotivo e de auto-peças, se transferiu para o interior do estado, com as crianças ainda pequenas. Após algum tempo pesquisando, optou por montar uma empresa que processa borracha in natura, para empresas de látex fabricantes de preservativos. A filha mais velha, formada em Química, atua com ele, controlando os processos, que tem uma grande rigidez de especificações e qualidade pelos compradores. Faz também a regulagem das máquinas, eletrônicas, evitando fuga às especificações e manutenção do padrão do produto fornecido. Basicamente, é a ?alma da empresa?. O filho, já com mais de 29 anos, passou por um período de displicência muito grande, desligado do negócio e teve ajuda de um profissional coach (orientador profissional), que procurou ajudá-lo a encontrar seu rumo. Conversei com o pai, ele comentou que a esposa havia falecido há cerca de quatro anos e provavelmente a postura do filho tinha algo a ver com o fato. Quanto à filha mais nova, que faz mestrado em Química na USP, deseja voltar para o interior, por pressão do namorado e atuar na área acadêmica. O pai espera que ela venha trabalhar na empresa.

Lição de casa ? Se a empresa não for grande o suficiente, pode não ter espaço para todos os filhos. É preciso pensar bem antes de forçar filhos a tomar decisões que poderão gerar conflitos.

Mesmo pequena, a empresa poderá definir sua estrutura de forma profissionalizada, estabelecendo os níveis e as funções necessárias ao seu bom funcionamento. Não é preciso fazer nenhum ?ajeitograma? para encaixar membros da família, mesmo que os resultados da empresa sejam muito saudáveis atualmente.

Nada impede que as duas irmãs atuem parcialmente juntas, uma estará ligada também à área acadêmica e poderá trazer know-how, novos conhecimentos para sua empresa, funcionando como uma cientista, uma técnica, que traz as novidades que poderão gerar maior produtividade e menor custo operacional.

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