Como ser enganado pelos nĂºmeros

Em 2005, a norte-americana Emerald Nuts, que comercializa amendoins salgados, castanhas, nozes e outros salgadinhos e lanches rĂ¡pidos baseados em amĂªndoas, decidiu anunciar na final do Campeonato de Futebol Americano. Jogado tradicionalmente no primeiro domingo de fevereiro, todos os anos, Ă© o evento de maior audiĂªncia da TV norte-americana e, ao mesmo tempo, o espaço publicitĂ¡rio mais caro. É tĂ£o esperado que empresas criam anĂºncios especialmente para o jogo.

Enfim, gasta-se muito dinheiro. Tanto que a Emerald gastou 20% de sua verba para anĂºncios do ano naqueles poucos segundos. E o comercial foi ao ar, simpĂ¡tico e todo famĂ­lia. Mostrava um pai que relutava em dividir uma latinha de Emerald Nuts com a filha. Exibia bem a marca e dava um motivo para a compra: tĂ£o gostosos que vocĂª nĂ£o dividiria nem com quem vocĂª ama.

Nos dez meses seguintes, as vendas dos Emerald Nuts explodiram. No mĂ­nimo dobraram, com resultados ainda mais impressionantes em determinadas regiões. Os homens de marketing da empresa abriram champanhes, comemorando a decisĂ£o acertada de investir no espaço comercial daquele jogo.

Esquecendo certos detalhes ? O que o pessoal da empresa esqueceu foi o fato de a Emerald sĂ³ ter iniciado sua distribuiĂ§Ă£o nacional na segunda metade de 2004. Compararam uma marca que estava disponĂ­vel em apenas uma regiĂ£o com uma espalhada em todo o paĂ­s. Alguma dĂºvida de que o volume de vendas tende a ser muito maior?

AlĂ©m disso, foi feito um grande esforço de relacionamento com supermercados e outros clientes antes do jogo, com distribuiĂ§Ă£o de material de merchandising referente Ă  campanha do pai e da filha. E qualquer aĂ§Ă£o bem-feita em supermercados tem um impacto positivo em vendas ? nĂ£o raro, maior do que anĂºncios em televisĂ£o (veja matĂ©ria sobre merchandising, na VendaMais de setembro de 2005). Mas as latinhas de castanha da Emerald abriam mais facilmente do que as da concorrĂªncia, um benefĂ­cio Ăºnico, vindo do desenho de embalagens ? e nĂ£o de anĂºncios.

Finalmente, a Emerald estava no lugar certo na hora certa: o pĂºblico começou a considerar as amĂªndoas, castanhas e nozes alternativas mais saudĂ¡veis do que os salgadinhos tradicionais, e todo o segmento teve um aumento de demanda. Motivos nĂ£o faltavam para o aumento das vendas. Mas para o pessoal do marketing da Emerald, a razĂ£o era o comercial na hora do jogo e apenas ele. E, se deu certo um ano, daria certo no ano seguinte, tambĂ©m.

Muito barulho ? E lĂ¡ foi a Emerald. Desta vez, gastar perto de 30% de sua verba para publicidade, em 2006, na final do futebol americano. Compraram grandes espaços ? em importantes jornais ?, para informar que anunciariam no jogo. E deram carta branca Ă  agĂªncia de publicidade. Quanto mais ousado o comercial, melhor. Afinal, era preciso chamar a atenĂ§Ă£o da audiĂªncia, ser diferente.

E o que a audiĂªncia viu foi um ambiente mal iluminado, onde trĂªs pessoas em roupas estranhas faziam um ritual meio samurai, meio nĂ£o sei o quĂª. Um quarto homem, com roupas ligeiramente diferentes, provavelmente o lĂ­der, tentava falar ao celular. Corta. Na tela, as letras da expressĂ£o ?Emerald Nuts? mudam de lugar, formando uma frase estranha. Corta. Os quatro envolvidos no ritual agora estavam sentados em um sofĂ¡, comendo os produtos da Emerald. Corta para o slogan: ?AtĂ© os druidas gostam de Emerald Nuts?.

NĂ£o Ă© necessĂ¡rio dizer que a Ăºnica reaĂ§Ă£o dos consumidores a um comercial sem pĂ© nem cabeça desses, que nĂ£o dĂ¡ nenhum motivo para a compra, Ă© um bem-merecido: ?E eu com isso??.

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