Comunicação: fator de desenvolvimento

Sem clientes em um mês, atendendo uma farmácia que queria pagar com medicamentos meses depois, atendendo a fábrica Grendene dali a poucas semanas. Acompanhe a trajetória e o grande truque de uma empresa para crescer exponencialmente começando do nada. No dia 04 de abril de 1980 iniciei uma empresa de propaganda com o seguinte ativo: eu, uma mesa, seis lápis, um pacote de papel, uma cadeira e um telefone. Clientes: nenhum; faturamento no primeiro mês: zero. Perspectivas de faturamento para os próximos meses: zero; funcionários: um. Metade das pessoas com quem conversei sobre os meus planos disse que a empresa iria fechar em seis meses. Essa empresa chamava-se Talent e alguns anos depois já estava entre as vinte maiores do setor no Brasil, com um faturamento anual de 30 milhões de dólares. Por que a Talent com pouco capital, sem clientes e aparentemente sem futuro, deu certo, enquanto outras empresas com muito mais condições fecharam? Eu acho que a razão principal reside no fato de que, embora a Talent fosse uma empresa pequena, eu nunca pensei como um empresário pequeno.

Na primeira semana, chamei a imprensa para uma entrevista coletiva. Lógico que não foi ninguém. Mas um jornalista da Gazeta Mercantil ficou curioso e telefonou. Ganhei duas colunas de notícia. Tirei cópia da matéria e mandei para centenas de empresas. Por sorte, dois antigos amigos ocupavam posições importantes em empresas que receberam o recorte. A roda começou a girar. Consegui dois clientes. Descobri que o conhecimento pessoal era uma das únicas formas de obter aval para uma empresa que estava começando mas tinha o atrevimento de procurar clientes grandes. Raciocinei: “se ninguém souber que eu quero uma recomendação, jamais poderão me dar”.

Visitei pessoalmente ou telefonei para todos os conhecidos, parentes, vizinhos, ex-patrões, ex-empregados, enfim, todos que pude lembrar, e contei o que desejava. Deu resultado: recebi telefonemas de todo tipo. Uma farmácia querendo pagar os meus serviços com medicamentos, uma doceira queria comprar dois cartazes de rua e uma firma de caldeiras queria fazer um folheto. No meio deles, um dia me telefona um amigo perguntando se eu queria uma conta de sapatos de plásticos. Era a Grandene. O produto era a sandália Melissa. Começamos a crescer exponencialmente.

À medida que o dinheiro começou a entrar, contratei a melhor assessoria de imprensa que pude encontrar na época, a Madia Associados. Madia me apresentou a jornalistas, consegui matérias sobre o novo estilo de agência representado pela Talent (entre outros complicadores, decidimos não aceitar contas de publicidade de cigarros, bebida alcoólicas e governo).

Continuamos com a rotina. Toda matéria publicada era transformada em mala direta e enviada a clientes em potenciais. A massa de comunicação gerada nos surpreendeu. Em função dela, vieram grandes empresas como Alpagartas e Bamerindus. Custo? Apenas o da assessoria de imprensa. O restante do dinheiro foi empregado em montar uma grande equipe profissional que recebia parte em salário e parte como participação nos lucros. O sucesso continuou. Maior ainda a alegria de fazer coisas que a gente gosta. Moral da história: não é porque uma empresa é pequena que seus diretores precisam pensar pequeno. Principalmente em termos de comunicação.

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