Dar ao público aquilo que ele quer é manipulação

Marketing não é apenas a percepção do outro no negócio. É também a revelação da visão de mundo do fornecedor, do empresário e do executivo sobre o seu próprio negócio. Vivemos a era da gestão dos negócios, das instituições, da política e até das religiões, a partir do conhecimento de marketing. E como traduziríamos essa filosofia estratégica? Simples: Marketing é a percepção do outro no negócio.

Se levarmos isso ao pé da letra, diríamos: muito simples, basta sabermos pesquisar o mercado, saber o que o cliente quer e traduzir isso em produtos, serviços e soluções. Facilitando as coisas, qualquer um pode dirigir um negócio moderno, bastando para isso ter uma verba para pesquisa de mercado e contratar um instituto de pesquisa de alto nível.

Fácil pensar assim. Difícil é ser bem-sucedido assim! As verdadeiras alavancagens nos negócios foram todas obtidas com autênticas inovações, com legítimos avanços, com convicções ideológicas, com saltos científicos. E, todas, sem exceção combatidas e até odiadas no seu começo. Em 1500, a igreja tentou proibir o consumo de café, pois dizia que estimulava novos valores religiosos e competia com o vinho. Em Meca, em 1511, as casas de café foram colocadas fora da lei porque doutores e juristas afirmavam que isso fazia mal para a saúde. Os primeiros automóveis que circulavam pelas aldeias do norte de Portugal em torno da primeira Guerra Mundial eram apedrejados como máquinas do demônio. No lançamento do primeiro navio de ferro na Inglaterra, a população toda da cidade foi para o cais, simplesmente para ver o navio afundar. Eles jamais podiam acreditar que um navio de ferro flutuasse! (E que espanto ao ver a embarcação flutuando!)

Até hoje ainda existem pessoas no planeta Terra que não acreditam que o homem foi à Lua. Jornais nasceram combatidos por interesses das suas épocas. Eram perseguidos e fechados por proclamarem a República contra a Monarquia ou a liberdade frente à escravidão, por exemplo, contradiziam as leis de mercado − era ideologia de transformação. Criavam mercados antes de estar a seu serviço.

Viajando no tempo, para os últimos dez anos. Quem perguntou se alguém queria internet? Quem pesquisou para saber se o e-mail seria utilizado ou não? E mais, quem está querendo ouvir se a Engenharia Genética é desejada, no melhoramento e desenvolvimento da carne suína mundial? Pois é! Porém, quando lutamos por índices de audiência no IBOPE, em uma tarde de domingo, e ficamos ””””auscultando”””” aquilo que o cidadão televisivo quer ver ou aquilo que faria com que mais aparelhos parassem mais tempo em uma determinada cena ou assunto, podemos ter resultados nefastos como o do Gugu na sua trapalhice da entrevista com falsos líderes do crime organizado!

Dar às pessoas aquilo que elas querem ver, ouvir ou pensar, sem o refino do conhecimento humanístico, científico, sem a consciência da visão de mundo do fornecedor é grotesca manipulação. Isso significa ? devolver às pessoas exclusivamente aquilo que elas já pensam, já querem, sem alterar em nada o seu estágio ascensional e evolutivo. O preço por isso? Cair fora do mercado.

Saber copiar decisões competentes. Saber imitar o bem-sucedido. Isso é muito diferente do que tirar conclusões empresariais a partir de informações que trazem consigo fortes doses de ignorância sobre as tendências futuras de qualquer ramo de atividade. O leitor pode observar os veículos de comunicação, em sua maioria, eles adaptam situações, criam capas, inventam programações bombásticas, diminuem a qualidade do texto, das imagens ? e muitos fazem isso bem intencionados.

Procuram dar ao leitor/espectador aquilo que ele quer ler/ouvir. Mas de qual leitor? De qual espectador? De qual ouvinte estamos falando? Daquele que interpreta o mundo evolutivo do avanço humano ou da massa, também carente e necessitada de saltos qualitativos nas suas visões do mundo, porém ainda não esclarecida. E, quando esse jogo de manipulação toma conta do marketing os resultados são frustrantes.

Um fantástico exemplo dessas conseqüências, qualquer brasileiro pode relembrar no início da década de 90. Criamos e elegemos um presidente da República assim. Um produto que era fruto da pesquisa de mercado, que dizia ao consumidor eleitor aquilo que a maioria queria ouvir, mas que não conseguiu entregar uma só linha do prometido. Problemas de marketing? Não, problemas graves de quem coloca o conhecimento de marketing a serviço da manipulação grotesca da cidadania e do cliente.

Marketing não é apenas a percepção do outro no negócio. É também a revelação da visão de mundo do fornecedor, do político, do jornalista, do empresário, do executivo ? sobre o seu próprio negócio.

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