Dicas para profissionalizar o agronegócio familiar

A época de mão-de-obra familiar abundante já se foi e as novas tecnologias exigem preparação e profissionalismo, não só dos proprietários, mas também de toda mão-de-obra envolvida. As mudanças chegaram ao campo com muita força. Para os antigos sitiantes ou fazendeiros, deixar a terra parada e improdutiva ainda trazia ganhos pela valorização da mesma. E eles herdavam e mantinham uma maneira pura de lidar com a terra e com os produtos agropecuários, usando a pecuária extensiva, sendo a reprodução gerada pelos cios e liberdade dos touros. Na agricultura, alguns plantavam imitando os vizinhos que tinham se dado bem na safra anterior e, às vezes, quebravam juntos, devido à falta de chuvas ou excesso de oferta dos produtos agrícolas. Outro fator é que as famílias eram numerosas e todos eram tidos como mão-de-obra disponível para lidar com a propriedade e com seus produtos.

Nos dias atuais, essas práticas podem ser consideradas perigosas, com risco de levar as propriedades familiares ao insucesso e inviabilizá-las. A tecnologia chegou, e quem ficar à parte, desacreditando as novas técnicas e processos produtivos, dificilmente irá sobreviver com suas propriedades, mesmo porque a época da mão-de-obra familiar abundante também já se foi e as novas tecnologias exigem preparação e profissionalismo, não só dos proprietários, mas também de toda mão-de-obra envolvida.

Novidades da tecnologia no campo e sua adoção

Em pequenas propriedades familiares, com proprietários ainda trabalhando com tecnologias antigas, ainda se encontra alguma resistência na implantação de novas tecnologias. Embora também se encantem com elas, alguns acreditam que não têm porte ou condições para implantar na sua terra. Na maior parte delas, os filhos se formaram e foram embora para cidades maiores tocar a sua vida e os pais, envelhecidos, lutam para manter a terra, com enormes sacrifícios pessoais e físicos. Às vezes, em idade avançada, estão lá, de sol a sol com a enxada na mão, tentando sobreviver. O retrato é a deterioração da propriedade, visível aos visitantes pelas cercas mal conservadas, pelo plantel reduzido e até mesmo pela reforma adiada da moradia.

Na pecuária, iniciando pela recuperação de pastagens degradadas, pelo uso de piquetes e rotação de pastagens, os processos evoluíram para manejos reprodutivos, com controle sanitário das matrizes e dos touros, evitando que doenças sejam transmitidas em cadeia para o plantel, ou reduzindo os parasitas, que tantos danos trazem.

A eficiência da inseminação artificial supera as estações de monta natural e vem sendo adotada em escala crescente nas propriedades, embora o Brasil ainda tenha uma porcentagem extremamente baixa (em torno dos 10% do rebanho de corte e 15% do rebanho de leite, enquanto, na Europa, gira em torno dos 85% do gado de leite), em relação a outros países criadores.

A rastreabilidade, uma exigência dos importadores que se estendeu aos frigoríficos nacionais de maior porte, está sendo adotada com seriedade e os selos evoluem do plástico numerado para o eletrônico, permitindo um controle mais apurado e sofisticado, com os equipamentos adequados.

Os processos de nutrição e saúde animal estão evoluindo rapidamente, com parcerias entre fabricantes e pecuaristas, testando no campo novos produtos que vêm trazendo maior ganho de peso em menor espaço de tempo, sem violar a ética na fabricação.

Graças às exigências dos frigoríficos em ter carcaças mais saudáveis, o trato com os animais está mudando, pela reeducação dos peões na lida com o gado, pela revisão dos currais e sua remodelação em modelos menos traumáticos para os animais, pela eliminação das cercas de arames farpados e sua substituição pelo arame liso e cercas elétricas. O ganho está na outra ponta, com os frigoríficos classificando as carcaças em níveis superiores, pela sua padronização e menor perda por contusões.

O que o proprietário rural familiar ganha com isso? Provavelmente, o maior ganho é a manutenção da sua propriedade, tornando-a lucrativa, auto-sustentável, em alguns casos até trazendo de volta pessoas da família que tinham migrado para outras cidades em busca de melhores condições de vida. Essa situação já está ocorrendo no interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde propriedades pequenas estão se tornando produtivas, com adoção de novas tecnologias, não só na pecuária, mas também na produção agrícola.

Em algumas regiões do Sul, estimulados por programas dos governos em trazer de volta ao campo os filhos ou mantê-los na terra, foram criadas associações de produtores agrícolas, que, através de uma marca própria e gerenciamento, estão colocando os produtos já embalados ou processados diretamente no mercado consumidor.

São processos de profissionalização que, além de manter as pessoas no campo, ainda tornam suas propriedades lucrativas e viáveis, permitindo que as famílias tenham qualidade de vida e mantenham seus patrimônios.

Pontos positivos e negativos de um agronegócio

Os negócios de família sempre tiveram no nome um aval que abria portas perante instituições financeiras ou no meio rural. A tradição, normalmente, era mantida pelos herdeiros, que tinham orgulho disso. Um fato é que os processos de decisão costumam ter uma velocidade maior, porque as gerações estão perto umas das outras, não só nas idéias, mas também na labuta diária. Essa convivência produz um respeito mútuo, sendo comum ouvir pais falando com orgulho dos feitos dos filhos e vice-versa. Essa é uma grandeza das famílias, que lidam juntas com a terra e buscam seu futuro na mesma, seja na pecuária, na agricultura ou nos agronegócios. Unidos e antenados no canal do futuro.

Um ponto negativo é que, às vezes, mergulhada em ritmo incessante na lida com os negócios, deixam de fazer uma reciclagem conceitual, não visitando feiras, exposições nem buscando novos conhecimentos. E somente alguns correm atrás de novas tecnologias, quando já estão endividados, com as propriedades em risco.

Quando começar a profissionalização

Quando se fala em leite, é fato que os rebanhos estão diminuindo, mas a produção por vaca está aumento muito, devido aos novos processos no trato dos rebanhos e até mesmo na ordenha. Quem ficou no sistema antigo, no qual o pasto era a única fonte de proteína, só teve a perder, ainda mais que acima de 30% das pequenas propriedades têm no leite uma das principais fonte de renda e sobrevivência da família.

Quando se fala em pecuária, é fato que, sem um processo de profissionalização sério e envolvendo os proprietários e suas famílias, os investimentos não serão recuperados, gerando riscos de inviabilizar as propriedades.

Existem casos em que houve mudanças radicais, da criação extensiva para o confinamento em larga escala, de um tipo de bovino para raças mais produtivas ou até exóticas, como o búfalo. De certa forma, os cruzamentos industriais cresceram muito no País, tendo gerado novas opções mais produtivas aos criadores. Ter a percepção apurada para mudar é um dos caminhos para o sucesso da propriedade familiar. São processos irreversíveis, que vêm para ficar e tornar a cadeia pecuária mais produtiva. Quem ficar na contramão da evolução terá prejuízos e alguns não suportarão manter suas propriedades.

Hoje, uma propriedade ? seja agrícola, pecuária ou agronegócio ? deverá ser informatizada, com o escritório no mesmo ritmo tecnológico das demais instalações, porque se tornou muito difícil controlar na mão um plantel elevado e o conjunto de informações geradas.

Quem se sairá melhor são os que entendem o termo profissionalização como o uso de ferramentas disponíveis, seja na administração ou na criação, com apoio de técnicos, entidades como o Embrapa e outras, visando ter melhores resultados na sua propriedade.

Na agricultura, a profissionalização também começa pela recuperação das terras, às vezes pelo plantio consorciado, gerando maior rentabilidade na mesma área, adotando novas técnicas e até mesmo novos produtos, como os orgânicos, cujo mercado cresce cerca de 50% ao ano, no País.

10 dicas para o sucesso da empresa familiar

1. Entender que os problemas podem estar escondidos sob a cortina do sucesso financeiro e social e procurar definir claramente sua origem e dimensão.
2. Compreender que, em um universo em que existem mais de duas pessoas, as decisões têm de ser compartilhadas e exercitar esse processo desde o início da empresa.
3. Criar processos de treinamento e capacitação interna e externa dos herdeiros e sucessores, com orientadores previamente definidos, de forma que venham para a empresa já com formação básica e conceitual definida e conhecimento do funcionamento da mesma.
4. Criar um conselho de família, para definir entrada e saída de familiares nas empresas, gestão dos recursos financeiros e materiais e política geral.
5. Proporcionar absorção de familiares nas empresas, desde que cumpridas as regras definidas e que venham para somar. Da mesma forma, preparar a saída daqueles que estejam destruindo a gestão familiar.
6. Possibilitar que os não-familiares tenham oportunidade de carreira, até o topo da organização, sem reservar espaços para a família, com todos concorrendo em igualdade de condições e profissionalmente, sem um limite hierárquico fixado e, com isso, motivar seus colaboradores.
7. Não empurrar com a barriga as decisões de sucessão e profissionalização por ego pessoal, medo de perder o poder ou o status social. O atraso nas decisões pode gerar a perda dos patrimônios empresarial e pessoal.
8. Criar mecanismos para garantir a continuidade da empresa através das gerações (holding patrimonial familiar, acordo de acionistas, conselho de família, conselho de administração, normas e procedimentos, unidades de negócios, código de ética para sócios e parentes, fundações, abertura de capital, outros viáveis juridicamente).
9. Em casos de cisão, ruptura, falta de acordo e brigas, procurar uma solução a curto prazo, evitando demandas judiciais e o prolongamento do sofrimento pessoal.
10. Solicitar ajuda de terceiros (amigos que tenham passado por situações similares) ou profissionais, caso não consigam soluções no ambiente familiar.

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