É preciso ter tempo para a empresa crescer

Se você quer ter uma empresa lucrativa e que funcione bem, dê um tempo ao seu empreendedor. Costumo ouvir de várias pessoas que sonham em ter seu próprio negócio que esse seria o único caminho para ter a vida de trabalho tão sonhada, com tempo para família, lazer e esporte. Semelhante àquela cena de filme: o empresário bem-sucedido à beira da praia, bebendo com os amigos e contabilizando seus lucros.

Com certeza essa é uma cena que está longe da maior parte dos empreendedores, e o mito do tempo livre é apenas mais uma lenda do mundo corporativo.

Trabalho com muitos empreendedores em treinamentos e palestras e, na verdade, o que acontece é a reclamação generalizada de falta de tempo, de jornadas de trabalho superiores a 12 horas diárias (incluindo finais de semana), de poucos resultados e de estresse. Nesse tornado de sentimentos, ainda temos a ansiedade gerada pelos tão esperados resultados, a cobrança da família pelo afastamento e a pressão dos funcionários, parceiros e sócios para os negócios acelerarem.

Uma causa comum desses problemas é um processo invisível e silencioso, que acontece no começo de muitos negócios. Chamo esse fenômeno de Síndrome da Fusão, em que a vida pessoal se une com a vida empresarial. Empresa e vida pessoal se transformam em uma única coisa e, nesse momento, começam a aparecer muitos problemas. Um sintoma clássico dessa síndrome é quando o pró-labore se mistura ao caixa da empresa. Outro sintoma é marcar reuniões com freqüência aos sábados, domingos ou após o expediente. Existem muitos sinais dessa síndrome. O caso se torna grave quando o empreendedor acha que essas ações estão certas.

Esse é o momento em que o empreendedor descobre que, na verdade, é o pior tipo de patrão: o patrão de si próprio. Um patrão exigente, que cobra resultados, não tem superiores para pedir folga e tem de trabalhar o máximo possível para a empresa crescer, mantendo todas as pessoas que agora dependem dele. O estresse toma conta, a ansiedade aumenta, os papéis se misturam, os problemas crescem e a empresa começa a quebrar. Muitas vezes, o próprio empreendedor não consegue enxergar esse cenário e só toma consciência da situação quando já é tarde demais. É fundamental que os papéis estejam separados e que apareçam duas funções essenciais para o negócio: o técnico e o empreendedor.

No Brasil, o empreendedorismo por necessidade é muito freqüente, a pessoa é demitida do seu trabalho e, pela falta de oportunidades no mercado, acaba utilizando seu conhecimento técnico acumulado para abrir um negócio, geralmente no segmento em que tem mais experiência. O empreendedor por oportunidade, aquele que abre sua empresa em função de uma excelente chance de negócio que surgiu, também absorve esses papéis, apesar de, nesse caso, o papel empreendedor ser, em geral, predominante.

O papel de técnico é o executor, que tem conhecimento acumulado para criar e desenvolver os produtos e serviços da empresa. Seu pensamento está no presente e a visão focada no seu ambiente de operação. O papel empreendedor é buscar oportunidades, planejar o negócio a longo prazo, investir no desenvolvimento de estratégias, ter visão e sonhos para a empresa.

O problema para a maioria dos empreendedores é que o papel de técnico acaba tomando controle da vida e da empresa. Esse é um grande perigo. O técnico, como todo executor, gosta de acumular o máximo possível de responsabilidades, pois tem como conceito que, devido ao seu conhecimento e experiência, é a pessoa ideal para fazer o trabalho bem-feito. Essa atitude acaba tomando um tempo precioso do empreendedor, que se vê absorvido pelo dia-a-dia operacional do negócio e não consegue ter tempo para que o papel de empreendedor apareça.

A parte mais difícil nessa história é fazer o empreendedor entender esse conceito. Tenho uma empresa de tecnologia há 11 anos e, por amor e formação, fui técnico por mais de uma década. Quando me dei conta de que precisava parar de trabalhar no negócio para começar a empreendê-lo de verdade, as coisas começaram a mudar, a empresa passou a crescer e comecei a ter mais tempo livre.

O papel do técnico é de grande importância para a empresa, mas ele pode e deve ser delegado. Se o empreendedor tiver de ser técnico na empresa, ele precisa de um sócio empreendedor ou voltar a ser funcionário. Caso contrário, será escravo do próprio negócio para sempre.

A solução existe no equilíbrio desses papéis e afastando a Síndrome da Fusão. Hoje, fico feliz quando olho no meu software de planejamento e vejo que meu gráfico de papéis da semana traz o papel de empreendedor bem maior que o papel de técnico. Durante a semana, tenho atividades técnicas, mas a maioria está voltada ao planejamento, estratégia e crescimento da empresa. O meu lado técnico aprendeu que outras pessoas poderiam fazer o trabalho.

Quando olhamos a empresa pelo papel empreendedor, ela é vista como uma forma de negócio que deve crescer para atingir os objetivos pessoais e não comprometê-los. A empresa não é sua vida e vice-versa. Nesse conceito, o empreendedor se foca para a empresa crescer cada vez mais, dependendo cada vez menos dele.

Um excelente começo para deixar o papel de empreendedor aflorar é dedicar algumas horas por semana para isso. Talvez para o lado técnico, ele diga que é impossível se afastar uma hora da empresa, mas quanto mais o empreendedor aparecer menos o técnico ficará dando desculpas, pois ele será domado com planejamento, estratégia e delegação.

Minha sugestão é que você tire meio período por semana para se dedicar ao planejamento do seu negócio. Se possível, se afaste do escritório para evitar ser interrompido. Você quer ter uma empresa lucrativa e que funcione bem, mas para isso é preciso dar tempo ao seu empreendedor.

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