Unindo o útil ao agradável: trabalhar com o que se gosta e ainda ser bem-sucedido
“Quando se tem vinte e poucos anos, uma pequena experiência de mercado e nenhum ‘adulto’ por perto, acabamos aprendendo as coisas na prática. Aceitamos coisas que pareciam legais ou que, aparentemente, pagariam bem até nos darmos conta que aquilo não tinha nada a ver com a gente, o retorno não compensava o esforço ou os clientes com quem estávamos lidando não combinavam com nossa filosofia de trabalho.”
O desabafo da jornalista Roberta Faria, hoje com 27 anos, pode soar como uma tentativa de explicar o que não deu certo com a Editora MOL, fundada em 2007 por ela e seu sócio Rodrigo Pipponzi. Pode, mas não é. O desabafo é, na verdade, uma lembrança das dificuldades encontradas pelos sócios no início do empreendimento, nascido numa roda de conversa entre amigos.
Amizade à primeira vista – Quando Roberta e Rodrigo se conheceram, apresentados por um amigo em comum, identificaram um no outro aquela vontade que alguns jovens têm de querer mudar o mundo através do trabalho. “Eu me encontrava com Rodrigo sempre que pensávamos em coisas para fazermos juntos: livros, revistas, projetos culturais, mil ideias para mudar o mundo. Terminávamos todas as conversas dizendo um ao outro: ‘Precisamos fazer isso em nosso tempo livre’”.
Mas a carreira de Roberta e o estúdio de design que seu sócio tocava com outros dois amigos não permitiam que as ideias mirabolantes fossem levadas adiante. “Até o dia em que as conversas ficaram cada vez mais frequentes. No começo de 2007, Rodrigo resolveu criar a editora. Ele me chamou para fazermos uma sociedade: eu comandava o conteúdo e ele, os negócios. A princípio, passaríamos um ano debaixo das asas do estúdio até conseguirmos andar com nossas próprias pernas. Não foi preciso esperar muito. Seis meses depois, já tínhamos crescido tanto que nos separamos do estúdio. A Editora MOL virou uma empresa independente”, afirma.
Trabalho – “Acreditávamos que poderíamos fazer projetos de comunicação – de manual de instruções de geladeira a revista para funcionários, de anúncio de carro a livro de design – melhor que a maioria das coisas que víamos por aí. Mais que isso, queríamos criar projetos editoriais com os quais nos identificássemos”, disse a jornalista, que explica de onde veem toda essa gana: “É a diferença entre fazer um trabalho por pura obrigação e fazê-lo porque gosta, quer e acredita. É isso que torna o dia-a-dia melhor, garante a qualidade de seu produto e dá garra para você crescer e se superar. É claro que não fazemos só o que gostamos. Mas se você faz uma coisa chata por um motivo claro, como financiar um outro projeto legal lá na frente, vale a pena. O trabalho precisa fazer sentido, e esse sentido tem de ser maior que pagar as contas”.
Entre os trabalhos que a MOL gosta de fazer encontram-se as revistas Nossa Raia, publicação interna da rede de farmácias Droga Raia; a Plan, revista homônima de uma Ong mundial que circula nas regiões sudeste e nordeste; a Pepsi Twist, que circula em todo o território nacional, e a Sorria, distribuída para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Essa publicação é tão especial que merece um capítulo à parte.
Sorria – O que você faria se, em um ano, sua empresa lucrasse um milhão e meio de reais? Muitos empreendedores aplicariam esse capital, outros investiriam na própria organização, almejando crescer cada vez mais. Os sócios da MOL pensaram diferente. Assim que o dinheiro referente às vendas da Sorria somaram R$1.500.000,00, eles doaram tudo para o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC). Isso, como todos sabem, é responsabilidade social, mas cuidado ao falar disso para a Roberta.
A MOL é um exemplo bem-sucedido de negócio inserido no setor 2.5 – segmento em que as organizações são privadas, mas buscam resultados sociais. “A Sorria é uma revista que nos dá retorno financeiro através do patrocínio das empresas, mas a receita das vendas é 100% revertida para o combate do câncer infantil”, explica a jornalista. “Só que isso não é algo que a gente faça com o troco da conta para ficar bem na foto. Esse é o nosso negócio”, finaliza.
O que a MOL pode ensinar para você
Qual é o diferencial dessa empresa, onde 14 profissionais trabalham em um ambiente colaborativo e a voz de todos tem o mesmo peso? “Para nós, mais importante que o salário ou status do cargo é fazer as coisas que gostamos, que acreditamos, da maneira como achamos melhor. Mesmo que, às vezes, isso signifique trabalhar mais e ganhar menos. A satisfação de criar um mundo próprio para exercer nossas profissões com nossos valores é maior que todos os poréns. Queríamos que, a cada manhã, em vez de pensar: ‘Ah! Que droga, tenho de ir trabalhar’, a gente pensasse: ‘O dia de hoje vai ser ótimo, não vejo a hora de chegar na MOL’. Acho que conseguimos”, assegura.
Colaborou nesta matéria: Mateus Redivo