Emocionalmente surdo

Pelo fato de crescer emocionalmente surdo, o profissional ou o gestor está nadando contra a corrente evolutiva e extremamente forte da razão. Não é raro encontramos, em nosso ambiente de trabalho, profissionais que apresentam a característica do ?emocionalmente surdo?, gerando assim conflitos intimamente ligados à comunicação. Sua característica principal é a de ignorar a opinião das pessoas, aliás só ele quer falar e, portanto, não há como estabelecer diálogo com ele nem sequer uma discussão. Sua característica ainda prevê auto-suficiência e sempre se apresenta em posição superior e na defensiva.

Os conflitos gerados em decorrência dessas atitudes são imensos, uma vez que não se pode conceber o processo de se comunicar sem ouvir.

Infelizmente, em nosso dia-a-dia, encontramos gestores e demais profissionais que sofrem desse mal ? o não saber ouvir é mais amplo que o ato de simplesmente escutar, ouvir significa compreender o que a outra pessoa expressa, significa se aprofundar na mensagem que se transmite, é assimilar muito mais que as palavras; ouvir, muitas vezes, relaciona-se ao ato de compreender os gestos, a atitude e a própria linguagem corporal ? e ainda o próprio silêncio que deve ser analisado.

Tudo isso está relacionado à comunicação ? uma das mais complexas e difíceis tarefas humanas, sujeita à constante distorção no que se refere ao relacionamento interpessoal. Peter Drucker já dizia que o mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito.

O diferencial, seja do gestor ou de qualquer profissional, está justamente no fato de negociar ? que, em outras palavras, significa falar, ouvir, escutar, comunicar, colocar-se no lugar do outro e procurar entender a visão de mundo e os valores das pessoas com quem convive.

É interessante analisar como pessoas com a característica de ?emocionalmente surdo? têm a predisposição de não querer compreender o que o outro fala, sempre preparado para retrucar. Geralmente, denominamos pessoas com esse perfil de polêmicas ou tacanhas ou do contra, mas, no fundo, sofrem de outro mal.

A arte de ouvir requer que a pessoa ouça e fale com a voz do coração, isso não significa dizer que devamos concordar com tudo, pelo contrário, devemos apenas abrir espaço para o outro expressar sua opinião e nos esforçarmos para entender seus sentimentos e processarmos as informações, a fim de esclarecer idéias ou, quem sabe, chegar a um senso comum.

Muitas vezes, para chegar a um consenso seja com seus pares, com a equipe ou com quem quer que seja, é necessário abrir mão da vaidade e deixar o ego de lado. Para aprimorar a arte de gerenciar, temos de treinar a arte de ouvir, a qual servirá como ferramenta para a construção de comunicação eficaz e de um relacionamento interpessoal consistente.

Costumo aplicar uma dinâmica nos encontros de que participo, ela consiste em distribuir um texto de uma história, ele estará dividido em cinco partes e cada parte cabendo a cada uma das cinco equipes formadas previamente. A discussão segue horas, pois cada grupo, trabalhando individualmente, talvez com a pressa de sair na frente, sem se preocupar com o espírito de equipe e, tão pouco, de dar ouvidos aos demais grupos, acaba dando sua versão para o texto recebido. Uns defendem que a personagem da história tem uma função; outros, que tem outra, e assim sucessivamente.

Cada grupo tenta e inventa situações diversas para a história e o pior é que defendem a própria idéia como se fosse verdadeira. Esse é um exemplo típico de profissionais que não se comunicam e carregam a característica do ?emocionalmente surdo?, ou seja, não querem ouvir, entender, perder tempo para negociar e, muitas vezes, acabam tomando decisões injustas pela falta da comunicação eficaz.

Ao final da dinâmica quando descobrem que a verdadeira história da personagem está no somatório das partes que cada grupo recebeu, ficam estáticos. Alguns refletem decepcionados quando trazem o fato para a realidade do dia-a-dia, porém aqueles mais arrogantes continuam achando que estão certos, mesmo que o restante da equipe esteja contra.

Desde criança, fomos ensinados a falar e somente a falar, mas, infelizmente, não nos ensinaram a arte de ouvir e, tão pouco, a arte de negociar. Pelo fato de crescer emocionalmente surdo, o profissional ou o gestor está nadando contra a corrente evolutiva e extremamente forte da razão. Isso revela que ele não consegue perceber que sofre desse mal, mas, de qualquer forma, nossa sugestão é a de que comece a prestar atenção em sua forma de atuar em grupo.

E, para isso, convém procurar saber a imagem que provoca nas pessoas, é bom perguntar a elas se é ou não um bom ouvinte, mas esteja preparado para escutar e ouvir. Dessa forma, com certeza, surgirão novas oportunidades de crescimento pessoal e profissional e de se tornar um ser ?emocionalmente ouvinte?.

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