Entrevista com CecĂ­lia Shibuya, presidente da ABQV

Se houvesse uma pessoa para representar o conceito de qualidade de vida, ela seria CecĂ­lia Cibella Shibuya, presidente da ABQV – Associação Brasileira de Qualidade de Vida. CecĂ­lia Ă© graduada em Serviço Social pela PUC/SP, com especialização em Promoção de SaĂşde e Qualidade de Vida pela American University of Washington/DC. e especialização em Recursos Humanos pela Fundação GetĂşlio Vargas. Desde 2001 ela Ă© presidente da ABQV, em um mandato que vai atĂ© 2003. Atua tambĂ©m como diretora da Prática Consultoria Empresarial Ltda., consultoria de RH. CecĂ­lia tambĂ©m Ă© presidente da ComissĂŁo de Qualidade de Vida do IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, presta consultoria em Programas de Treinamento e Implantação de PPA – Programa de Preparação para Aposentadoria, PĂłs Carreira, Transição Profissional; Estresse, Motivação, Liderança. Possui grande vivĂŞncia em trabalhos com executivos voltados para Promoção de SaĂşde, Qualidade de Vida, Transição Profissional, PĂłs-Carreira e Dinâmica Familiar. Mas, apesar de toda essa experiĂŞncia e conhecimento, apresenta uma humildade e sensibilidade que deveria servir de exemplo para muita gente. Nesta entrevista ao Empregos.com.br, ela fala de qualidade de vida – em casa e na empresa, como lidar com o excesso de informação e muito mais. Confira!

O que é qualidade de vida e como o tema está sendo tratado hoje?
CecĂ­lia Shibuya – Qualidade de vida Ă© comunicação, Ă© o equilĂ­brio entre todos os papĂ©is que se desempenha na vida. NĂŁo adianta a pessoa estar bem fisicamente e achar que tem qualidade de vida, Ă© bem mais do que isso, envolve auto-estima, paz, meio ambiente, trabalho, estresse… No começo eu confesso que fiquei um pouco preocupada, por que o tema era tratado como comoditie, quase uma mercadoria no mundo empresarial. Mas agora as empresas estĂŁo começando a dimensionar a importância da qualidade de vida nas organizações, que alĂ©m de ser benĂ©fica para os funcionários traz muitas vantagens para a companhia tambĂ©m, pois agrega colaboradores mais felizes, mais motivados e que produzem mais e melhor. Prova dessa demanda Ă© o lançamento do VII PrĂŞmio Nacional de Qualidade de Vida, realizado pela ABQV e que teve, em 2001, a Embratel como vencedora.

Como saber se tenho ou nĂŁo qualidade de vida?
CecĂ­lia Shibuya
– Como eu já falei, qualidade de vida Ă© mais do que estar bem de saĂşde. É um conjunto de atitudes que faz vocĂŞ estar bem em todas as esferas da vida. Praticar exercĂ­cios fĂ­sicos, ter uma alimentação saudável, cultivar a espiritualidade e ter bons relacionamentos sĂŁo algumas coisas que propiciam mais qualidade de vida. É importante vocĂŞ se perguntar sempre: Que concessões tenho feito para mim? Se vocĂŞ nĂŁo se lembrar de nada que tenha feito exclusivamente por vocĂŞ nos Ăşltimos dias, como acordar mais tarde um dia, ir ao cinema no meio da semana, etc, Ă© por que as coisas andam mal, Ă© preciso repensar suas atitudes e a prioridade que dá para vocĂŞ, e nĂŁo para seu trabalho, sua famĂ­lia, ou problemas adversos que circundam a nossa vida diariamente. O segredo Ă© vocĂŞ se permitir estar bem, respeitar seus limites e encontrar alternativas para fazer as coisas que gosta, assim vocĂŞ tem qualidade de vida. NĂŁo Ă© egoĂ­smo, Ă© apenas saber gostar de si mesmo e saber ser feliz.

Fale-me um pouco sobre a missĂŁo e os objetivos da ABQV.
CecĂ­lia Shibuya
– A Associação Brasileira de Qualidade de Vida Ă© uma associação criada em 1990, sem fins lucrativos, e tem a proposta de divulgar cases de sucesso em qualidade de vida, ministrar cursos e, principalmente, mostrar que ter qualidade de vida Ă© muito importante e o tema deve ser tratado com muita seriedade e profissionalismo. Promovemos a interação e desenvolvimento de profissionais multidisciplinares voltados para atuação em Qualidade de Vida, divulgando tendĂŞncias, provocando discussões, reflexões e formando opiniões balizadoras de estilo de vida em ambientes saudáveis. Entre as atividades da entidade está o PrĂŞmio Nacional de Qualidade de Vida, que conta com a participação de empresas que tenham projetos de qualidade de vida há no mĂ­nimo dois anos. O tema do Congresso Nacional de Qualidade de Vida, que acontece agora em outubro em SĂŁo Paulo, Ă© “Ser… CidadĂŁo… Cidadania… Qualidade de Vida: Qual a responsabilidade que lhe cabe nesse contexto?”

Qual a importância da qualidade de vida nas empresas hoje? Os empresários já tem consciência dessa demanda?
CecĂ­lia Shibuya
– Sim, agora eles estĂŁo começando a perceber essa importância. Eu acho que o mais importante Ă© o empresário perceber que Ă© preciso discutir com os funcionários quais as reais necessidades deles, por que muitas vezes aquilo que o dono da empresa quer fornecer nĂŁo Ă© o que os funcionários querem. O ideal Ă© que o Departamento de RH consiga “vender” a idĂ©ia de que qualidade de vida traz muitas vantagens para a empresa, mostrando para o empresário que isso nĂŁo Ă© custo, Ă© investimento. É importante que as pessoas tenham o hábito de se exercitar no trabalho. Parar algumas vezes por dia, respirar fundo, alongar os braços e pernas, descontrair por alguns minutos com os colegas… sĂŁo pequenas atitudes, mas que melhoram a produtividade, e podem atĂ© evitar problemas futuros.

E como ele pode fazer isso?
CecĂ­lia Shibuya
– Uma boa forma Ă© implantando programas de qualidade de vida na empresa. O primeiro passo Ă© ouvir as pessoas, mapear as necessidades do grupo e fazer com que todos estejam envolvidos no processo do operário de chĂŁo de fábrica ao presidente. No PrĂŞmio da ABQV, por exemplo, a gente acompanha a empresa do começo ao fim do processo, e precebe mudanças significativas de comprometimento e comportamento. A empresa recebe uma auditoria para verificar sobre a seriedade do programa, o funcionário sente-se motivado para participar quando percebe que a coisa Ă© sĂ©ria.

O excesso de informação prejudica a qualidade de vida das pessoas?
CecĂ­lia Shibuya
– Sim, com certeza. Eu digo que Ă© preciso selecionar a demanda de informação que vocĂŞ recebe todos os dias, e ver o que vocĂŞ precisa ler realmente, e o que Ă© bobagem. Na empresa que eu trabalho combinamos que cada um lĂŞ um livro por mĂŞs, que seja de interesse do grupo, aĂ­ faz um resumo do que foi tratado na obra e repassa para os outros. Ou seja, dessa forma nĂłs ficamos por dentro do que está sendo discutido, e quem quiser se aprofundar mais em determinado assunto pega o livro para ler. E, claro, ninguĂ©m se sobrecarrega lendo pilhas de livros, que muitas vezes nĂŁo acrescentam em nada para a pessoa.

Recentemente uma pesquisa apontou que o brasileiro Ă© o 2Âş povo mais estressado do mundo, sĂł perdendo para o JapĂŁo. Como vocĂŞ explica isso?
CecĂ­lia Shibuya
– O brasileiro precisa aprender a respeitar os limites do prĂłprio corpo. Muita gente acaba jogando no trabalho suas frustrações no lado pessoal e familiar, e acaba estressado e infeliz. Outro aspecto que eu acho importante Ă© a questĂŁo da concorrĂŞncia no trabalho. As pessoas sĂŁo muito inseguras e veĂŞm o colega como um concorrente, o que traz mais stress e infelicidade. É preciso entender que se cresce na medida que se repassa o conhecimento, nĂŁo Ă© porque eu ensinei o meu colega de trabalho a fazer tal procedimento que ele vai tomar meu lugar. AlĂ©m disso, Ă© fundamental ter humildade para dizer que nĂŁo sabe e procurar ajuda.

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