Sabia que aquele era o último Dia dos Pais que passaria com ele. Meu último presente não foi comprado em um shopping e não paguei nada por ele. Aquele foi um presente do coração, da alma. O Dia dos Pais é um dia especial na vida de todos nós. Dia de dar e receber presentes, beijos, abraços e expressões de afeto.

Lembro-me perfeitamente do último presente dado ao meu pai. Em 13 de agosto de 1995, meu pai estava internado, em estado quase terminal, e perguntei a mim mesmo: “Que presente darei ao meu velho? Um pijama, uma sandália?”. Não havia opções. Meu pai já não podia mais levantar da cama, vitimado pelo câncer. Confesso que fiquei angustiado com a situação.

Com o coração pesado, me dirigi ao hospital sem nenhum embrulho nas mãos. Sabia que aquele era o último Dia dos Pais que passaria com ele. Entrei no quarto bastante triste e vi aquele semblante já muito abatido, cansado pelos anos de lutas contra a doença que consumia seus ossos. Mas logo percebi qual poderia ser o meu último presente. Sua barba, ainda por fazer, era uma oportunidade perfeita para expressar o meu afeto naquele dia especial. Com carinho, comecei fazer a barba de meu pai. Cada ato era um presente que lhe oferecia. Eu já estava acostumado com aquilo, mas naquele dia foi diferente. Depois de terminado, passei a loção, enxuguei o seu rosto, beijei sua face e falei que aquele dia era Dia dos Pais. Depois de 13 dias, meu pai veio a falecer.

Já passaram alguns anos, e aquele gesto me faz pensar que foi o presente mais significativo que dei ao meu pai. Nunca esquecerei daquela tarde, naquele quarto de hospital. O meu último presente não teve um embrulho especial, não foi comprado em um shopping e não paguei nada por ele. Aquele foi um presente do coração, da alma.

Às vezes, os melhores presentes não custam nada. Apenas um gesto de amor, um abraço gostoso, uma palavra de carinho, um silêncio solidário, um olhar de ternura, um elogio sincero. São presentes que nascem em um coração que ama.